O início

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Todos os dias, quando ele chegava no escritório, o clima de tensão tomava conta do ambiente. É até difícil de descrever, mas parecia que todo mundo entrava em suspensão, esperando quais seriam seus próximos movimentos.

Parte disso se dava ao fato de que ninguém gostava de trabalhar com ele, não que ele fosse um mal profissional, longe disso, ele era bom no que fazia, não tão bom quanto eu, mas era bom, e talvez fosse por isso que ele ainda estava lá, trabalhando. Ele mostrava pouca simpatia quando estava à frente de um projeto e era grosseiro e estúpido, não importava com quem ele lidava. Por sorte, ele não tinha que tratar com os clientes da empresa, se não já teríamos falido. A rotatividade de funcionários que trabalhavam diretamente com ele era absurda, ninguém aguentava por muito tempo, e eu, como sua superiora, já havia recebido inúmeras reclamações.

O homem era realmente insuportável, simpático ao primeiro momento, mas depois, nossa! Tinha vontade de espanca-lo até que estivesse com o rosto todo deformado. Ele era machista e arrogante, mas, acima de tudo, era meu subordinado, e ele não estava nada feliz com isso. Fazia questão de me questionar na frente da equipe, me interrompia e tentava se sobrepor a mim sempre que podia, e isso, fazia meu sangue ferver. Ninguém naquele lugar me tirava tanto do sério como ele.

Começamos nessa empresa praticamente ao mesmo tempo, ambos como seniores, porém, depois de 4 anos, fui promovida e, agora, eu era sua diretora. Não só dele, mas do setor todo.

Para ele, eu havia roubado sua promoção, ele também estava no páreo, mas achava que o cargo já era dele muito antes de que eu fosse promovida, porém, mesmo antes disso, não perdia uma oportunidade de perturbar a minha vida.

Sua cara foi impagável quando foi oficializada a minha promoção, seu ódio e inveja eram palpáveis, afinal eu havia tomado o que ele já julgava ser seu. Logo eu, uma mulher, de 1,58 m, que nunca brigava com ninguém... na cabeça dele eu era uma songa monga, mas, infelizmente para ele, eu não era nenhum pouco boba ou ingênua.

Custei a conquistar a simpatia e a amizade das pessoas no escritório, me esforcei ao máximo, usando cada uma das suas investidas para me destruir profissionalmente como força para lutar e alcançar meu objetivo e, agora, eu estava onde eu queria estar e poderia fazer o que bem entendesse com ele, profissionalmente. Mas, sabe? Eu queria mais. Tinha ódio acumulado de todas as vezes em que eu fui motivo de chacota e de todas as vezes que ele tentou me diminuir, se engraçar e me humilhar.

Aprendi com a vida a ser paciente e calculista. Observava e agia com muita cautela, cada passo que eu dava era planejado. Aprendi a ser assim, nesse mundo corporativo não há muito espaço para gente fraca.

Agora, eu o mantinha no cargo porque tinha planos para ele.

Minha idéia inicial era colocá-los em prática logo após minha promoção, pouco antes da pandemia, mas fui pega de surpresa com o Lockdown e tive que adiá-los. Recentemente, voltamos parcialmente ao trabalho presencial e agora seria o momento de fazer meu plano se desenrolar.

Eu estava focada no trabalho quando fui arrancada dos meus pensamentos por ele, entrando em minha sala, parecendo uma manada de rinocerontes em fúria. Ele se sentou na cadeira em frente à minha mesa e desatou a falar como se estivesse dormindo comigo e não precisasse sequer dar bom dia. Esse desrespeito me incomodou profundamente.

Falava sobre seu projeto, de como as pessoas eram incompetentes, que estava tudo atrasado e a culpa não era dele, porque ele, o "Sr. Profissional", tinha feito tudo certo. O ouvi, encarando impassível, a todas as suas reclamações e aguardei pacientemente que terminasse o relato:

— Rafael, já avisei a você para não fazer isso, não quero você entrando na minha sala desse jeito e, a propósito, bom dia! Ah, claro, meu final de semana foi ótimo e eu estou bem também, obrigada por me perguntar. - falei ironicamente.

Meus planos para você - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora