Magris A história de uma cidade

VII: Sonhando acordado

— Ele chegou há uma semana e já se julga apaixonado? — riu o tio Camilo. 

— Apaixonado? — riu Murilo. — Homens não se apaixonam. 

— Homens não se apaixonam. — Rodolfo, o capitão, virou o copinho de cachaça e olhou para os jovens. 

— Ele é besta. — Severino riu do primo. 

— Eu não sou besta. — resmungou irritado com o excesso de atenção da família e dos clientes. 

— Homem não se apaixona. — Murilo acertou um tapa forte no pescoço do jovem.

Gregório fazia uma careta e alisava o pescoço. 

— Eu só espero que seja passageiro. — o tio suspirou. — As mocinhas desta cidade são um problema. 

— As mocinhas desta cidade não são um problema. São um sonho doce. — Martin dizia altivo e contente entrando pelo bar. 

— Quando a mocinha é para a vossa condição. 

— Qual é o motivo da paixão? — se unia ao redor do balcão.

— Ele nem a conhece. 

— Como assim você está apaixonada? 

— Eu não estou. — Gertrudes tentou convencer Josefina. — Se soubesse que iria me tratar com frieza, não teria lhe contado. 

— Não me exclua de seus pensamentos. — pediu com um sorriso muito contido. — Apenas penso que não conseguiria me apaixonar com apenas um olhar. Apenas o conheceu. 

— Não é um olhar. Toda sua forma de olhar e... Vamos, Josefina não seja boba. Só comentei.

As amigas saíam da sala de aula contando uma à outra os detalhes do baile. Gertrudes não podia conter em seu peito os sorrisos que o rapaz do baile a fez ter a noite inteira.

— Então diga de uma vez, quem é a afortunada? 

— Ele nem sabe. — Severino fez piada. 

— Eu apenas sei seu sobrenome. E não me encontro apaixonado, como os senhores podem pensar. — lavava os copos tentando disfarçar o olhar. Gregório tinha a pele clara, fácil de ficar corado.