– Adorei o novo corte de cabelo. – envio uma das fotos da matéria em seguida. Vejo-a online e aguardo uma resposta ansiosamente.
– Confesso que estou me achando muito femme fatale. – ela responde me arrancando uma gargalhada.
– Mas isso você é com qualquer visual, moça. – respiro fundo.
– Ia retribuir o elogio mas me lembrei da barba do Dom Pedro e desisti. – Mariana envia a mensagem com alguns emojis e novamente ela me faz sorrir.
– Essa doeu, Condessa. Mas, essa femme fatale está disponível hoje? – pergunto e aguardo por uma resposta que não vem. Apenas bloqueio o celular e deito no sofá, encarando o teto. Respiro fundo e fecho os olhos. Há pouco mais de um ano, eu e Mariana mantemos um tipo de relação colorida. Saíamos juntos, dividimos jantares, almoços, lanches da tarde e café da manhã, chegamos até a viajar para búzios juntos, já compartilhei relacionamentos assim e todas deram certo, até mesmo para um romântico incurável como eu. Mas com Mariana foi diferente. Quando começamos aquela relação, conversamos sobre como era algo carnal, não envolveriam sentimentos românticos, Mari havia terminado o relacionamento há pouco tempo e eu não queria me envolver com ninguém. Mas depois de dividir um dia, dois, um fim de semana inteiro com ela e perceber a sintonia que tínhamos, tornou-se inevitável não se apaixonar por ela. Assusto-me com o celular vibrando e o desbloqueio.
– Terei uma festa com todos da equipe da novela. – suspiro frustrado e enquanto digitava um "tudo bem", ela envia outra mensagem. – Mas posso ir depois, pode ser? – Como eu disse, dividimos muitos cafés da manhã. Era comum ela vir aqui ou eu ir para casa dela apenas para conversarmos, e no fim da noite dormíamos juntos, sem segundas intenções. O que era o pior dos cenários para mim, ela dormia calmamente em meus braços, eu ficava seus traços, a forma que ela franzia a testa enquanto sonhava com algo, e às vezes me arriscava em acariciar seus cabelos. No dia seguinte partilhamos a cozinha, ela acordava animada e preparava o café dançando e tentando me fazer dançar, em alguns dias ela conseguia, mas eram bem raros. Suspiro e observo a tela do aparelho.
– Você tem a chave. – respondo e ela envia apenas emojis. Nada disse, apenas retorno para a posição anterior.
Fazia um mês que não nos víamos, depois da novela, ela engatou uma viagem atrás da outra, muitas delas fora do Brasil. Conversamos quase toda semana, às vezes ela me ligava para mostrar algum ponto turístico que visitava, em outros momentos me enviava apenas fotos de paisagens, mas não falávamos nada além disso, Mariana me perguntava como eu estava e vice-versa, nada mais aprofundado. Quando ela retornou, nos vimos uma única vez antes dela viajar para a Bahia, lugar que ela passou mais de um mês. Mesmo depois de meses longe desse apartamento, o seu perfume continuava impregnado na minha cama, lençol, travesseiro, roupas, parecia um lembrete diário ou uma tortura.
Ergo meu corpo e caminho preguiçosamente até minha mesa. Com a ausência de Mariana e também como uma forma de esquecer tudo aquilo, eu foquei totalmente no trabalho, como resultado já havia desenvolvido boa parte do próximo roteiro. Leio e releio a mesma frase por diversas vezes, mas não consigo voltar com a concentração anterior. Suspiro cansado e alçando o controle. Zapeava pelos canais e desisto, abro os milhares de serviços de streaming e não me interesso por nada em nenhum deles. Lembro de Mari, lembro da série que ela me "contou" animadamente sobre os bastidores.
Flashback.
Estava sentado na bancada de sua cozinha, ela cortava algum tipo de tempero que eu não saberia dizer qual era, seus cabelos estavam presos e ela usava um avental. Eu poderia me acostumar com aquela visão diariamente.