Cedendo

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Will não deveria chorar agora, era seu turno na enfermaria, mas estava nervoso demais com Nico. Os dois brigaram e estavam distantes, desde que se aproximaram era a primeira vez que ficavam tão separados e a culpa era de Nico, ele sabia. O garoto ainda tinha medo de se apaixonar, tinha medo de se apegar e lidar com os seus sentimentos e com os de Will. Nutria um medo absrudo da rejeição mesmo sabendo que Will o amava. Era tudo culpa da sua insegurança, do quanto se sentiu fragilizado todos esses anos.

     Ele queria odiar Nico, mas o amava e o entendia. Sabia de suas dores e o amou mesmo com todas elas. Apesar de estar cansado de sempre ceder e correr atrás ele estava disposto a mais uma vez lutar pelo garoto que amava.

     Sua cabeça estava um caos, não conseguia concentrar-se em nada. Trabalhou o dia inteiro pensando em Nico, chorou algumas vezes e desejou vê-lo desde o primeiro segundo que acordou naquele dia. Estava tão apegado a ideia de tê-lo consigo que não podia imaginar-se sem ele agora. O filho de Apolo sentia uma enorme necessidade de ver o garoto da morte. Queria encará-lo e dizer tudo que tá engasgado com as lágrimas e o choro na garganta, queria dizer que o amava e que não pretendia se afastar dele.

     O sol estava caindo no horizonte, Will podia sentir o abraço do seu pai e o quanto ele o amava quando a brisa morna do pôr do sol o atingia na varanda da enfermaria. Voltou para o escritório a fim de ajeitar suas coisas e finalizar seu turno, não tinha mais condições psicológicas de ficar ali e permanecer sã. Will sentia que precisava respirar, precisava de uma orientação divina ou, pelo menos, o abraço de um dos seus irmãos.

     Ouviu alguém entrar e pensando ser Kayla virou-se imediatamente, mas deu de cara com Nico di Angelo.

     Sua aparência não estava melhor que a de Will, seus olhos estavam fundos e avermelhados deixando claro que o garoto chorou boa parte da noite e do dia. Will travou em seu lugar, não conseguiu mover um músculo, apenas encarava o namorado.

     – Oi. – Ele disse trêmulo. 

     Will sentiu um aperto no coração por vê-lo tão triste e afetado. Queria abraçá-lo, mas tinha medo que Nico se afastasse.

     – Oi, Nico... – Ficou em dúvida entre chamá-lo pelos apelidos carinhosos.

     – Podemos conversar?

     – Claro! Quer ir para outro lugar?

     Nico acenou positivamente.

     – Me dê sua mão. – Pediu.

     Will sabia o que viria seguir, sentiu a mão gélida de Nico na sua e seu coração bateu mais acelerado. Nico entrelaçou seus dedos e apagou a luz do escritório mergulhando nas sombras. A sensação da viagem nas sombras não mudava, mas Will nunca tinha medo porque era Nico quem segurava sua mão.

     A sua visão clareou a medida que eles desaceleravam, logo a imagem se fez completa e ele percebeu aonde estavam.

     – Nico... 

     – Sei que gosta daqui.

     – Gosto, mas... 

     – Ninguém vai notar nossa ausência, estamos seguros e voltaremos logo.

     Estavam na caverna de Rachel. Desde que o Oráculo mudou de lugar e passou a "morar" nessa caverna Nico e Will se tornaram muito próximos a Rachel. Ela confiava este lugar aos dois, sabia que podia confiar neles.

     Will amava as pinturas de Rachel, a forma como ela previa e desenhar o futuro. Era um poder de seu pai que ele sempre admirou e nunca soube como desenvolver. Depois da guerra contra Gaia os semideuses passaram a treinar o desenvolvimento de poderes em todas as esferas de poder de seus parentes divinos, o que deu a todos um novo objetivo e muito trabalho.

     – Rachel não está, podemos ficar à vontade. Senta, pode favor. – Pede já sentando ao lado de Will. 

     – Olha Nico, eu... 

     – Não, Will. Dessa eu vou falar. Eu preciso falar tudo que estou sentindo, por favor.

     Will ficou quieto, não era sempre que Nico pedia para falar ou expor sentimentos, ele queria ouvir cada letra.

     Nico se ajeitou no sofá, como se escolhesse a melhor posição para dizer tudo que precisava. Ele segurou a mão de Will e o garoto sentiu o rosto corar.

     – Estamos juntos há três meses e têm sido os melhores meses da minha vida. Eu sei que sou uma pessoa extremamente difícil de lidar, cheias de traumas idiotas, nunca cedo, sou antissocial e assustador, mas eu queria pedir para não desistir de mim. – O garoto umedeceu os lábios e continuou. – Eu sou apaixonado por você, Will. Sou inseguro e acho que nunca vou merecer alguém como você, mas eu te amo e não posso viver longe de você. Eu estou cedendo e vou ceder quantas vezes forem necessárias para nunca mais ficar um dia longe de você.

     A essa altura da conversa Will já estava enxugando as lágrimas. Nico acariciava sua mão sem saber se podia abraçá-lo ou não.

     – Eu amo você, seu idiota! Eu amo você exatamente como você é. Não preciso que mude nada, só confia em mim e não desisti de nós.

     Nico tomou a iniciativa de puxar Will e o dois se beijaram depois de um dia inteiro longe e brigados. Ficaram abraçados no sofá de Rachel por algum tempo, era bom ouvir a respiração do outro sem precisar dizer nada porque não era necessário preencher o espaço, não havia vazio ali. 

     – Tá me devendo dois turnos como meu auxiliar na enfermaria.

     – Que??? Isso é um absurdo! Chantagem emocional! – Ralhou Nico fingindo raiva.

     – E se reclamar eu triplico.

     – Eu posso começar a reclamar agora? – Sussurrou Nico voltando a beijar Will.

     – Bobo. – Disse entre o beijo.

     Possivelmente notaria a ausência dos dois, mas isso não era mais uma preocupação.

Coletânea Nico di AngeloOnde histórias criam vida. Descubra agora