Capítulo 16.

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Entrei naquele lugar sinistro no qual eu havia frequentado poucas vezes e que foi o motivo de mais uma briga. Não quis ser covarde é apenas ligar para saber aonde Artur estava, agi pelo instinto e intuição e tive a certeza de que ele estaria por aqui. As strippers deslizavam e subiam majestosamente pelo pole dance, a elite da cidade bebia e fazia tudo o que não podia fazer a luz do dia e na frente das pessoas, afinal, manter a postura é fundamental enquanto se esconde atrás de um mundo de vícios, drogas e traições. As alianças brilhavam, as mulheres dançavam, a música estava alta e as bebidas não paravam de serem servidas. Me direcionei a grande porta do escritório, não bati e segurei a maçaneta, senti uma mão tocar meu ombro.

— Só para o pessoal autorizado, senhorita. — disse um funcionário, disposto a me afastar dali.

— Eu sou a noiva do Artur, Artur Evans. Acho que tenho autorização. — sei um sorriso, não me incomodando com a presença dele ali, estava fazendo o seu trabalho e eu estava como uma louca com qualquer roupa que pegou no guarda-roupa ao sair atrasada de casa.

— Você e todas as outras, não é!? — falou, dando risada logo em seguida. Eu sei que as mulheres desejavam o Artur e ele era aclamado por isso, mas me senti incomodada. Não sei ouvidos e fui em frente, abri a porta e entrei, ele estava sentado em sua enorme poltrona conversando com um homem, quando me viu pareceu assustado, fiquei parada na porta esperando alguma reação. — Desculpe, senhor Evans, tentei impedir que ela entrasse, mas...

— É a minha noiva! — disse, firme, então tive a certeza que era para eu dar um passo à frente e ir em direção a Artur. — Com licença, Michael, nos falamos depois?!

— Claro, Artur. Sempre bom fazer negócios com você. — o homem negro de porte atlético sorriu, apertando a mão do Artur, assentindo com a cabeça me cumprimentando e saindo logo em seguida nos deixando a sós.

— Acho que vim me desculpar. — falei, cabisbaixa e me sentando na cadeira branca de frente para Artur.

— Acha, Chloe? Você acha? — perguntou, franzindo a testa e levando a mão até a boca, ele parecia tão desapontado que isso me angustiava. — Você me decepcionou muito, tanto por contar os nossos segredos e momentos ao meu irmão, como por esconder de mim que o bebê poderia ser dele.

— Mas Artur, eu não escondi nada! — disse, o olhando com clareza, as minhas mãos estavam trêmulas, eu odiava discutir e sabia o quão séria seria a nossa conversa por tudo que eu fiz e contei a Tyler. — O bebê era seu, nosso bebê, Hope!

— Hope deixou de ser nosso a partir do momento em que quis espalhar isso por aí. — suspirou. — Mas você pensou, não foi? Pensou que o bebê poderia ser do Tyler?!

— Eu até pensei, não vou mentir, mas sabe como sou cismada, sempre usamos camisinha e o médico falou que era super recente, não sei porque passou pela minha cabeça achar isso. E eu e você transamos sem camisinha na sacada logo quando nos mudamos, isso estava bem óbvio. Ele sempre quis ter um filho e ficou alimentando as esperanças.

— O Tyler sempre quis ter um filho? Acho que não estamos falando da mesma pessoa. O Tyler sempre quis ser livre, não viver com ninguém e para ninguém, ele jamais assumiria essa responsabilidade! — aumentou o tom de voz, talvez estivesse chateado ainda mais com o irmão. — Eu amo o meu irmão, Chloe, mas ele me traiu e ainda luta para te conquistar mais uma vez. E imaginar que vocês poderiam ter um filho, um vínculo... seria o nosso fim!

— Você também sempre quis ser livre, Artur, e quando eu te falei que havia perdido o bebê, você mudou de ideia. — levantei e caminhei em sua direção. — Eu acho que não sei nada sobre o Tyler, você o conhece melhor que eu, mas ele ficou muito abalado com o que aconteceu e precisa de alguém.

— E esse alguém precisa ser você? Chloe, você deixou de ficar comigo para cuidar do Tyler. Já se perguntou como eu me senti? Você acha que eu sou forte e não sinto as coisas pela vida que eu levava, mas não é assim que funciona. — falou, segurou o meu antebraço e olhou nos meus olhos.

— Eu quis ajudá-lo porque me senti culpada pelo o que aconteceu, Artur. — falei, quis me aproximar mais, mas Artur impedia isso. Eu tinha medo de congelar o seu coração mais uma vez.

— Você não foi culpada por isso, era um problema pendente há anos, mas você foi teimosa, tudo o que eu fiz e faço é para te proteger, e tudo que envolver a minha família e os negócios, apenas confie em mim e faça o que eu mandar. Você não conhece esse mundo, Chloe, você não conhece as pessoas. — explicou, olhei para o lado, meio envergonhada e meio culpada, em cima da mesa de Artur havia um pozinho branco, whisky, dinheiro e uma caixa de charuto. Eu percebi que realmente não conhecia esse mundo, como isso era totalmente fora da minha realidade, eu vivia em um mundo azul onde os meus amigos tomavam bebidas coloridas e fumavam cigarro com sabor de fruta, dançavam Britney Spears e se divertiam dando beijo triplo, com uma festa de pijama com pizza e muito chocolate.

— Olha o que você está fazendo, Artur... — disse, caminhei até a mesa para ver de perto e tentar acreditar, aquilo era estranho. Sentei novamente na cadeira e coloquei as mãos no rosto, respirei fundo, não queria mudar de assunto e desviar a minha culpa, mas era necessário, não podia deixá-lo tomar esse caminho mais uma vez. — Queria que ficasse longe dessas coisas, das drogas, do cigarro, eu nem sequer sei o que você faz além de ser um empresário.

— Não mude de assunto, mas também não se preocupe com isso. Eu quis ficar longe de tudo e você insistiu que voltássemos, agora está percebendo? — perguntou, se direcionando até a mesa e limpando-a, guardando tudo em uma gaveta com uma chave.

— Eu já resolvi tudo, não veremos mais o seu irmão e eu espero muito que ele encontre alguém e tire as ideias malucas sobre a gente da cabeça. — suspirei, olhei para o rosto de Artur e para as suas pupilas, ele estava tão estranho, parecia até o Artur de antigamente, só que mais frio e vazio. Senti dores chatas na barriga, se a minha vó estivesse aqui diria que era apenas gases, mas incomodava tanto! — Mas me prometa que ficará longe disso, pelo menos das drogas ou de qualquer coisa errada que está fazendo.

— O que você acha que estou fazendo, Chloe? — perguntou, arqueou a sobrancelha e coçou o nariz. — Você está certa que aquilo era cocaína, mas quando me refiro aos "negócios", são só questões das empresas, eu não estou traficando órgãos!

— Você sempre disse que era muito poderoso, Artur. — o olhei, sem entender bem e não assimilando mais o que acontecia.

— Sim, aliás, eu sou um Evans. Tenho dinheiro e muitos, mas muitos conhecidos, e de pessoas que precisam do meu dinheiro, de favores. Você acha que estou matando alguém? — deu risada, pegou o casaco atrás da cadeira e a chave do carro em cima da mesa. — Espero muito que o Tyler fique longe de você, senão vou mandá-lo de volta para a América do Sul em um navio clandestino.

Me levantei e caminhei até a porta, Artur continuo parado quando olhei para trás, ele estava estranho e não parecia ter feito as pazes após a conversa.

— Chloe... — falou.

— Você quer que eu volte de táxi, é isso? — perguntei, arqueando uma sobrancelha e o encarando. Pelo visto eu era a pessoa que merecia dormir no sofá hoje, mesmo que o sol já estivesse raiando.

— A cadeira, você... — continuou, me aproximei de Artur e da cadeira, e ela estava suja de sangue, assim como a minha roupa quando olhei para baixo.

— Meu Deus, Artur! — gritei, me desesperando. Pensei que tudo estivesse resolvido e tudo controlado com os remédios e hormônios, mas me enganei sobre os dias de paz. — Eu não quero morrer, Artur.

— Você não vai morrer, Chloe. Só se acalma, precisamos ir até o hospital. Você está sentindo alguma coisa? — perguntou, acariciando o meu braço e tirando o seu casaco para me cobrir. — Tem algo que queira me contar?

— Eu só estou... com gases, eu acho. — respondi, agoniada e sem paciência, caminhando rápido com Artur até o carro para irmos ao hospital.

Acho que fiquei tão hipocondríaca na vida, que a vida resolveu me devolver com uma doença de brinde.

Meu Amado VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora