Capítulo VIII

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Agosto, 2020

Música tema do capítulo: 🎶 Devagarinho — Gilsons, Mariana Volker 🎶

Carol fitava o rosto sereno da mulher a sua frente, que ressonava tranquilamente, dormindo ao seu lado. Naquele estado, meio sonolenta, ela não entendia bem ainda se sonhava ou vivia a realidade. Mas se era um sonho, Carol não queria acordar nem tão cedo.

O cabelo loiro parecia maior e descia até a cintura, ela também parecia mais pálida que o normal, sinal que não vinha tomando muito sol recentemente. Carol correu a ponta dos dedos pelo seu braço, percorrendo as pequenas sardas que se destacavam naquela região. Sua mente viajou pelos momentos que passou imaginando quando poderia vê-la novamente... abraçar, beijar, tocar... a saudades que sentiu tinha sido diferente de todas as outras vezes.

Os meses iniciais daquele 2020 foram muito difíceis, para todo o mundo. Carol havia perdido as contas de quantas horas passou em chamada de vídeo com Anne, que estava há tantos quilômetros de distância. A angústia que aquela situação gerou era a prova de que as duas já haviam construído uma vida que não funcionava mais vivendo separadas. Então, quando Carol fez a proposta para sua amada voltar a jogar no Brasil, Anne não pensou duas vezes em fazer as malas. Ela não perdeu a primeira oportunidade de fazer uma viagem segura até o país que ela já tinha lembranças tão boas.

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Como viajante internacional, Anne precisaria cumprir alguns dias de quarentena ao chegar no Brasil. As duas haviam acordado de passar esse período juntas, em sua casa em Uberlândia, interior de Minas Gerais. E dessa forma foi feito.

A holandesa mentiu sobre a data exata que desembarcaria no Brasil, no intuito de fazer uma surpresa para Carol. A mineira, que havia passado o dia ansiosa na expectativa da chegada de Anne no dia seguinte, se preparava para dormir cedo naquela noite comum de quarta-feira. Ela saiu do banheiro distraída e quase caiu de susto ao ver outra pessoa sentada na beira da cama.

Seu coração acelerou muito rápido.

— Oi. — Anne praticamente sussurrou. Seus olhos verdes brilhavam.

Carol não conseguiu segurar a bomba de sentimentos que caíram sobre si naquele momento. As duas ficaram muito emocionadas.

— Você tá aqui mesmo? É real? — ela perguntava com os olhos marejados, enquanto segurava o rosto de Anne.

O reencontro, recomeço e reconexão aconteceu. Apesar do receio inicial, as duas logo estabeleceram o vínculo tão familiar que acontecia quando estavam juntas. Era sincronizado. Tudo. A forma como se beijavam, se apertavam, se despiam.

— Você andou malhando em casa, foi? — Carol perguntou enquanto distribuía beijos pelo abdômen sarado de sua noiva.

Baby, por favor. — Anne respondeu, impaciente. Não aguentava mais as provocações da brasileira, que deu um sorrisinho ao ouvir a reclamação.

— Eu amo você. E amo ainda mais te provocar. — Carol respondeu, continuando sua missão de distribuir beijos por todo da holandesa.

Aquela seria uma longa noite.

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Anne havia acordado há pouco tempo com um cafuné de sua namorada. Alguns raios de Sol escapavam pela cortina, indicando que o dia já havia começado. Mas as duas, que estavam de folga, ficaram pela cama conversando amenidades.

— E essa temporada? Vão fazer os jogos sem a torcida? E a gente vai ficar hospedado lá? — O assunto agora era sobre a superliga, competição que ambas iriam jogar juntas pelo Praia Clube.

— Sim, essas são as informações que tenho até o momento. Foi o que acharam de solução. Não é o ideal... mas pelo menos é alguma coisa. — Carol respondeu.

— Vai ser ótimo voltar a jogar. Tô ansiosa por isso. — Anne disse e suspirou — Jogar e estar ao seu lado ao mesmo tempo, eu não poderia querer uma vida melhor. Estou vivendo meu sonho.

— Para! — Carol segurou seu rosto, comprimindo suas bochechas.

— Para o que? — A holandesa perguntou, um pouco confusa.

— Para de ser tão perfeita. — A morena continuou, beijando o bico que tinha se formado em seus lábios.

As duas continuaram na cama por mais tempo, curtindo a presença uma da outra, até que a fome falou mais alto e finalmente levantaram para preparar a refeição. Anne havia trazido alguns doces e snacks veganos da Holanda, o que fez a barriga de Carol logo dar sinais de vida. Ela sentiu falta de ser mimada pela sua chef (particular) de cozinha preferida.

Após matarem a fome, as duas foram organizar as coisas para pegarem a estrada. Enquanto Carol lavava a louça, Anne preparava a mochila com o que seria necessário. Era meio que um acordo silencioso entre elas, Anne sempre acabava arrumando a mala das duas.

O destino da pequena viagem era uma cachoeira não muito longe da cidade, que deveria estar vazia, o que permitiria as duas aproveitarem a natureza sem mais preocupações. Quando chegaram no local, percorreram uma pequena trilha que acabava nas pedras já perto da água. Carol foi a primeira a entrar na água, seguida por Anne. A loira estava um pouco receosa de início, mas logo relaxou quando viu que o ambiente parecia ser seguro.

— É muito bonito, né? O efeito da água assim. — Carol comentou, olhando a queda d'água a sua frente.

Uhum. A água tá muito boa também. — A Holandesa respondeu e abraçou sua noiva por trás.

As duas ficaram um tempo em silêncio, apenas admirando a paisagem. Ouvindo os sons do ambiente até que a voz de Anne se fez presente.

— Você lembra quando fugiu de mim naquele dia na piscina do hotel? — Anne perguntou.

— Que hotel? Não lembro disso não... — Carol se fez de desentendida.

— Hahaha — A Holandesa debochou. — Lembra sim, você saiu correndo da piscina quando eu cheguei muito perto.

— Não lembro. E a regra é clara: se não lembro, não aconteceu. — Carol manteve a palavra firme, apesar do sorrisinho escapando pelo canto da boca.

Anne continuou provocando a namorada e, quando ela parecia não ceder, apelou para sua arma secreta: cócegas. Logo a morena confessou ter uma vaga lembrança do acontecimento, fazendo Anne sorrir satisfeita. Se tinha uma coisa que as duas tinham em comum, era a competitividade.

Após aproveitarem a água, elas foram até um local mais aberto e montaram uma mesa de piquenique improvisada com toalhas. A alimentação restrita de Carol não era um problema para Anne, tendo em vista que a holandesa já possuía uma alimentação bastante baseada em vegetais desde criança. As duas aproveitam o mini banquete vegano.

— Eu gostei daqui. Me dá uma sensação boa. Paz. — Anne comentou, se referindo não somente à cachoeira, mas também a cidade em si.

— Sim, amor. Eu achei que você ia gostar mesmo. É bem mais tranquilo que o caos do Rio. E fica mais perto da casa dos meus pais também. — Carol respondeu enquanto mordia uma fruta. — Eu vou te apresentar mais da cidade e do clube depois, quero que você se sinta bem, em casa.

— Minha casa é onde você está. — a holandesa respondeu, olhando nos olhos de Carol, que sorriu com a frase, se inclinou para frente e lhe deu um selinho.

— Promete que a gente nunca mais vai passar tanto tempo longe assim uma da outra? — Carol pediu, segurando o rosto da sua amada.

— Se depender de mim, prometo. — Anne afirmou.

As duas continuaram conversando sobre os planos que tinham para aquele ano, aquela temporada. Carol sentiu que uma nova etapa da sua vida estava se iniciando. Nunca se sentiu tão conectada a alguém assim antes. Era diferente. Dava um frio na barriga. Mas era bom. Muito bom. Se tinha uma certeza sobre seu futuro, é de que seria ao lado da mulher à sua frente.

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Notas: Oi! Não morri. Espero conseguir voltar logo por aqui :)

Amour d'or et du bronzeOnde histórias criam vida. Descubra agora