Sol e então de repente chuva, então de novo calor e subitamente o frio. Em um mês, Hayato Ishihara viveu o que parecia quatro estações inteiras do ano.
O jogador de vôlei profissional não imaginou que de todos os possíveis problemas, se adaptar o clima seria um deles. Quando chegou no time brasileiro, foi apresentado num evento formal para os dirigentes do clube e também os patrocinadores. Inglês era o método de comunicação principal, não esperava que alguém fosse falar japonês, entre uma palavra ou outra e mímicas ele se ajustava nos treinos. Enquanto isso, tinha aulas semanais com uma professora de português. Para tentar entender um pouco mais do novo idioma e viver uma vida mais fácil.
Fazer compras no mercado próximo ao complexo de apartamentos que morava nunca foi uma tarefa tão difícil.
Hayato reconhecia os alimentos, mas alguns condimentos eram complemente desconhecidos. Nem mesmo os famosos 'cup noodles', o que em tese seria algo que ele devia conhecer, eram um território inexplorado. Por que tinha feijão escuro na embalagem de macarrão instantâneo? Seria como azuki? Feijão doce?
Como se fosse uma tarefa muito árdua, o filho do meio da família Ishihara olhava a prateleira gigantesca intensamente tentando se decidir qual dos instantâneos iria levar para a casa. Em sua mão havia uma cesta de plástico de cor verde-escura, e dentro itens básicos para manutenção da casa — recomendados por sua professora, é claro —, frutas, verduras e carnes que eram escolhidas na base de sua aparência. Devia ter prestado mais atenção quando seu pai tentou ensiná-lo a cozinhar.
O corredor estava vazio, sempre estava vazio, ele pensava ser porque não é o tipo de comida que os brasileiros mais gostam. Mas não sabia que o verdadeiro motivo era que as pessoas achavam estranho um 'gringo' olhar tão intensamente uma prateleira de miojo.
Apenas uma pessoa aparecia por ali, sem medo. O repositor do corredor.
Os jovens que moravam nos apartamentos, passavam no mercado depois do fim das aulas pegavam os miojos como almoço e saíam deixando para trás uma baderna. Todo dia eles bagunçavam e deixavam para que o jovem José Wellington organizasse ao fim do dia. Ele poderia arrumar a qualquer hora, desde que fosse antes de finalizar seu turno, mas escolhia o fazer quando o gringo estava ali.
Apesar da origem simples, língua estrangeira sempre foi algo que ele teve interesse, até fez aulas de inglês de graça quando abriram uma oficina na prefeitura. O dia que conseguiu indicar um miojo pro gringo falando ser 'good', se sentiu no topo do mundo, até se gabou para seus primos no almoço de domingo que ajudou um estrangeiro no mercado.
Aquele era seu momento, de treinar, de provar que podia ser alguém muito maior, como supervisor!
— Desculpa, qual seu nome?
Num pulo de susto, o funcionário apertou a reposição nas mãos, apenas para ter o estrangeiro repetindo a pergunta mais devagar.
— Eu, José Wellington — respondeu.
Hayato quase se arrependeu de ter perguntado, como ele falaria aquilo? — Jyouse?
O rapaz que trabalhava no mercado, deu risada e ele se sentiu envergonhado por não ter conseguido pronunciar da maneira certa. Português é tão díficil.
— Pode ser Zé — parece que ele teve dó e encurtou o próprio nome.
— Zê — testou falar, se parecia com o som de um 'z', chegava a ser engraçado. — É um apelido?
— Sim.
— De onde você é? — o sotaque do Zê é forte, e com uma sonoridade completamente diferente do que ele conhecia, mas ainda deu para entender.
— Japão — respondeu, sendo a conversa mais longa que teve com alguém em dias Hayato colocou a cesta no chão usando gestos para se comunicar. Aquela era uma tática que percebeu funcionar bem. — Eu jogo vôlei.
Então virou a bolsa que tinha nas costas com o brasão do time.
Z, bateu uma palma e apontou levantando os dedões em seguida — Bom time! Eu gosto Dragon Ball. Meus amigos também, 'Oi eu sou o Goku'.
O funcionário do mercado juntou as mãos na posição clássica do anime, quando Hayato ficou surpreso com a quantidade de pessoas que conhecem a obra. Sempre que comentava com alguém sua nacionalidade, Dragon Ball e Pokémon apareciam no assunto.
Ele particularmente não sabia muito, mas descobriu que falar qualquer coisa negativa sobre a animação podia gerar um problema, então só acenou em resposta.
— Você sabe qual é bom? — apontou para prateleira. — Tem sabores que eu não entendo.
— Esse, esse, esse — Z apontou para alguns —, muito gostoso.
Hayato aceitou sua indicação, o rapaz era simpático, era um pouco mais baixo que ele. Pele morena, cabelos escuros, curtos e enrolados.
— Obrigado.
— De nada. — o brasileiro disse com uma voz robótica, provavelmente de tanto treinar a pronúncia.
Em algum tempo o jogador se viu rindo genuinamente, estava vivendo seu sonho, mas não significa ser fácil. Ainda não se ajustou aos seus colegas de time, na quadra profissionalmente, talvez. Mas do lado de fora se integrar ao clima é um pouco mais complicado.
Durante esse tempo vivendo no país tropical chamado Brasil, se viu conversando ainda mais com sua família do outro lado do mundo. Sua irmã, Hide, até mesmo o cunhado Sakusa estava em suas mensagens mais recentes.
Ele andou pelo mercado por mais algum tempo, apenas gastando os ponteiros do relógio. Quando passou pelo corredor dos pães, sentiu um característico cheiro de canela e a saudade bateu ainda mais forte. Valia a pena desviar de sua dieta regrada para comer um pouco de açúcar? Melhor não.
Já ficara no estabelecimento tempo demais, se dirigiu ao caixa. E tirou da bolsa uma nota de cinquenta reais para pagar suas compras, após pegar as três sacolas, partiu.
No lado de fora, já a caminho do apartamento, escutou alguém chamando em inglês. Olhou para trás apenas para de deparar com Zê correndo em sua direção.
— Seu nome, não me disse — o rapaz se apoiou nos joelhos tomando fôlego.
— Hayato — respondeu esticando a mão, parecia ser comum cumprimentar dessa maneira. Viu diversas vezes — Hayato Ishihara.
— 'Rayato' — resmungou para si mesmo. O garoto rumou pelas vestes e entregou para ele um chocolate, a mesma que ele esteve encarando na hora de ir embora.
— De um amigo.
Antes que pudesse responder alguém chamou por ele. Z acenou e correu para o lado de dentro. Hayato não teve tempo de agradecer, com um riso o homem jogou a embalagem para cima e a pegou no ar.
Agradeceria seu novo amigo brasileiro no dia seguinte.
N/A: Veio aí! AVISOS, IMPORTANTES!
Como que vai funcionar, vai ser uma coletânea de cenários. Não terá um enredo tão linear como as outras fanfics do perfil, ok? Eventualmente eles se conectam e criam uma história, mas vai ser mais solta e leve.
A princípio sem número mínimo de palavras, ou dia de postagem. Mas é pra ser curta, então vamos ver como se desenrola.
Também é uma comemoração aos 5.500 seguidores! Redamancy foi muito importante então chegou a minha hora de retribuir.
Vejo vocês na próxima!
Até mais, Xx!
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Hayato - (H.Ishihara x [Nome])
Fanfiction* SPIN-OFF DE REDAMANCY * O Ishihara do meio finalmente realizou seu sonho: o de jogar onde os melhores jogam. Mas isso não significa que é fácil se adaptar a um novo país, um clima totalmente maluco e uma nova rotina longe da família. Sorte que se...