Meados de 2021
O sol invadia sem permissão alguma o quarto, seus raios se infiltrando por entre as frestas da cortina e deixando o quarto razoavelmente iluminado, o suficiente para que Sarah acordasse, incomodada com a claridade, não apenas isso, sua perna estava dormente, como se algo ou alguém estivesse por muito tempo deitado sobre o membro. De fato, havia alguém, cujo os olhos amendoados, despertaram atentos ao movimentar em cima da cama. Não se lembrava de ter um cachorro, e também não reconhecia aquele quarto.
Sentou-se rapidamente na cama, estava sozinha, vestindo um pijama e seus cabelos cheiravam a hortelã e maracujá, estavam limpos, conseguia sentir isso. O cenho se franziu enquanto engolia em seco e tentava ao máximo reconhecer o lugar, engolindo em seco e ainda confusa pelo sono e o despertar meio desesperado procurou alguns resquício de que talvez aquilo fosse um sequestro, não haviam em seus pulsos marcas de algemas ou amarrações, seu corpo não estava dolorido, exceto por uma dorzinha de cabeça. no entanto, os dedos trêmulos encontraram uma cicatriz poucos centímetros atrás de sua orelha, um corte longo, cicatrizado que não se lembrava de ter, que não se lembrava de ter sido curado.
— O que... — As palavras deixaram seus lábios num tom meio confuso, perdido e nervoso.Os olhos claros de Sarah buscaram pelo quarto qualquer informação, qualquer coisa que pudesse lhe fazer compreender como chegara aquela situação, encontraram sobre a mesa de cabeceira um tablet branco, a capa que cobria o aparelho diziam em uma caligrafia bonita e desenhada a frase "Bom dia, acesse-me para conhecer-te". Meio relutante ela apanhou o aparelho entre os dedos e ao ligá-lo e deslizar o dedo pela tela, um pop-up pulou diante de seus olhos.
O primeiro era uma foto, parecia ser um natal em família, já que todos usavam gorros de papai Noel e estavam em volta de uma mesa cheia de comida, a legenda trazia os dizeres " natal de 2018, casa da vovó Anne, você adorou esse dia." Mesmo confusa Sarah sentira o coração se aquecer reconhecia alguns rostos, outros não fazia ideia de quem eram, mas pelo sorriso largo e os olhos quase sumindo em meio a tanta felicidade estampada poderia dizer que eram pessoas que foram importantes.
Logo após o pop-up, um vídeo se iniciou, era uma apresentação, conforme o evento era narrado Sarah parecia entrar em desespero, seu coração acelerou, não de uma forma boa, seus lábios pareciam gelados e secos e uma onda gigantesca de pensamentos invadiam sua cabeça, como uma enxurrada de informações que impediam-na de tomar uma linha de raciocínio. Seu respirar se tornou mais rápido, e o ruído que o ar fazia ao entrar e sair de seus pulmões lhe deixava aflita, a dor em seu peito lhe informava que tinha algo errado. Meio cambaleante deixou o tablet cair no tapete fofo e se levantou, os pés descalços tocaram o piso de madeira, vacilaram por um mísero segundo, mas a necessidade de respirar fora dali era absurda, então ela continuou, meio zonza com o rosto formigando e a visão ficando turva.Tateou a parede, buscando por uma saída, o longo corredor a levou a um espaço grande conjugado entre sala e cozinha, as paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural no ambiente lhe diziam que em mais alguns passos estaria fora, poderia finalmente respirar. Sarah não parou, atravessou a sala em completo desespero, seus pulmões pareciam arder, o ar faltava e era como se só pudesse voltar a respirar quando estivesse fora. Sarah parecia tão determinada a sair que mal notou os olhos atentos lhe acompanhando até a porta.
Lauren mordiscou o canto interior de suas bochechas enquanto observava Sarah arrastar com certa dificuldade a porta de vidro liberando sua saída para o quintal, aquele não seria um dia fácil.Alguns dias eram melhores que outros, uns mais calmos e outros em que era preciso apelar para medicação, esses eram os piores dias eles sempre terminavam com Sarah dormindo no meio da tarde e com ela chorando silenciosamente enquanto abraçava seus joelhos e deixava água morna do chuveiro abafar seus soluços. Mussa trotou até ela, o médico havia sugerido que tivessem um bichinho, isso poderia ajudar com as crises de ansiedade ou com os gritos a noite, de certa forma o cachorro realmente ajudava Sarah, apenas a presença do golden retriever de dois anos e meio geralmente era o suficiente para aplacar uma possível crise, mas haviam dias em que nem mesmo as lambidas e o focinho gelado do cachorro pareciam surtir algum efeito.
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Anterograde Tomorrow| ⚢
RomanceLauren e Sarah são casadas, não existe nenhum vilão ou grande antagonista para atrapalhar suas histórias, tinham até mesmo a ex-namorada de Lauren como melhor amiga, mas o destino certamente não acha isso tão legal. Após um acidente Sarah perde a me...