II

18 1 0
                                    


A noite nova-iorquina era ainda mais agitada que a manhã. Esther estava no Dead Rabbit, um dos bares badalados de NY, esperando sua porção de fried chicken. Depois de estressar-se um pouco no trabalho, era uma frequente visita no pub, e os atendentes já conheciam bem a mulher de cabelos assanhados que, dia sim, dia não, pedia sua porção de frango, comia silenciosamente e ia embora.

Enquanto esperava seu pedido, Esther lia o rascunho que lhe fora dado. Chegar na metade da história não tinha sido uma tarefa tão complicada para ela. A escrita do autor fluía de forma tão natural e cativante, que parar de ler era o verdadeiro problema. Claro, alguns erros ortográficos e de sequência, mas no geral, o enredo era um dos mais interessantes que Esther lera.

Esther guardou os papéis ao ver que um rapaz se aproximava com seu frango e sua cerveja. Seu estômago já implorava por uma comida há horas.

"Aqui está, senhorita", ele sorriu, posicionando a janta na mesa.

"Obrigada!"

Depois que o rapaz se foi, Esther pegou apressadamente a enorme caneca de cerveja, pronta para dar um gole que acabaria metade do líquido, se não tivesse sido atrapalhada por uma pessoa que esbarrou o corpo em seu ombro, fazendo Esther derramar um pouco da cerveja em cima dela.

"Olha por onde anda, babaca!", Esther falou alto olhando para a pessoa que passara por ela.

A figura, aparentemente um homem, sequer olhara para trás; ele usava um moletom com um capuz que escondia seu rosto, calça jeans e um chinelo. "Para um cara com essas roupas vir ao Dead Rabbit, só pode ser parente", pensou Esther. Mas logo se arrependeu pois ela não estava em posição de julgar usando uma roupa desarrumada, molhada de cerveja.

"Vai que não é um bom dia para ele também", falou para si mesma, observando o homem de longe.

Logo ela terminou sua janta, pagou e seguiu rumo ao seu apartamento. Ao caminhar pelas ruas agitadas de Nova York, Esther pensava em como sua vida mudara depois que deixou de ter a frequente presença da mãe em seu dia. Ela pôde perceber que, na verdade, não tinha ninguém além dela; sem pai, familiares longe demais para se ter contato, e amigos casuais demais para serem chamados de íntimos. Apenas seu primo, que tinha sido uma pessoa incrível para ela mas que, claro, tem a própria vida e família para cuidar. Esther se via inteiramente sozinha e responsável por si mesma; não que fosse algo ruim, mas certamente era difícil.

Ao abrir a porta do 203, seu apartamento, a primeira visão que teve foi de seu gato, deitado confortavelmente no sofá. E, como de costume, ele miou para a dona, e voltou a dormir.

Ela sentou-se ao lado do gato e acariciou seus pelos.

"Pelo menos tenho você, Sniff", sorriu tristemente, e adormeceu sentada no sofá.

***

Esther acordou ao sentir o calor do sol entrando pela janela. Logo que começou a se mover, ela pôde sentir suas costas e membros do corpo doerem; dormir tão desconfortavelmente certamente não iria colaborar para que Esther estivesse mais disposta para o trabalho.

Olhou para o relógio em seu pulso, que marcava 7:10 da manhã. Esther levantou-se num pulo e apressou-se para o banheiro; se ela atrasasse mais um dia para o trabalho, seu primo não seria mais tão paciente.

Depois de arrumar-se, correu para a escada e, ao passar pelo corredor do andar, viu que um homem estava em frente ao elevador. Ainda que Esther não lembrasse de metade de seus vizinhos, aquele homem parecia totalmente novo, especialmente pelo fato de que ele permanecia esperando um elevador que já não funcionava há dois anos.

When I Saw Him AgainOnde histórias criam vida. Descubra agora