Capítulo IX

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Arthur Stormwind


           ── Um passeio agradável à vocês. - Meu pai nos desejou após me deixar com Katherine, a jovem de expressões suavizadas e olhar doce.

O caminhar pelos corredores desta vez estaria menos apressado que o da irmã anterior, o que me aliviou, talvez me deixando menos cuidadoso com relação a conversa que viria.

           ── Peço perdão. - Enquanto eu seguia com ambas as mãos juntas atrás de mim, voltei meu rosto visivelmente confuso a princesa de cabelos longos e castanhos.  ── Por minha irmã, eu quis dizer. - Transferi a atenção à frente novamente. Despreocupado. Eu já havia lidado com situações piores até aqui. ── Não sei o que pode ter lhe dito mas... Nós adoramos o pouco que pudemos ver de seu reino.

           ── Mesmo apesar do frio e da neve cobrir todo vestígio de beleza? - Questionei em um tom minimamente brincalhão, e um riso nasal fraco partiu dela. 

           ── Mesmo assim. - Ela esteve em silêncio curtos segundos antes que voltasse a falar.            ── Veja Pandora; parece dura o tempo todo, fria demais, rígida e direta demais... Mas é como Echiron. A neve apenas cobre toda a beleza que possui. - Cessei os passos de imediato, com os olhos baixos e fixos no chão, pensativo.

           ── Parece amar muito sua irmã, julgando pela forma que fala dela. - Não foi exatamente uma pergunta, mesmo assim, ela concordou. ── Também amo minha irmã, princesa Katherine, e faria de tudo por ela. - Ela se manteve em silêncio. Mas rapidamente ergui os olhos com um pequeno sorriso em meu semblante.  ── Vossa alteza está deslumbrante hoje.

Diferentemente da irmã, esta abriu um sorriso, agradecendo o elogio antes que seguissemos o caminho novamente.


~#~


Jina Stormwind


Aquelas princesas aparentemente passariam dias no castelo, e eu não sabia se me sentia aliviada ou chateada por ter de estar trancafiada em meu quarto como as malditas mocinhas de livros. E é claro que isto seria o que teria me restado, livros. Apenas contos alheios, de outras garotas que como eu, não teriam como mover agulha sob palha para mudarem suas vidas, e que como meu irmão, teriam de se casar com alguém para saírem de suas situações.

Enquanto finalizava mais um dos contos, ouvi batidas à porta, e rolando os olhos cedi ao pedido de entrada, de imediato a moça com sotaque forte adentrou meus aposentos, me fazendo levantar da poltrona em que anteriormente lia, me mantendo o mais ereta possível.

           ── Jina querida, o que diabos são estas costas? - A mulher usou a régua de madeira que sempre portava consigo para bater ali, me fazendo endireitar mais a postura. ── Queixo reto! - Levantou meu rosto pelo queixo também com o objeto em mãos. ── Que terror você é. Está tão gorda quanto um filhote de hipopótamo.

           ── Mas senhora D'vour, eu tenho feito o que me disse. - Minha voz soou preocupada, eu não poderia estar gorda, não, jamais. Ela me encarou com escárnio, escorregando os olhos em mim, de cima a baixo. ── Tenho deixado que me façam a sangria, tenho comido pouco, eu-

           ── Não é pouco o suficiente! Como quer encantar qualquer príncipe com estas medidas? Não vê o tamanho que estão suas coxas!? Pelos Deuses garota, retiraremos as carnes de sua dieta. - Estremeci por um instante e tentei engolir o choro que já me subia a garganta. ── Vamos logo, às aulas de piano.

           ── Sim, senhora. - Assenti, passando por ela quando me cedeu o caminho até a sala de música do palácio.


...


Na volta para meus aposentos, eu já me encontrava sem companhia, assim que ultrapassei a porta da sala de música, busquei pelo soldadinho de chumbo que desta vez me escoltaria desnecessariamente. Até sentir minha visão ser barrada por mãos, mãos grandes.

           ── Quem poderia ser? - A voz masculina logo atrás de mim me lançava em tom descontraído, e então eu ri.

           ── Kaleb! - Kaleb Orwell, o único soldado que já havia sido gentil comigo dentro daqueles muros, o soldado pelo qual eu não negaria, estava completamente apaixonada. Ele retirou as mãos e então quando me virei em sua direção, fui surpreendida por um abraço caloroso, que rapidamente se desfez. ── Está maluco? Podem ter nos visto. - Alertei em tom baixo.

           ── Apenas eu estou tomando conta de você por enquanto. Johnny mandará o restante em quinze minutos. - Pisquei, e então pisquei novamente, tentando compreender.  ── Sei o que está pensando. Seu pai não sabe da alteração, eu insisti ao Johnny para que trocasse os turnos. - Meus olhos se arregalaram.

           ── Está ficando completamente louco? Meu pai te mataria. - Ele negou com a cabeça enquanto ria, parecia não se importar com o perigo.

Então senti suas mãos segurarem meu rosto dos dois lados, carinhosamente.

          ── Eu não me importo com o preço que terei de pagar, desde que eu possa lhe ver uma última vez, Jina. - Morte, eles estava falando isso de uma hipótese em que havia morte, e não a minha, jamais a minha, sempre a dele.

Me afastei, com o cenho franzido e o rosto totalmente em negação.

           ── Não faça isso, soldado. Por favor, me leve de volta a meus aposentos. - Eu pedi, com pesar na voz em ter de tratá-lo daquela forma.

           ── Sou eu quem digo, Jina não faça isso, por favor. Eu te amo, nós ainda podemos-

           ── Kaleb, é a sua vida, nós não podemos fazer algo como- 

Então vozes mais adiante acabaram por interromper, e nos demos conta de que deveríamos retornar aos papéis de princesa e soldado, não mais amantes às escondidas.





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