Esforços

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Quando se passa muito tempo a um lugar, você acaba fazendo parte dele.
É muito feroz e equilibrado, olhando e extraindo cada folha, tendo passado por diferentes aspectos
desde as mais quentes para os mais frios.
Subindo cada vez mais alto e tentado chegar ao topo, mas toda vez que encontro-me la em cima, despenco.
Ao menos se pudesse ter mais forças nos pulmões, mas talvez se trata de questões aerodinâmicas, não?
Se toda vez que tento tocar a ponta do céu só sinto o estrondo dos trovões, a inquetude que permeia meu pequeno coração
toda vez que subo, quanto mais subo, caio em frações de segundos.
As vezes só vem o branco de nuvens em pranto, a água sufoca, não consigo subir sem enxergar;
"CORAGEM" - está gravado na mente
Mais uma vez levanto o úmero esticando o carpo-metacarpo e assim voo em direção a imensidão azul, a vista é vislumbre, cada árvore tão verde,
tão vívida a folhagem despenca aproveitando o espaço que sobra na terra molhada, chuva a de cair tentando me deixar para trás, deuses desejam o pior.
Cada vez que as asas sopram com as nuvens sinto uma tonelada em minha vértebra como se rasgassem a pele e quebrando cada parte dela.
"Mais uma vez" - suplico
Com os olhos cansados e o corpo quase acabado, forço mais uma vez, voando para cima das árvores de novo, fúria que estava nas nuvens se acalmou.
Nesses suspiros que meus pequenos pulmões dão, forço mais uma vez sem medo, as batidas as asas estão mais pesadas, tentando muito subir, perdendo o equilÍbrio
Caio com as asas para baixos, húmero já esgotado, não aguento choro feito um bebê pequeno e fráGil

[FLASH DE MEMÓRIAS]

O calor do sol invadia a abertura de nosso ninho. A estrutura era cheia de finos galhos de árvores e a mamãe decorava com folhas brancas e amarelas.
Adorável era vê-la cantando ao acordar enquanto esperava a melhor hora para servir o café da manhã. O ninho era espaçoso e cabia 6 pássarinhos, mamãe e os
meus irmãos, éramos apenas seis, um número grande confesso.
Com os bicos abertos, várias minhocas e larvas servidas o papo ficou cheio.
Meus irmãos constuvam dormir depois do café da manhã, a mãe saia para buscar flores frescas quanto à mim práticava técnicas de voo.
Sair do ninho não era uma tarefa fácil, tinha que aprender a voar e o mais complicado era sobreviver na floresta, vivia um sonho que estaa longe de alcançar
por ser o mais novo não sabia como voar.
HAHAHAHAAH - os gemêos riam
Por que ainda não desistiu? - caçoaram
Bom, porque ainda não terminei de tentar - respondi rindo também
Rir era fácil, acreditar era díficil para meus irmãos, não os culpo, tinhamos tudo e o ninho era aconchegante.
Nenhum filhote pensa em sair do ninho tão cedo, por sermos frágeis e pequenos o mundo pode ser devastador para nós.
"Mais uma vez" - sufoco-me em pensamento
Abrindo as asas e esticando o carpo, movimento-as para cima e para baixo usando uma grande força para deslocar do chão
VOANDO - gritei - ESTOU VOANDO!
Ele está voando - meus irmãos ficam espantados
Agora já posso ensinar a planar - ouço mamãe sorrir se aproximando

Pisei na borda da abertura do ninho e tinha a primeira vista da luz que radiava todo dia havia uma imensidão azul acima ao olhar para abaixo a
floresta cintilava. O vento fresco envolvia-se as minhas penas as cores eram vibrante o dia encantava.
Abra as asas e estique com cuidado, mantenha firme assim que sair - orientou a mamãe
E assim fiz, manti firme...

O som dos trovões rasgavam o céu, os relampagos cortavam as nuvens. O ninho estava no topo da grande árvore, meu coração fisgou.
O vento levou o ninho e tudo que havia dentro, mamãe estourou os pulmões do tanto que gritou.
Quanto à mim?
Fui carregado contra a vontade em uma corrente de ar.

O medo se instalou por todo meu corpo,assustado sem saber aonde estava,
piava pela minha mamãe.
As vezes quando estamos em pânico não percebemos a crise, os pensamentos acelerados, a respiração
quase sem ar.
Mesmo que sentisse falta do meu ninho, da minha família, sabia que dali em diante seguiria sozinho.

Nunca fiquei acordado até tarde, mas naquele dia a noite chegou as pressas com um vento gelído
tentei voar e subir para o topo de uma árvore mais próxima, achei uma figueira jovem, não era tão grande
e ideal para mim.

A primeira vez que se apaixona é algo que arde no peito, escapa sorrisos expontâneos que aquece todo seu ser
aquela turbulência que fica na sua mente se acalma, o tempo muda ao seu redor e cada vez que olhava para os pontinhos
brilhantes me enchia de alegria.

Estrelas - ouvi uma voz ao meu lado

Como? - virei para a voz estranha

São estrelas amigo - disse o grilo

São belissímas - contemplei

Antigos diziam que eram nossa casa é para onde vão nossos seres descansam depois desse céu
Cada estrela abriga um ser, talvez um dia iremos nos abrigar nelas - disse o grilo

Você acha que podemos chegar lá em cima e ve-las brilhando lindamente como brilham agora? - perguntei com esperanças

Ninguém tentou ainda, mas talvez um dia, quem sabe. Aqui me despeço e voltarei para minha família antes que seus
sentidos custativos apareçam - zombou o grilo

O grilo desapareceu na escuridão entre as folhas do figueiro.
Não tive nenhuma vontade de apelar para meus instintos pois a única coisa que passava
em minha pequena cabeça de filhote era "como alcançar as estrelas?"

Último suspiro Where stories live. Discover now