Alô?

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Desde aquela noite, meus olhos são vazios.

Eu saí em uma viagem de trabalho e te deixei em casa sozinha até eu voltar. A viagem foi ótima, fechei um contrato com um investidor famoso que com certeza faria muito pela empresa em que trabalho.

Eu estava no aeroporto quando recebi uma ligação sua. Fiquei extremamente feliz que poderia compartilhar o mais cedo possível o meu sucesso com você, até ouvir sua voz aterrorizada no telefone.

Automaticamente perguntei o que estava acontecendo, e o que você me disse me desesperou. Você me falou que tinha gente na casa, pessoas que invadiram a propriedade. Eles estavam armados, foi isso que você disse.

Perguntei se você estava escondida, você disse que sim. Mandei que você continuasse escondida, ligasse para a polícia e me ligasse de volta. Te assegurei que já estava voltando para casa e que tudo ficaria bem, mesmo que as lágrimas escorrendo pelo meu rosto dissessem o contrário. Era fim de tarde quando você desligou a ligação.

Corri o mais rápido que pude atrás de um táxi que me levasse para casa. Encontrei um sem passageiros na entrada do aeroporto e logo pedi que me levasse até o meu endereço. Parecia que tudo queria me impedir de chegar em casa. Todas as sinaleiras fechadas, as ruas engarrafadas. Minha mente acelerava cada vez mais, a frustração e o medo crescendo dentro do meu peito aflito.

Depois de uns cinco minutos, você me ligou de novo avisando que já havia chamado a polícia e que eles chegariam rápido. Suspirei aliviada, um pouco de esperança florescendo em meu coração. Quase compartilhei meu alívio, quando você soltou um grito tão estridente que até o motorista escutou.

Ouvi um barulho de baque, e depois apenas silêncio. A esse ponto, rios de lágrimas já desciam de meus olhos. Apressei o motorista, repeti milhões de vezes: "Alô? Alô?!", mas ninguém me respondia. Era início de noite quando desliguei a ligação.

Cheguei em casa meia hora depois e a polícia já tinha chegado. Os invasores foram presos, as fitas de contenção colocadas, "Não entre na cena do crime" eles me disseram. Eu os ignorei e corri para dentro de casa. O que eu vi me fez desabar logo na entrada.

Seu corpo sem vida deitado delicadamente em cima da mesa de jantar, as flores vermelhas do vaso que antes a decorava agora decorando o local de sua morte, a palavra "alô" repetida duas vezes na parede tingida pelo vermelho do seu sangue. 

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