Capítulo 3

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Agora voltamos a mencionar Montoni, cuja raiva e desapontamento, logo foram perdidos para interesses mais próximos do que qualquer um que a infeliz Emily tenha despertado. Suas depravações excederam os seus limites de costume e chegaram a um ponto, no qual nem a timidez do, então, Senado Comercial de Veneza, nem a esperança deles da assistência ocasional dele lhes permitiu serem coniventes, e foi decidido que o mesmo esforço deveria completar a supressão do poder dele e a correção de seus atos ultrajes. Enquanto uma tropa de força considerável estava a ponto de receber ordens para marchar a Udolpho, um oficial mais jovem, estimulado em parte por ressentimento por alguma ofensa recebida de Montoni, e em parte pela esperança de ganhar distinção, solicitou uma entrevista com o Ministro que dirigia a iniciativa. Ele explicou-lhe que a localização de Udolpho o tornava forte demais para ser tomado por força aberta, exceto após algumas operações tediosas; que Montoni havia, recentemente, mostrado como era capaz de acrescentar à sua força todas as vantagens derivadas da habilidade de um comandante; que um corpo de tropas tão considerável quanto o designado para a expedição não conseguiria se aproximar de Udolpho sem o conhecimento dele e que não contribuiria para a honra da república ter uma grande parte de suas forças normais empregadas, por tanto tempo quanto a tomada de Udolpho requeresse, para o ataque a um grupo de bandidos. O objetivo da expedição, acreditava ele, poderia ser alcançado muito mais segura e rapidamente misturando engenhosidade com força. Era possível encontrar Montoni e seu grupo fora de seus muros e atacá-los; ou, se aproximando da fortaleza com o sigilo consistente com a marcha de tropas menores, tirar vantagem da deslealdade, ou da negligência de alguns no grupo dele e conquistar tudo inesperadamente, mesmo dentro do castelo de Udolpho.

Esse conselho foi ouvido seriamente e o oficial que o deu recebeu o comando das tropas exigidas para o seu propósito. Conformemente, seus primeiros esforços foram aqueles de apenas estratégia. Na vizinhança de Udolpho ele esperou até ter garantido a assistência de vários dos mercenários, dos quais ele não encontrou um, a quem se dirigiu, que não estivesse disposto a punir seu líder imperialista e assegurar o seu próprio perdão do Senado. Ele também descobriu o número das tropas de Montoni e que este havia aumentado muito desde seus últimos sucessos. A conclusão de seu plano logo foi efetuada. Depois de retornar com seu grupo, que recebeu a palavra de comando e mais assistência de seus amigos lá dentro, Montoni e seus oficiais foram surpresos por uma divisão que havia sido dirigida para o aposento deles, enquanto as outras mantinham o combate leve que precedeu a rendição da guarnição inteira. Entre as pessoas capturadas com Montoni estava Orsino, o assassino que havia se unido a ele em sua primeira chegada a Udolpho, e cujo acobertamento havia sido revelado para o Senado pelo Conde Morano, após sua tentativa fracassada de levar Emily embora. De fato, foi em parte para o propósito de capturar esse homem, através de quem uma pessoa do senado fora assassinada, que a expedição foi posta em prática, e o seu sucesso foi tão aceitável para eles que Morano foi liberado imediatamente, não obstante as suspeitas políticas que Montoni, através de sua acusação secreta, havia excitado contra ele. A rapidez e facilidade com que essa transação toda foi completada a preveniu de atrair curiosidade, ou até mesmo de obter um lugar em qualquer registro publicado daquela época; tal que Emily, que permanecia em Languedoc, estava ignorante da derrota e humilhação notável de seu antigo opressor.

A mente dela estava ocupada com sofrimentos que nenhum esforço da razão havia sido capaz de controlar até então. O Conde De Villefort, que sinceramente tentava o que quer que a benevolência sugerisse para acalmá-la, às vezes lhe concedia a solidão que ela desejava, e em outras a levava para festas amigáveis e a protegia constantemente, tanto quanto possível, das perguntas astutas e da conversa crítica da condessa. Muitas vezes ele a convidava para fazer excursões consigo e sua filha, e assim tentava distraí-la gradualmente do motivo de sua dor e despertar outros interesses em sua mente. Emily, para quem ele parecia ser o amigo sábio e protetor de sua juventude, logo sentiu por ele a feição terna de uma filha, e o seu coração se expandiu para sua jovem amiga Blanche como para com uma irmã, cuja bondade e simplicidade compensavam pela falta de qualidades mais brilhantes. Passou-se um tempo antes que ela pudesse abstrair sua mente suficientemente de Valancourt para escutar a história prometida pela velha Dorothee, pela qual sua curiosidade havia se interessado tanto outrora; mas Dorothee, finalmente, lembrou-a disto e Emily pediu que ela viesse para o seu quarto naquela noite.

Os Mistérios de Udolfo (1794)Onde histórias criam vida. Descubra agora