Eu já estava no segundo copo de um drink de procedência duvidosa que Arrascaeta preparou para mim quando Gabriel me chamou. Vou até ele meio cambaleante, aquele podia ser o segundo copo do drink de Giorgian, mas com certeza não era o segundo copo de bebida da noite, parei de contar depois do quinto shot de tequila. Vejo o moreno em minha frente e o olho intrigada, a festa já estava quase acabando, haviam mais pessoas adormecidas pelos cantos da casa do que formigas em um formigueiro e eu não fazia ideia de como os meninos tirariam toda essa galera da casa antes do meio dia, o sol já estava começando a despontar no horizonte mas mesmo assim a música tocava em volumes absurdos, arrancando várias reclamações das casas nas proximidades.
- Preciso que você vá no banheiro do meu quarto para pegar uma coisa para mim. - Diz Gabriel, tirando o copo de bebida da minha mão e me dando uma garrafa de água.
- Você não está me colocando para pegar camisinhas de novo não né? Porque eu juro que se for eu vou furar todas. - Da última vez que Gabriel me pediu um favor o mesmo falou para eu ir até seu quarto para pegar algumas camisinhas, até aí tudo bem, mas digamos que eu tenha demorado um pouco mais do que esperado por não conseguir achar os preservativos então quando cheguei onde o mesmo estava o ato já estava acontecendo. Foi traumatizante.
- Não, só preciso que você vá lá e procure os anéis que eu esqueci lá. - Olho intrigada para meu amigo.
- E por que você não faz isso? - Questiono e ele bufa, um sinal claro de que já está ficando sem paciência comigo, algo que é na verdade bem recorrente em nossa relação.
- Porque eu preciso ajudar os meninos a tirarem essa galera da casa, lembra? A não ser que queira expulsar um monte de caras bêbados. - Dou de ombros e ele revira os olhos.
- Não vejo problema nisso, pode ir lá procurar seus anéis que eu tiro esse povo daqui. - Quando estou prestes a me virar Gabriel segura meu braço e me vira para ele.
- Pelo amor de Deus, mulher, para de complicar minha vida e vai lá em cima logo. - Ele diz e eu me dou por vencida, subindo as escadas e indo até seu quarto.
Caminho até o cômodo já conhecido por mim com certa dificuldade, tanto pela quantidade de pessoas espalhadas pelos corredores como pela bebida que ainda fazia seu efeito em meu organismo, então quando finalmente consigo entrar no quarto de meu amigo quase me ajoelho para dar graças a Deus. Me certifico de que não tem mais ninguém no quarto e vou até o banheiro para procurar os benditos anéis e então, quando adentro no local vejo que não estou sozinha, pelo contrário, estou muito bem acompanhada, João Gomes está lá e parece procurar algo também.
- O que você está fazendo aqui? - Pergunto e o rapaz se vira para mim, levemente assustado.
- O Gabriel pediu para eu procurar uns anéis dele. - Dá de ombros e eu franzo o cenho, de repente me lembrando de que os anéis estavam todos nos dedos de meu amigo, então quando me viro para a porta ouço um clique. Desgraçado.
- Gabriel, abre essa porta agora. - Bato minha mão na madeira mas ele me ignora, sei que ainda está em seu quarto pois posso ouvir as risadinhas dele e de Arrascaeta. Eles me pagam. - Gabriel eu não tô brincando, abre a porta. - Tento usar a maçaneta mas está trancada, bem como imaginei.
- Vocês só vão sair daí depois que se resolverem. - Ouço a voz do uruguaio dizer e eu só penso em todas as maneiras possíveis para matar o mesmo.
- Resolver o quê, Giorgian? - Pergunto já sem paciência, odeio esse tipo de brincadeira.
- O garoto sabe. - Diz e vai embora, sei disso pois consigo ouvir os passos de meus amigos, se é que posso chamar eles de amigos.
- O que precisamos resolver? - Questiono me virando para João, que esteve em silêncio esse tempo todo.
- Não sei, eles devem estar confundindo. - Sua voz sai com um pouco de dificuldade então o encaro novamente, sei que é normal que João fique nervoso em minha presença mas sei diferenciar seu jeito de gaguejar de quando ele está nervoso e de quando está mentindo, e nesse exato momento ele está mentindo.
- João, você está mentindo na cara dura. - Aponto e ele parece mais nervoso ainda.
- A gente pode só não falar disso agora? - Ele pergunta e eu me dou por vencida, não totalmente, claro. Sei que em algum momento teremos que tratar desse assunto que os meninos estão falando mas no momento acho que prefiro dar o espaço necessário para João.
Me sento escorada na porta e bebo um pouco da água que Gabriel me deu, na tentativa de ficar o mais sóbria possível. Observo João vir até mim e se sentar ao meu lado, em completo silêncio, se não fosse o leve roçar de sua coxa contra a minha eu nem poderia notar que ele está aqui. Passamos um tempo em silêncio e em algum momento eu acabei apoiando minha cabeça no ombro do jogador, fazendo com que ele ficasse tenso por alguns minutos mas logo em seguida relaxasse.
- Desculpa. - Sua voz está meio rouca pela falta de uso e eu me assusto um pouco, passamos o tempo todo em um silêncio absoluto.
- Pelo quê? - Pergunto, ainda com a cabeça apoiada em seu ombro.
- Isso é culpa minha, estarmos presos aqui é culpa minha. - Ele afirma e eu me endireito para olhar em seus olhos.
- Como assim? - Vejo ele suspirar e não posso deixar de notar que ele está mais lindo do que nunca hoje, mesmo após um jogo muito importante e horas sem dormir.
- Há um tempo atrás eu acabei contando para os meninos que meio que gostava de você, desde então eles fazem minha vida um inferno, insistem todo dia para que eu te conte isso mas eu não quero estragar a pouca amizade que temos, quero dizer, nunca fomos muito próximos e eu não queria estragar a possibilidade de uma amizade com maior intimidade. - Ele diz tudo de uma vez e eu o olho chocada.
- Você se sente assim há quanto tempo?
- Eu comecei a gostar de você uns quatro meses depois que nos conhecemos, então uns três anos? - Questiona e eu fico mais chocada ainda.
- E durante três anos você nunca cogitou a possibilidade de chegar em mim? - Ele nega com a cabeça e uma risada chocada me escapa. - Eu sou tão assustadora assim?
- Não diria assustadora, diria que você é intimidante. - Ele afirma e eu o encaro ainda mais chateada o que antes.
- Ah, João, muito obrigada, ajudou bastante. - Ironizo e ele nega.
- Não, calma, deixa eu explicar, eu não tenho medo de você, é só que você é tão bonita e legal que dá a impressão de ser inalcançável, você sempre lutou por seus objetivos e foi uma mulher muito forte, isso acabou me intimidando um pouco no começo, mas não mais. - Ele afirma e eu sinto minhas bochechas queimarem.
- E o que mudou?
- Agora eu conheço você um pouquinho mais de perto. - Ele afirma e eu o olho confusa. - Sei que mesmo que você seja essa mulher empoderada e independente você ainda tem milhares de outras qualidades, tipo, você é uma das pessoas mais gentis que eu conheço, sempre ajuda todo mundo que precisa, além disso é muito engraçada, simpática e sempre apoia muito o time. Eu comecei a ver as pequenas coisas que você fazia e meio que fui perdendo o medo, como quando você chorou quando o Gabriel se lesionou e ficou o tempo todo com ele, cuidando e ajudando na recuperação, ou quando os caras do time levaram os filhos pro campo e você ficou encantada, brincou com todos e saiu de lá radiante. Eu notei tudo, tudo que tinha para ser visto eu vi, cada pequeno detalhe me fez conhecer você. - Ele diz e eu sorrio.
- Então isso quer dizer que você ainda é caidinho por mim? - Dessa vez quem fica vermelho é ele e não consigo segurar a risada que sai de minha boca.
- É, um pouco. - Ele afirma e eu o encaro.
- Um pouco?
- Tá, bastante, mas não vai se achando não, hein.
- Eu? Me achar? Jamais. - Digo, analisando a proximidade que nossos rostos estão agora. E quando João nota o mesmo que eu ele se afasta levemente e se levanta.
- Bem, já nos resolvemos então agora acho que podemos sair daqui, né? - Ele pergunta nervoso e quando está prestes a chamar Gabriel eu me levanto, ficando de frente para ele.
- Não nos resolvemos não. - Observo sua feição confusa e uma risadinha me escapa. - João, você tem que ser muito sonso pra não perceber que eu também estava de olho em você há muito tempo. - Vejo a surpresa em seus olhos e uma risada me escapa. - Bem, pelo jeito a timidez impediu a gente de fazer muitas coisas ao longo desses anos, né? Mas hoje a gente vai deixar toda essa timidez de lado. - Me aproximo do jogador e coloco minha mão em sua nuca. - O que acha da ideia? - Pergunto encarando seus lábios que se abrem em um sorrisinho nervoso.
Ele não me responde, apenas quebra a distância entre nós e me beija, um beijo calmo e lento. Me afasto dele e olho em seus olhos, sempre fui apaixonada por seus olhinhos.
- E agora? O que a gente é? - Pergunta com sua mão fazendo carinho em minha cintura.
- Não sei, mas acho que deveríamos tentar algo. - Dou de ombros e sorrio quando o mais velho concorda, volto a atenção à seus lábios e quando me inclino para beijá-lo novamente a porta se abre.
- Ei, Gabriel, deu certo. - Ouço Arrascaeta dizer e escondo meu rosto na curvatura do pescoço de João.
- Xii, acho que a gente cortou o clima. - Diz Gabriel logo atrás. - Nós vamos deixar vocês sozinhos. - Antes que ele feche a porta eu me viro para o mesmo.
- Mas agora a gente não precisa mais do banheiro, precisamos do quarto. - Não preciso olhar para trás para saber que João deve estar morrendo de vergonha e que o choque em sua expressão não deve estar muito distante do que vejo no semblante de meus amigos. Solto uma gargalhada e logo puxo João para fora do banheiro, fazendo com que Gabriel e Giorgian entendam que essa é a hora de vazar. Quando estamos sozinhos novamente me viro para o rapaz atrás de mim. - Onde paramos mesmo? - Pergunto e ele sorri.
- Aqui. - Ele diz me colocando na cama e me beijando. A noite vai ser longa.