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P.O.V Anna

Eu não acredito que aquele idiota teve a capacidade de falar aquilo para mim!

"Não acredito que sua mãe é lésbica. E você ainda chama as duas de mãe, sabe que isso é impossível, né?"

É um idiota mesmo! Ele não podia falar comigo desta forma, falar das minhas mães, "É impossível ter duas mães, só uma é verdadeira."

"Eu não julgo a vida das pessoas, mas isso é meio errado, a vida só existe através de uma mãe e um pai."

Esse tipo de pessoa me irrita, não é a primeira vez que eu escuto um negocio desses, eu cresci encontrando pessoas babacas ao meu redor com esse mesmo tipo de pensamento, e sempre nos afastamos delas, minhas mães sempre disseram que não vale a pena, mas isso não me impede de ficar brava e frustrada, principalmente quando vem de alguém do meu interesse.

É incrível como nessa altura do campeonato o mundo não evoluiu nem um pouquinho no quesito caráter, eu estudo, sei como é e como já foi, mesmo não existindo uma letra para minha "categoria", por assim dizer, eu faço parte de uma comunidade considerada minoria.

Tudo isso é uma chatice, o mundo é uma chatice, a vida seria muito mais feliz se cada um cuidasse mais da sua vida e parasse de se importar com coisas que não ferem a ninguém.

- Por que você está brava? - Escuto minha mamãe perguntar, vindo logo atrás.

- Eu só me irritei - A respondo.

- E por quê? - Insiste na pergunta.

Me viro encarando as duas, que provavelmente já devem saber as respostas para suas perguntas, elas sempre sabem, e isso é muito irritante.

- O que aquele idiota te falou? - Pergunta Millie.

- Nada demais, ele só demostrou ser um idiota!

Eu não costumo falar muito disso com elas, não quero que elas fiquem tristes por coisas desse sentido, não é algo que eu acho que vale discutir.

- Filha - Sadie diz se aproximando mis - Você está triste?

- O que? Não, eu acho.

- Tem certeza?

- Sim, mãe, mas vocês não deviam ter se metido.

- Nós devíamos sim! - Fala Millie - É o nosso dever!

Não discuto, não iria adiantar, ela tinha essa mania de sempre achar que está certa, e não que eu esteja achando ruim sua preocupação, eu gostava de saber que tinha pessoas para cuidar de mim, mas que as vezes podia ser chato conviver com pessoas tipo a Millie, isso era.

É engraçado como eu tenho duas mães, amo as duas, mas a relação com elas era super diferente, a Sadie era a mãe que eu pedia conselhos; nós fazemos compras e unhas juntas; e temos conversas abertas sobre sexo e o que mais eu quiser. Já a Millie, é a divertida; nós cozinhamos e criamos nossas próprias competições; e sempre fica uma bagunça onde quer que nós duas passamos juntas; sempre com seus comentários sem graça que ela pensa que está arrasando. Essa era a nossa família, as duas a sua forma, me protegem da maneira delas, e eu amo muito tudo isso.

Na verdade, eu estava brava sim, muito brava, mas não com a forma ciumenta da Millie, e sim, porque eu queria muito dar uns beijinhos no garoto bonitinho, e ele foi muito babaca homofóbico para o meu gosto, eu estava brava com o mundo, por tudo que aconteceu até antes do meu nascimento, eu estava com muita raiva!

Eu nem tinha mais tanta certeza assim, se elas duas me amam de verdade mesmo, eu nem sei se eu me amo.

Aquele... cara... o meu... vocês sabem, o Você-Sabe-Quem, o nosso Voldemort particular, ele destruiu a imagem que eu tinha de família, me fez sentir como um fardo gigante para a vida das minhas mães, elas não deviam me amar ou se preocuparem comigo, eu nem deveria existir.

Unicórnios e Amor - SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora