Capítulo 4.

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A luz entrava por uma fresta da cortina e mirava direto no meu rosto, trazendo minha consciência de volta. Demorei para processar que aquela cama não era a minha, e abracei ainda mais o travesseiro, não disposta a voltar para a realidade após um sonho tão bom.

Ainda de olhos fechados, toquei no espaço ao lado, e senti o vazio, o que me despertou de uma vez, com o susto das lembranças do que havia acontecido. Jamie não estava ali e já havia saído há um tempo a julgar pelo lençol gelado. Me sentei na cama desnorteada e percebi que na mesinha de cabeceira havia uma rosa e um bilhete, dizendo:

"Bom dia Sassenach, precisei sair para um plantão e você dormia tão profundamente que não quis de te acordar. A noite de ontem foi incrível, espero que também tenha gostado. Fique à vontade! Deixei o café da manhã preparado para você na cozinha. Gostaria de poder passar o sábado contigo, mas infelizmente não será possível. Retorno as 20h, e se você concordar, pensei em trazer o jantar para nós. Com carinho, J.F."

Sorri e me levantei animada. Então ele tinha gostado! É claro que gostou! Eu também gostei! Caramba, ainda não consigo processar o que rolou entre nós. Mas só a lembrança do seu toque, fez minha pele queimar. Fechei os olhos trazendo as lembranças à tona e me peguei arrepiada ao recordar os olhares de paixão e das sensações indescritíveis.

Vesti a camiseta emprestada e o conhecido cheiro de perfume me inundou. Fui até a cozinha e me deparei com a bancada preparada, contendo frutas cortadas, pãezinhos, café, suco e outras variedades. Ele arrumou tudo cuidadosamente, pensando na melhor forma de me agradar.

Conseguiu, pensei, sentindo a alegria me preenchendo.

Meu celular estava na banqueta, junto com livro, há muito esquecido. Peguei-o e vi uma notificação de SMS.

"Bom dia minha Sassenach, aproveitou do café da manhã? Espero que sim! Nosso jantar está de pé? Ansioso para vê-la."

Minha, ele escreveu. E senti meu rosto corar com essa observação.

O desgraçado estava correto, pois eu me entregara de corpo a alma na noite anterior, e se ele quisesse me chamar de sua, poderia fazê-lo, sem nenhum impeditivo.

Me servi de suco e mordisquei um pãozinho antes de responder.

"Bom dia Jamie, muito obrigada pelo carinho, está tudo maravilhoso. Adorei o seu recado e respondendo sua dúvida, eu ainda estou perplexa com tudo o que rolou, mas "incrível" é uma boa definição. Gostaria de sua presença, mas sei que não é possível, então te desejo um bom dia de trabalho. Te espero a noite no meu apartamento. Beijos."

Ele visualizou em seguida, aparentemente ansioso por minha resposta.

"Guarde os beijos para depois, adorarei recebê-los a noite". - respondeu.

"Pode deixar! Todos estarão bem guardados para você.".

Invadida por um misto de sentimentos, não consegui conter um gritinho de alegria.

Mas logo fui invadida por uma sensação de medo e passei a avaliar o contexto do que havia acontecido com o que nos aguardava daqui para frente.
Olhando calmamente a noite anterior, só posso dizer que não sentia nada daquilo há muito tempo. Mas confesso que fico assustada com a intensidade das coisas e com a forma que elas caminharam rápido entre nós. E digo isso, não falando apenas do ato sexual em si, mas da sensação de segurança, confiança, intimidade... e paixão, que compartilhamos.

E se no fim das contas, ele quisesse optar pela casualidade? Será que eu saberia lidar com isso? Acho que não. Na realidade, esse foi um dos principais motivos de eu não ter me relacionado com mais ninguém até o momento, nesse período em que fiquei solteira. Fui impedida pelo medo de não saber como eu me sentiria perante a casualidade, algo tão comum atualmente. Em uma época de relações vazias visando apenas o prazer, eu sentia medo de me apaixonar e não ser correspondida. Mas eu e ele parecíamos tão alinhados... com uma sinergia tão grande! Decidi que correria o risco e esperava que ele não quebrasse meu coração.

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