Capítulo 9

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O Barão St. Foix, cuja ansiedade por seu amigo o havia mantido acordado, levantou cedo para perguntar pelo resultado da noite, quando, enquanto passava pelo vestiário do conde, ao ouvir passos lá dentro ele bateu na porta e esta foi aberta pelo seu próprio amigo. Regozijando ao vê-lo em segurança e curioso para saber dos ocorridos da noite, ele não teve a oportunidade imediata de ver a gravidade incomum que cobria as feições do conde, cujas respostas reservadas o fizeram perceber isso em primeiro lugar. O conde, sorrindo em seguida, se empenhou para tratar o assunto da curiosidade dele com leviandade, mas o barão estava sério e continuou suas perguntas tão rapidamente que o conde, voltando à sua gravidade, finalmente disse: "Bem, meu amigo, não pressione mais o assunto, eu lhe imploro; e deixe-me também lhe pedir que daqui em diante você fique quieto sobre qualquer coisa que você achar extraordinária em minha conduta futura. Eu não tenho escrúpulos em lhe dizer que estou infeliz e que a vigília da noite anterior não me ajudou a encontrar Ludovico; quanto a todas as ocorrências da noite, você terá que perdoar a minha reserva."

"Mas onde está Henri?", perguntou o barão com surpresa e desapontamento pela recusa dele.

"Ele está em seu próprio quarto", respondeu o conde. "Você não o questionará neste assunto, meu amigo, já que você sabe qual é o meu desejo."

"Certamente não", disse o barão, um tanto contrariado. "Já que isso não lhe agradaria; mas eu acho, meu amigo, que você pode confiar na minha discrição e deixar dessa reserva incomum. Contudo, você deve me permitir suspeitar que você viu razões para se converter ao meu sistema e não é mais o cavalheiro incrédulo que parecia ser antes."

"Não vamos falar mais nesse assunto", disse o Conde. "Você pode ter certeza de que nenhuma circunstância comum me impôs esse silêncio para com um amigo, a quem eu chamei assim por quase trinta anos; e minha reserva presente não pode lhe fazer questionar nem a minha estima, nem a sinceridade de minha amizade."

"Eu não duvidarei de nenhuma das duas", disse o barão, "embora você deva me permitir expressar minha surpresa com esse silêncio."

"Para mim eu o permitirei", respondeu o conde, "mas eu o imploro sinceramente que evite observar isso com a minha família, tal como qualquer coisa extraordinária que você observar em minha conduta para com eles."

O barão prometeu prontamente e, após conversar por algum tempo sobre assuntos gerais, eles desceram para a sala de café da manhã, onde o conde encontrou sua família com um rosto alegre e desviou de suas perguntas empregando uma zombaria leve e assumindo um ar de animação incomum, enquanto os assegurava que eles não precisavam temer nenhum mal dos aposentos norte, já que Henri e ele próprio foram permitidos voltar deles em segurança.

Henri, entretanto, teve menos sucesso em esconder seus sentimentos. Uma expressão de terror não havia desaparecido completamente de seu rosto; ele muitas vezes ficava calado e pensativo, e quanto tentava rir das perguntas ansiosas de Mademoiselle Bearn, era evidentemente apenas uma tentativa.

À noite, como havia prometido, o conde visitou o convento e Emily ficou surpresa ao ver uma mistura de zombaria brincalhona e reserva em sua menção do aposento norte. Sobre o que havia ocorrido lá, contudo, ele não falou nada, e quando ela se aventurou a lembrá-lo de sua promessa de contar-lhe o resultado de sua investigação, e a perguntar-lhe se ele havia recebido alguma prova de que aqueles quartos eram mal assombrados, o olhar dele ficou solene por um momento, então, parecendo se recompor, sorriu e disse: "minha querida Emily, não deixe que a madre abadessa contagie o seu bom discernimento com essas fantasias; ela vai lhe ensinar a esperar ver um fantasma em cada quarto escuro. Mas acredite em mim", acrescentou ele com um suspiro profundo, "a aparição dos mortos não vem com o propósito, ou com a missão brincalhona de aterrorizar ou surpreender os tímidos." Ele pausou e caiu numa reflexão momentânea, então acrescentou: "nós não falaremos mais nesse assunto".

Os Mistérios de Udolfo (1794)Onde histórias criam vida. Descubra agora