Wellsbury Liars

Capítulo 3

É curioso como algumas pessoas têm uma facilidade admirável de adaptação. Sério! Eu me mudo a vida inteira, o tempo todo e simplesmente nunca consigo me acostumar com isso. Queria que a minha mãe conseguisse entender isso, queria que ela viesse o quão insuportável é sempre ser a menina nova na escola, nunca conseguir fazer amigos, sempre precisar se adaptar, se adaptar é uma droga! Eu só queria conseguir ficar em um lugar, morar mais tempo do que três meses e conseguir ter uma vida normal, ser uma adolescente normal. Georgia diz que Wellsbury vai ser diferente, vamos criar raízes e que eu vou amar esse lugar, mas falando sério, essa cidade parece que saiu de um comercial de margarina. Nunca tinha visto tanta gente branca e rica em um só lugar, mas eu prometi que ia dar uma chance, assim como eu fiz nas últimas três cidades que moramos. Eu amo a minha mãe, mas isso é exaustivo demais.
Chegamos na cidade faz dois dias, Georgia me matriculou na escola mais próxima de casa que, na realidade, é a única no centro na cidade tirando o primário que ela colocou o meu irmão. Não conhecemos ninguém na cidade ainda, apenas os nossos vizinhos, os Randolph, que se entendi direito são a família do prefeito da cidade. Confesso que isso me impressionou um pouco, a mulher dele, Annelise, parece tão jovem quanto a minha mãe, teve ter no máximo 33 anos e também foi mãe na adolescência, geralmente, em uma cidade como Wellsbury, ninguém elegeria um cara que teve gêmeos na adolescência, mas por algum motivo as pessoas as adoram. Não posso falar nada a respeito, não os conheço o suficiente para ter uma opinião formada sobre eles, mas parecem boas pessoas, minha mãe e Anne de um jeito estranho parecem ter se dado muito bem, já que ontem estavam bebendo na varanda da minha casa. Ela até mesmo disse que me apresentaria aos filhos, mas nenhum dos dois estavam em casa no momento.
De qualquer forma, vamos acabar nos conhecendo hoje no colégio, finalmente é meu novo primeiro dia em uma nova escola nova, eu já deveria ter me acostumado a me apresentar e seguir todo o protocolo de aluna nova, mas é sempre uma experiencia traumática, então prefiro ficar na minha e deixar tudo fluir como tem que ser, daqui a pouco a minha mãe enjoa daqui e vamos ter que nos mudar novamente mesmo.

- Porque está com essa carinha, pêssego? – Pego minha mochila no banco de trás – Você vai adorar essa escola. Eu prometo!

- Você sempre diz isso e quando eu começo a me acostumar a gente se muda, mãe.

- Eu já te falei, Ginny – Ela passa a mão no meu rosto – Vamos ficar aqui. Vamos criar raízes, quero que vocês tenham uma vida normal.

- Você promete? De verdade, mãe – Ela sorri concorda.

- Promessa de mindinho – Ela me estende o mindinho e eu rio – Vai dar certo, pêssego. Você vai ver.

Queria ter a força dela. Georgia tem algo que muitas pessoas não têm, a habilidade de enfeitiçar qualquer um com o seu sorriso e fazer parecer que você precisa dela, precisa que ela goste de você. “A beleza é uma arma, Ginny” sempre foi seu lema e ela sabe muito bem como usar isso ao seu favor, é impossível não a notar em um ambiente, ela respira e caem três aos seus pés. Queria ter esse dom também, não para ter pessoas beijando os meus pês, mas pela confiança que ela passa, não sei como consegue ser tão segura de si o tempo todo. As vezes penso que é uma armadura, um jeito de se proteger, mas ela faz parecer tão natural que é impossível não a notar.

- Tenha um ótimo dia, pêssego.

- Você também, mãe – Me despeço e caminho até a entrada do colégio.

É agora que a sessão de tortura começa. Não é pela escola em si, eu amo estudar, mas adolescentes podem ser muito cruéis e, sinceramente, eu nunca me sinto confortável perto de muitos deles, mesmo sendo uma também. Caminho em direção a secretária, preciso pegar o horário das minhas aulas e pedir para alguém me mostrar onde as salas ficam, pois, apesar de ser uma cidade pequena o colégio é enorme e eu facilmente me perderia aqui.
Assim que entro na secretaria, reconheço o rosto do garoto sentado na sala de espera rapidamente, Marcus Randolph, é um dos gêmeos da Annelise, o filho do prefeito. Geralmente, essas famílias importantes tendem a exigir uma certa postura, mas Marcus não parece ligar nem um pouco para isso, ele nem ao menos parece estar completamente sóbrio.