- Nina, pare de com isso!! - falei para a bola de pelos, que me olhou desconfiada - Se continuar mordendo o tapete, eu vou te deixar sem jantar, ouviu? Eu eim, parece que está passando fome.
Contrariada com minha interrupção, ela largou o tapete no chão e resmungando sobre como a carrocinha gosta de pegar animais teimosos, coloquei-o no cesto de roupas sujas.
Em alguns momentos me pergunto como uma criaturinha tão pequena pode ser tão bagunceira. Mas logo ouvi o eco da voz de meu pai dizendo "pare de tratar a cachorra como filha Claire, senão logo ela vai mandar em você." É pai, você não sabia o quanto estava certo.
Nina é minha companheira de apartamento, amiga e parceira de qualquer hora. Está comigo há 05 anos, desde que a encontrei em uma ninhada, que estava para doação. A bichinha é extremamente inteligente e fresca, adora um mimo da minha parte, sabe até a hora que chego do trabalho.
Falando em trabalho... anotei mentalmente que tinha que ligar para Jeremy na segunda de manhã, para que os relatórios fossem entregues dentro do prazo. Revirei os olhos ao pensar na cara gorda do meu chefe me cobrando se não fizesse o que foi pedido, e quase tropecei na Nina quando me dirigi a sala.
- Cuidado aí, filhota.
Ela bufou afrontosamente, claramente me achando patética. Nossa relação depende do humor dela, que apesar de me amar incondicionalmente, o que obviamente é recíproco, as vezes oscila para uma irritabilidade excessiva.
Bom, resumindo minha história, me mudei para Boston há 09 anos quando consegui uma bolsa na faculdade de administração. De origem Irlandesa, fui criada em um pequeno vilarejo por minha grande família. Meus pais são maravilhosos, mas eu sempre senti falta de ter espaço, já que passei a infância em meio aos meus irmãs e irmãos, por isso me mudei assim que consegui uma vaga na Universidade de Boston.
Durante a graduação ralei horrores para me manter, trabalhando em uma lanchonete. Peguei meu diploma e virei analista administrativa, o que não era bem o meu plano, mas confesso que nunca tive uma expectativa alta em relação a minha carreira profissional, que sempre enxerguei como uma ponte para a coisa que mais me importava: minha independência financeira. Com meu cargo atual, consigo me manter e ainda ajudo meus pais, o que me parece suficiente.
Servi a comida da minha ferinha indomável e ouvi o som de passos no corredor do prédio, corri silenciosamente para a porta, para observar o vizinho misterioso.
O alvo do meu interesse se mudou a cerca de 01 mês para o apartamento da frente. Ruivo, alto (juro que beira aos 2m) e perfumado, ele despertou minha curiosidade com seu jeito silencioso e charmoso. Sempre bem arrumado, creio que deve beirar os 40 anos.
Observei-o enquanto procurava a chave certa e aproveitei para analisar suas roupas, tentando absorver mais informações de sua vida, mas infelizmente não tive sucesso, pois logo ele entrou e fechou a porta atrás dele, me deixando frustrada novamente.
Como um homem bonito desse jeito poderia viver sozinho? Pelo menos eu acho que é... considerando que nunca vi ninguém o acompanhado.
E se ele, assim como eu, tiver a deixado a família em outra cidade? É uma boa hipótese.
Qual será sua profissão? Não dava para ter muita ideia, já que ele sempre chegava e saia em silêncio, sem ter uma placa na testa me dando essas informações.
Justificando meu interesse repentino e meio obsessivo, acredito que seja por eu basicamente não ter muita coisa para me entreter em meu próprio dia a dia. E não é todo dia que um homem gato desse jeito se muda para a porta de frente com a minha, sendo assim, eu não poderia perder a oportunidade de descobrir os mistérios do meu novo vizinho.
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Apartamento 87
RomansaClaire é recém separada e vive em Boston no apartamento 86. Acostumada a uma vida monótona e sem novidades, ela tem uma grande surpresa quando chega um novo vizinho no apto 87. Qual será o motivo de o novo vizinho mexer tanto com suas emoções?