Capítulo 3 - Deuses e mortais

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Capítulo 3 - Deuses e mortais

Arco 1 - Floresta da Eternidade


Tempos atrás, na Floresta da Eternidade. País da Água...

Antes de mim, não existia luz no mundo. Em nenhum dos mundos. Por isso, quando os humanos surgiram, me atrelaram a certos atributos para me chamar de deusa. Sempre os achei curiosos... Os tais seres humanos. Suas vidas são como um sopro, mas eles insistem em categorizar, classificar e normatizar tudo o que foge de suas limitadas compreensões. Sempre me perguntei... Por que dedicar tanto tempo de uma breve vida para tentar entender o incompreensível? Nunca encontrei uma resposta adequada.

A verdade é que jamais me importei com a maneira pela qual sou chamada por eles. Da mesma forma que um leão não leva em consideração a visão de mundo de uma formiga, aqueles chamados de "deuses", "anjos", "demônios" ou "entidades" em nada se importam com o ego dos mortais. Esses termos surgiram quando os humanos dominaram algumas técnicas básicas de comunicação, mas nós existíamos muito antes disso. Nós estávamos aqui antes e estaremos depois.

Cada cultura humana se preocupou em me chamar de uma maneira específica. Esse hábito sempre me divertiu razoavelmente porque é um tanto quanto cômico. Os pequeninos insistem em dar nomes variados para o mesmo conceito apenas porque não querem se sentir inferiores às outras tribos, outros povos e outras nações. É por isso que, desde o princípio, a humanidade estava condenada a cair perante a ascensão dos Bestiamorfos. Por quê? Bem... Naturalmente preocupados com disputas individuais, caprichos vazios e certezas prepotentes, os humanos são corruptíveis por natureza. Aprendi isso após visitar vários mundos, várias realidades, e encontrar hábitos em comum.

Certa vez, em uma realidade na qual a arte ninja já está praticamente extinta, conheci um país interessante. Para um primeiro olhar, seus habitantes pareciam receptivos, abertos para o novo e calorosos. Porém, muitos se mostraram presos a tradições sem sentido e a verdades inverídicas. Uma parte daquele povo mortal, em nome de um líder caído, quase destruiu o que diziam defender: o próprio país. Por não serem capazes de ouvir e amar o próximo de maneira genuína, eles mentiram, dissimularam, atacaram, machucaram e usaram suas supostas crenças para validarem seus atos vergonhosos. Somente os mais nefastos entre nós, imortais, poderiam representar a causa que os moviam.

Naquele mundo, os Bestiamorfos nunca surgiram. Pelo menos por enquanto... Se fosse diferente, a humanidade daquela realidade seria dizimada em um piscar de olhos. Afinal, seus povos são tão atrasados que jamais seriam capazes de superar as diferenças entre si para lutar pela legítima justiça. Seja como for, isso não importa mais... Estou aqui para uma missão, e nada mais.

O que está sobre a palma da minha mão direita é um objeto já relatado em lendas humanas variadas ao longo do Multiverso. Curiosamente, todas a batizaram da mesma forma: o Cristal da Alma. Esta pequena joia esférica parece reluzir de múltiplas formas simultaneamente. Dentro dela, há sete cores distintas que se misturam e se separam ao mesmo tempo. Sua origem é a mesma de nós, imortais: a Esfera dos Imortais. Devido a um antigo acontecimento, o Cristal da Alma caiu da dimensão habitada por nós rumo aos mundos habitados pelos humanos. Antes protegida por entidades elevadas, este item eventualmente se tornou alvo de cobiça de todas as formas de vida e de todas as formas de espírito.

Quando a encontrei, decidi dar ao Cristal da Alma o único destino possível para a segurança do Multiverso: uma vida humana. Ninguém, mortal ou imortal, poderá rastrear a presença dela enquanto estiver inserida em uma alma incorporada fisicamente. Procurei por muito tempo o receptáculo ideal, mas percebi que precisava da ajuda da Floresta da Eternidade... Este é o único lugar neste mundo em que posso me conectar a todos os pontos do Multiverso simultaneamente.

Justiça: O Pergaminho de ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora