uma história

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  Talvez eu seja completamente egoísta ou uma simples percepção em meio às coisas ruins desse mundo. Talvez eu seja apenas eu, ou não seja nada.

  As coisas nem sempre foram tão ruins como está agora, tive uma infância feliz, rodeada de problemas, mas nada tão grave. Eu me divertia tanto, sorria o dia todo enquanto estava em cima daquele "barco", como costumávamos chamar, era apenas dois cavaletes e algumas tábuas, mas para nós era um barco enorme em que ficávamos caçando dinossauros! É, eu costumava ser mais próxima dos meus irmãos nessa época também...

  Eu tive grandes responsabilidades logo quando me tornei adolescente, trabalhar, estudar e tentar ser o mais compreensiva e atenciosa com meu pai, ele é minha mãe estavam separados, ela não estava tão mal, mas ele... Eu tinha vontade de morrer toda vez que o via, e eu não podia fazer nada, estava tão mal por todos e por mim que logo comecei uma adolescência regrada a festas e bebidas.
  A liberdade não é mesmo? Você deve sentir que isso é maravilhoso, mas não é. Ser livre é bom, mas nem sempre. A falta de um sermão, de uma proteção, Pode ser muito ruim, imagine se toda vez que você chegasse tarde novamente ou sua mãe não te ligasse pedindo que vinhesse embora mais, você ainda se sentiria importante? Você ainda se sentiria protegido? Pense nisso.

Aos 14 anos tive uma briga com meu padrasto e minha mãe o escolheu, eu já tinha tentando um suicídio aos 13, tentei pela segunda vez... não deu. Passei por algo que não desejo para nenhum mulher, herdei o amor da minha vida, minha filha. Ela é tudo para mim, mas veio de uma situação muito ruim, no dia seguinte ao acontecido, eu passei muito mal, me sentia cada vez mais um lixo.

  Estava morando com as minha tia e primas, e mais uma vez a vida me deu um chute. Morei com um primo e sua família e também não foi uma das melhores experiências, por fim voltei para casa. No fundo eu sabia que estava grávida, mas não assumia que aquilo estava acontecendo comigo. Eu perdi amigos, perdi uma vida inteira pela frente, me perdi...
As 10:25 do dia 28 de maio de 2019, nasceu minha filha, ela que foi minha maior prioridade por dois anos, eu estava completamente esquecida de mim. Tentei retomar a vida e aos poucos fui melhorando, mas tive recaídas absurdas e tentei o suicídio pela quinta vez, sim eu voltei para casa três meses depois daquilo, estava muito mal com minha mãe ainda, mas  ela me pediu perdão e eu voltei, três dias depois ela já estava dizendo que eu era um fardo pesado que ela tinha que carregar, muitas outras coisas além de desejar minha morte, e essa foi 3° vez. A 4° foi com 6 meses de gravidez, tentei me esfaquear, mas fui impedida por minha mãe.

Depois da quinta tentativa comecei a fazer terapia, mas de nada adiantava, eu melhorava e piorava logo em seguida.  Desisti.

  Um tempo depois comecei a cair em uma profundidade terrível e fui em outra psicóloga, ela estava me tratando e eu estava melhorando, contudo, comecei um relacionamento, comecei a ter brigas com minha mãe, perdi o emprego e minha vaidade, as coisas pioraram, pioraram muito.

Dia 31/12/2022 foi minha penúltima tentativa, pois a última foi hoje, 21/01/2023...

Maria.

Cartas de uma suicida Onde histórias criam vida. Descubra agora