Dia 1 - Shinobu Kocho

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O homem se encontrava segurando sua companheira pilar, Shinobu, qual falava coisas que ele sequer prestava atenção.
Depois de a perseguir, sentia seus pulmões queimarem, a vontade de tossir crescia cada vez mais.
Cada espiração, se é que esses chiados podiam ser chamados assim, saiam de si e sentia seu peito apertar ainda mais.

E, em um piscar de olhos, a garota fazia um movimento, e uma lâmina surgia em frente aos olhos azuis do pilar.

"CAWWWWW MENSAGEM! MENSAGEM! NÓS TEMOS UMA NOVA MENSAGEM!"

Um corvo dizia, e a lâmina parava no ar centímetros a frente do rosto, mordia o lábio com força, queria tossir, precisava tossir.

"CONTENHAM OS COM NOME DE TANJIROU E NEZUKO. "
"E OS TRAGAM PARA O QUARTEL-GENERAL"

Dizia a ave, e continuava a falar, mas a cabeça de Giyuu não capitava as frases ditas, a vontade de tossir acabou por vencer e jogou a cabeça pra frente e uma tosse saia de modo agressivo de sua garganta, parecendo rasgar tudo.

- Tomioka-san! - a garota que a poucos segundos ele segurava agora disse, de pé ao seu lado.

Não entendia o motivo, mas então sentia um líquido e uma ardência em seu rosto.
O movimento pela tosse fez com que ele fosse de encontro com a lâmina, e acabasse com parte do lábio superior até metade da bochecha cortados.

Não escutava nada que era dito pela garota.
Focava somente naquela sensação horrível no peito, e em como não conseguia respirar.
Suas mãos iam voando para em volta do próprio pescoço, desesperado por ar.
Lágrimas caiam de seus olhos, que se misturavam com o sangue, deixando um bela cor avermelhada...
Essa coloração que sempre trazia a Giyuu tanto pavor era a única coisa que ele viu antes de sua visão escurecer totalmente

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O homem acordava, escutando vozes "cochichando" - ou tentando - próximo dele.
Levantava a mão, passando em seu rosto, sentindo curativo em parte dele.

- S-Senhor pilar da água! - olhava pro lado das vozes, três garotinhas, Nakahara Sumi, Terauchi Kiyo e Takada Naho, estavam sentadas ao lado dele - o senhor acordou!

Elas sempre se preocupavam quando o hashira aparecia ali, por algum motivo gostavam da companhia dele. Ficando feliz em "conversar" com ele.

- Você me deve algumas explicações, Senhor Tomioka Giyuu. - escutou uma quarta voz, que ele facilmente reconheceu como sendo de Shinobu.
- Não devo explicações nenhumas. - respondia prontamente, até de modo frio.
- Você começou a tossir e ficar sem ar, derepente assim? - ela falou, não tinha mais aquele sorriso em seu rosto, nem o olhar de quando zoava Giyuu - você quase morreu.

A única resposta recebida foi o silêncio.

- Você também tossiu sangue. Você não parou de fumar!?
- Eu posso parar caso eu queria.
- Então porque não para logo?
- Porque eu não quero!
- Não quer ou não consegue!? - ela disse, saindo mais alto que o previsto. Dizer que havia raiva em sua voz seria eufemismo.

Tomioka, em resposta, abanava sua mão, deixando claro que não queria conversar.

A moça mordeu de leve seu próprio lábio.
Mesmo que o tratasse do jeito que tratava, ela se preocupava com o amigo, ele era quase um irmão.
Então, vê-lo se matar lentamente assim era... Deplorável.

- Eu vou te dar alguns remédios, mas seus pulmões estão acabados, Giyuu-san. Se continuar assim você não irá conseguir mais lutar.

Disse, e aquela simples frase o acertou.
Não conseguir mais lutar significaria não poder derrotar mais demônios.
Ele iria deixar esse vício - não, não é um vício - vencer sua vontade de querer vingar a morte das duas pessoas mais queridas?

Se encontrava sozinho naquele quarto.
As paredes brancas em segundos pareciam estar sujas de sangue.
Era tudo sua imaginação dizia pra si mesmo, mas algo naquela cor o deixava pertubado.
Pertubado por uma ameaça imaginária, criada pela mente desesperada dele.

Novamente, o ar se fazia falta.
Precisava de ar.
Não, ele queria ar, oque ele realmente precisava era de um maço de cigarros.
Não, ele deve se segurar.
Iria mostrar a Kocho que ela estava errada, ele conseguia lidar com esse "vício".

Se jogava contra a cama, o nervosismo crescendo.
Sentia falta da nicotina em seu sangue.
Arranhava seu próprio pescoço, a dependência pela nicotina crescendo a cada segundo que se passava.
Então, se levantava, e andando para o lado de fora respirava profundamente.
Não tinha nenhumm maço consigo, e duvidava que Kocho ou as outras garotas teriam um cigarro consigo.

Então, uma leve batida em seu braço o despertou, Kocho estava ali, olhando pra ele, e segurava um único cigarro.

- Não pense que eu apoio isso, Giyuu-san. - Dizia, e o homem a qual ela se referia acendia o cigarro e fumava - Isso só é um pedido de desculpas por oque aconteceu antes, e eu não quero que você arranque o próprio pescoço.
- Desculpa...
- Não me peça desculpas, só pare com isso.
- Vou tentar.
- Obrigada.

Ela respondeu com o tom de voz doce, e ele não pode evitar dar uns tapinhas na cabeça dela.
Ela era sua irmã mais nova - claro que não literalmente.

Aquele cheiro de tabaco fresco, rolado em meio aos dedos longos e machucados do pilar da água, o qual puxava a fumaça o mais fundo possível em seus pulmões, sentindo um arranhão áspero no fundo da garganta, e logo depois um relaxamento, antes mesmo de soltar aquela fumaça pela boca - que agora parte dela estava enfaixada.
O homem sabia que Kocho estava certa, ele estava viciado, foi dominado pelo fumo, e não podia fazer nada sobre isso.
Iria continuar a fumar ate a morte, e não pensava em desistir de lutar por um simples "problema de pulmão".

- Eu irei sair pois não tenho interesse nenhum em permanecer fedendo a nicotina, amônia e alcatrão - a química disse, então se virou pra sair, mas antes avisou o camarada - quando terminar esse, vá tomar um banho e escove os dentes, não quero meu estado fedendo
- Sim, senhora - disse, fazendo uma continência, e recebia uma leve risada, oque deixava ele mais tranquilo. Ela não estava completamente irritada com ele.

Sendo o primeiro cigarro do dia, o sentimento era ótimo, perfeito ele diria.
O restante não passava de um ritual pra prevenir o cerebro desesperado pela dopamina liberada pela nicotina de enlouquecer.

Percebendo que seu cigarro estava no final, apagava em seu próprio pescoço, soltando um suspiro e olhando para a mancha avermelhada que surgiu em sua mão ao passá-la nas bandagens em seu rosto.

Não tinha vontade de voltar lá pra dentro, não desejava olhar nos olhos de Shinobu.
Ela sempre olhava pra ele com preocupação ao tossir, mas o zombava até não aguentar mais.

Seis Passos do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora