Capítulo 2 - Uriel

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Estávamos de cabeça baixa, lápis na mão, sentados em fileiras como os humanos normalmente faziam nas escolas e faculdades. Porém todos de branco e em silêncio.

O dia de prova normalmente é um dia importante na rotina de um anjo, independente de sua posição. Alguns estudavam e se dedicavam, outros mal precisavam disso para ir bem, era natural.

Pecado meu não ter estudado antes daquele dia.

Pergunta número oito: "Quantos dias de fome um demônio aguenta sem chegar a insanidade?"

Quantos dias? Confesso que meus neurônios pareciam estar dormindo naquele momento. Eu havia tomado café, feito minha rotina impecável de todos os dias e mesmo assim não conseguia me lembrar da resposta. Logo, chutei.

"Sete dias".

Demônios podiam ser insuportáveis às vezes. Eles atrapalhavam meu trabalho e colocavam a minha coleta de almas em perigo, além da maioria que tinha um temperamento forte e uma obsessão doentia por carne. Encontrar com um deles poderia colocar um anjo indefeso em risco, mas tinhamos a sorte de sermos bem treinados e educados para lidar com qualquer tipo de situação violenta.

Assim que todos terminaram a prova, os supervisores passaram de classe em classe recolhendo os papéis.

-Acabei, irmãozinho - Falei assim que entreguei minha prova para Serafiel - Será que vou bem?

Ele tocou meu ombro sorrindo gentilmente e logo partiu para a próxima classe.

Quanto mais o tempo passava, mais as provas ficavam complexas. Tínhamos de saber todos os passos da coleta de almas e como contê-las corretamente, anatomia humana, comportamento demoníaco, termos sociais terrestres atuais, além de uma redação sobre nossas experiências na Terra.

-Uriel!!- Ouvi alguém me chamar assim que passei da porta da sala de provas para o corredor. A voz fina ecoou e pude ouvir passos rápidos - Ah, te achei!

Era uma de minhas irmãs.

-Gabriel, pensei que estava na prova também! -Eu a segurei, até porque parecia ter corrido por bastante tempo.

-Uriel nem te conto!- Estava completamente esbaforida e lutava para tirar seu cabelo longo, preto da frente dos olhos- A mãe celestial chamou a gente para uma reunião!

-O que?! Só eu e você?- Arregalei meus olhos.

-Só eu e você! Ela disse pra irmos até o último andar- Gabriel completou sorrindo, segurando no meu braço -Finalmente vamos trabalhar juntas!

Sorri de volta para ela e a abracei. Gabi com certeza era uma das minhas irmãs favoritas de toda existência e esperávamos pelo dia em que nós, duas meras arcanjos, iríamos em uma missão em dupla.

Uma tarefa dada diretamente pela mãe celestial era algo extremamente importante e que não podíamos falhar de jeito nenhum! O "Bem Maior" dependia do nosso êxito, então demos as mãos e começamos a subir pelo elevador sem olhar para trás.

-Está com medo? Sua mão tá suando- Gabriel perguntou- Até parece que nunca falou com a mamãe...

-Falo com ela todos os dias! Falei com ela esta manhã, tomamos café juntas...- Respondi com a voz trêmula - Mas é sobre trabalho! Você sabe como ela não mistura família e trabalho...

Como principal arquiteta de todas as coisas, a mãe celestial guardava uma réplica viva do planeta Terra em seu quarto, juntamente com um medidor de ambas as energias benéficas e maléficas. Era uma sala trancada a sete chaves a qual apenas a criadora tinha acesso, a famosa "Sala da Terra". Normalmente nos encontrávamos com a mamãe na sala de estar, ou na cozinha para tomar café da manhã, ou no quarto para um beijo de boa noite de todos os dias...Mas no trabalho era diferente. Querendo ou não, ser convidada para uma reunião na sala da Terra -um cômodo intocável- era uma honra para qualquer arcanjo.

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