Capítulo 10

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– Sua blusa é Azzedine Alaia? – perguntou a jovem que lhes indicou uma mesa.

– Não – respondeu Rangi –, mas pode se dizer que é uma autêntica peça vintage.

Kyoshi não estava interessada no que era; ela nunca mais iria usar uma daquelas peças de roupa inacabadas em público.

O laço que balançava na parte baixa de suas costas elegantes enquanto ela
caminhava quase deslizando funcionava como um ímã para os olhos de todos os homens do lugar. Kyoshi sabia que todos se imaginavam desembaraçando aquelas pontas. Ela mesmo pensava nisso. Mais de um deles deu cotoveladas no amigo ao lado, murmurando que ela era um “tesão”, e cada um deles recebeu
um olhar assassino de Kyoshi.

Mas não eram só os homens que ficavam embasbacados observando-a. As mulheres olhavam para a roupa dela com inveja e comentavam entre si que ela estava “um arraso”.

Ao mesmo tempo, várias delas olharam para Kyoshi de um jeito insinuante, num convite aberto.

No passado, ela teria apreciado esse tipo de atenção, possivelmente aceitando um ou dois daqueles convites. Agora, porém, considerava aquele interesse um vago insulto. Como se ela fosse capaz de aceitar trocar por qualquer uma delas a criatura que perseguira durante tanto tempo!

Ah, mas Kyoshi certamente apreciou que a vampira também tivesse reparado nos olhares das concorrentes.

Junto à mesa, Rangi se deteve, como se encenasse uma última cena de resistência, mas a Lykae segurou-lhe o cotovelo e a ajudou a se instalar na cabine indicada.

Quando a garçonete saiu, Rangi se sentou bem ereta com os braços cruzados e se recusou a olhar para ela. Passou um garçom com um prato chiando de tão quente e ela revirou os olhos.

– Você pode comer? – quis saber a Lykae. – Caso seja necessário? – Kyoshi começava a se perguntar se isso era possível e rezou, nesse instante, para que sim.

– Posso.

Com um tom de incredulidade, perguntou:

– Então por que não come?

Rangi a encarou com uma das sobrancelhas erguidas.

– Você pode beber sangue?

– Tudo bem, já me convenceu – respondeu a Lykae com serenidade, apesar de ter ficado desapontada. Kyoshi  adorava comida, curtia sobremaneira o ritual de compartilhar as refeições. Mesmo quando não tinha muita fome, conseguia saborear a comida com satisfação e, como todos os Lykae, nunca perdia uma oportunidade de fazê-lo. Percebeu, subitamente, que nunca poderia compartilhar uma refeição com ela, nem beber um bom cálice de vinho. Que papel ela desempenharia dentro do seu clã…?

Interrompeu as divagações. Em que Kyoshi estava pensando? Nunca conseguiria insultá-los levando-a a uma de suas reuniões.

Rangi, por fim, se recostou na cadeira, obviamente resignada por estar ali e
exibindo uma expressão educada para o rapaz que surgiu para lhes oferecer
água.

Inclinou a cabeça diante do copo, como se refletisse sobre a melhor forma de agir, e expirou longamente, fatigada.

– Por que você vive sempre tão cansada?

– Por que você vive me fazendo tantas perguntas?

Ora, então ela se tornava mais valente em público? Era como se aqueles humanos pudessem impedi-la de fazer o que lhe desse na telha.

– Se você bebeu na última segunda-feira e não tem nenhuma marca no corpo, pois se tivesse eu teria visto, de que se trata a tal condição que você mencionou?

Desejo Insaciável (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora