parte XXXI

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Sooyoung

O início da geada marcou o sábado. O mar tempestuoso se prepara para um possível congelamento, mas a intensidade de suas ondas ainda é muito audível, o que me faz acordar sem precisar do alarme de meu celular. Na noite anterior, esqueci de fechar as cortinas e, por descuido, o quarto ficou inteiramente claro, ocasionando uma dor forte em minha retina quando abro os olhos.

Estou deitada de bruços e sinto um formigamento muito grande no braço esquerdo, este que pende para fora da cama. O ergo devagar e balanço um pouco, recolhendo-o para debaixo do edredom. Volto a observar o quarto e, a primeira visão depois da janela de vidro refletindo o mar é um vestido preto jogado ao chão. Minha mente demora pra raciocinar e se recordar de tudo o que ocorreu, mas no momento em que um lapso de memória retoma-me, arregalo os olhos.

Checo o meu corpo embaixo do edredom; não há roupas em mim. Sento-me na cama e cubro meus seios com o tecido que me aquece, observando que estou sozinha no quarto. Faço o máximo de silêncio possível ao tentar escutar algo do lado de fora; nada além do barulho do mar. Levanto-me enrolada no edredom e verifico se há alguém no cômodo. Enfim constato que estou inteiramente sozinha, o que me faz suspirar.

Retorno às pressas para o meu quarto e olho o celular; há diversas mensagens, mas só o horário que me desespera. Deixo o edredom cair de meu corpo e vou direto para o banheiro. O movimento intenso faz minha cabeça pender em dor, estou enfrentando uma ressaca daquelas! Tento agilizar no banho, não me importando em prender os cabelos para a água não molhar. Assim que finalizo, visto uma peça íntima e um vestido tubinho na cor salmão, que é o mais fácil que encontro.

Calço os sapatos de salto bege, alinho os cabelos com pressa e sorvo um pouco de água com gás, está quente e desce amarga por minha garganta. Passo a escova para lá e para cá nos dentes e lavo o rosto, enfiando o óculos de grau sem muito tempo para maquiagens. Recolho o meu celular e saio em disparada do quarto, não sabendo muito bem o que devo fazer primeiro.

Há tantas atividades que o meu cérebro falha. Preciso pegar as minhas filhas na casa de Jiwoo, passar em meu escritório, pegar meus materiais, avaliar os processos que Kahei tem de me informar, tudo no primeiro período da manhã de sábado. Em minha cabeça, eu conseguiria acordar em tempo, porém, ficar acordada a noite inteira me fez ganhar atrasos e confusão para executar minhas tarefas.

Acabo perdendo o andar mezanino e desço direto para o térreo, o que faz ir ao saguão. Estranhamente, minhas filhas estão brincando no parque com a babá, penso em ir perguntar como elas chegaram, mas não tenho tempo. Retorno para o elevador que está subindo e aperto o botão certo, parando no andar que preciso. Corro para minha sala, sentindo minhas pernas fracas e dormentes.

Enfio a mão na fechadura e assim que me jogo para dentro dela, noto a presença de Kahei acomodada na poltrona com diversos papéis em mãos. Kahei está com as pernas cruzadas em sua calça branca de cintura alta, uma blusa de gola alta e mangas longas e um blazer trespassado com fendas nas mangas, todos de mesma cor. A única tonalidade diferente são seus scarpins vermelhos, que combinam com o seu batom forte.

- Achei que não viria hoje - ela não me olha, continua concentrada nos papéis.

- Eu perdi a hora - informo constrangida, penteando meus cabelos com os dedos e fechando a porta.

- É, percebi - ela deixa os papéis sobre a minha mesa para que eu verifique. - Para a sua sorte, teremos um dia calmo, preciso que você assine uma papelada e tenho que te explicar algumas situações atuais de contrato.

- Certo - afirmo e vou para a mesa de bebidas, notando que a garrafa de vidro com café está bem quente e cheia. Suspiro aliviada e me sirvo uma xícara grande e sem açúcar, é o máximo que consigo até poder tomar um remédio contra a ressaca. - Quer café?!

the loneliest time ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora