Prólogo

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Ano 320, santuário nas montanhas de Talibor.

É sabido, desde que o mundo é mundo, que espécies diferentes estão fadadas a entrar em conflito em algum momento. O que deveria tornar os humanos diferentes seria a capacidade de resolver esses conflitos em harmonia e com civilidade.

Também é sabido que humanos não são seres civilizados.

Veja, eles gostam de fingir que sim, mas os magos sabem a verdade. Por isso, há muitos anos, quando uma aliança improvável foi criada entre magos e humanos para enfrentarem um inimigo em comum, os magos ofereceram a sua ajuda diante de algumas condições.

Primeira, depois que saíssem vitoriosos, o Reino de Veralla, lar dos humanos, deveria acabar com o banimento da magia e com as sanguinárias execuções de magos e criaturas mágicas.

Segunda, como os magos se refugiaram nas montanhas de Talibor, onde criaram um santuário para que pudessem estar entre seus semelhantes e praticar magia como bem entendessem, ficou acordado que naquele lugar não seriam aplicadas as leis de Veralla. Uma comunidade independente.

Efetivou-se o acordo e, por anos, a paz tem reinado entre todas as espécies.

Como descrever Talibor?

Um conglomerado de casebres rústicos que não segue uma organização específica, espalhados livremente pelo terreno montanhoso. O mais impressionante, na verdade, era a entrada do santuário. Escondido nas montanhas, o acesso principal era através de uma gigantesca cachoeira, que deveria ser atravessada a nado ou à barco, para alcançar a gruta cujo longo e sombrio corredor levaria para uma galeria nas pedras, onde ficavam os tais casebres. O pé direito alto atingia mais de vinte metros, e o teto da caverna deixava tudo muito escuro lá embaixo.

Por isso que, se você atravessar a galeria, desviando dos casebres e dos magos praticando sua magia, você chegará a saída oculta, que revela um vale verdejante onde os magos buscam água e cuidam dos plantios para alimentar toda a comunidade. É também lá que os magos mais jovens saem para namorar e observar as estrelas durante a noite, e podem fazê-lo sem grandes preocupações, porque as defesas que cercam o santuário são impecáveis. Os magos treinados em magia de combate rondam as montanhas e os acessos a céu aberto para se certificar de que os amigos sejam bem recebidos e os inimigos sejam mantidos afastados.

Conforme o tempo passou, mais e mais pessoas buscaram abrigo no santuário de Talibor. No começo, eram apenas magos, depois viajantes cansados e feridos. Só havia uma única regra para entrar em Talibor: se o fizer, será desarmado, porque os magos eram altruístas, não idiotas, e já tinham aprendido, há muitos anos, a não confiar cegamente nos humanos.

A mãe de Ophelia era uma das curandeiras mais respeitadas ali nas montanhas e há quem diga que ela passou o dom para os filhos (talvez seria melhor excluir Ophelia disso, ela não era nenhum prodígio com ervas, mas com feitiços, por outro lado...), por isso até mesmo se tornou um costume que os viajantes mais gravemente feridos deveriam ser levados até ela.

Ophelia ajudava como podia, levava água, comida, trocava as bandagens, até conversava com os enfermos para que não se sentissem sozinhos. Ela entrou com um balde cheio d'água no casebre reservado para os feridos e foi até o leito daquele chamado Malakai. Era um rapaz jovem e esguio, na casa dos vinte anos. Longos cabelos castanhos que estavam úmidos e presos, e os olhos azuis e maliciosos que acompanhavam um rosto bonito e uma mandíbula forte. Malakai apareceu há alguns dias pedindo ajuda com um ferimento na perna, causado enquanto caçava na floresta na base das montanhas.

Ophelia gostava de conversar com ele, achava que Malakai tinha um bom senso de humor, mesmo naquele estado, e levava jeito com as crianças curiosas que às vezes apareciam ali.

Os Seis Cavaleiros de DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora