Ah, a culpa.

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Quando o fim da noite chega, as meninas saem da sala aos risos. Ingrid é quem se aproxima do balcão com o dinheiro, as outras só me dão boa noite enquanto caminham para fora do Adam Point. Ouço quando Jazmyn parabeniza Adalyn pelo PENTAKILL dizendo que ela melhorou bastante jogando na rota do meio já que a sua especialidade é jogar de ADC.

"Hoje a gente fez o maior barulho, né? Desculpa por isso. Adalyn não sabe vencer sem ficar com a porra da boca fechada."

Dou risada. Queria falar que não me importei com o barulho que elas fizeram, mas a verdade é que me incomodou um pouquinho. Por diversas vezes eu cochilei sentada na cadeira e acordei no maior susto com os gritos delas, porém, local de trabalho não é lugar para dormir, então a errada sou eu e tudo certo.

"O que aconteceu com a Emily?", pergunto. Emily integrava a equipe, era a mais calada de todas, tinha cabelo azul porque era fãnzaça da Jinx. "Por que deixou a equipe? Eu gostava dela."

Gostava mesmo. Emily, muitas das vezes me acompanhava até metade do caminho para casa, parava no ponto de ônibus porque morava a quase uma hora de distância, mas pelo menos duas vezes por semana ela fazia esse esforço pela Butterfly e pelas meninas.

"É, pois é", Ingrid diz, os cabelos cacheados balançando nos ombros. "Eu também gostava, mas ela decidiu parar por causa da faculdade, para focar melhor nos estudos. Sabe como é, enfermagem é uma coisa mais séria, você vai estar lidando com a vida de alguém e essas coisas."

Assinto. "Não dá nem para ficar com raiva dela, né?"

Ingrid ri, os dentes brancos impecáveis. "Não mesmo, mas tudo bem, a gente supera. Adalyn não é ruim. Para ser honesta, ela é bem melhor que a Emily, se adapta bem em qualquer rota. Até na jungle."

Arregalo os olhos. "Nem todo mundo manda bem na jungle."

"É isso o que eu estou falando", o entusiasmo na voz dela me faz quebrar um pouco o contato visual para olhar para Adalyn. "Ela é muito boa, mas nenhuma de nós vai falar isso para ela. Não se pode encher o ego de uma jogadora de League of Legends, a não ser que queira criar um monstro."

Aponto com o queixo para Jazmyn, que está fazendo totalmente ao contrário. "Acho que a Myn discorda."

"Porra, Jazmyn!", Ingrid grita e dou uma gargalhada. "Você não dá uma dentro, cara!"

Jazmyn se vira e Adalyn começa a rir como se soubesse exatamente do que Ingrid está falando. Me pergunto se ela estava ouvindo a nossa conversa.

"Quê que eu fiz?", Jazmyn pergunta, visivelmente confusa.

"Vamos logo embora!", me inclino no balcão para dar um abraço em Ingrid. "Nós nos vemos na próxima semana, Carrie."

Sorrio. "Se Deus quiser."

Vejo as meninas irem embora, mas escuto quando a porta volta a se abrir de novo e olho na direção dela, de Adalyn. De repente me sinto nervosa, nem consigo pensar a respeito do que faria ela dar meia-volta para vir falar comigo, talvez tenha esquecido alguma coisa dentro da sala e voltou para buscar.

"Você não perguntou por que eu não mandei mensagem hoje de manhã", Adalyn diz, o que me faz lembrar da nossa conversa na noite anterior. "Por que não perguntou?"

"Era para eu ter perguntado?", ela assente sem nem levar um tempo para piscar. Comprimo os lábios para conter o sorriso, a sinceridade dela é fofa. "Passamos a noite toda falando do meu falecido marido. Não ter uma mensagem sua no dia seguinte deixou bem claro o quanto a conversa foi ruim."

Adalyn se aproxima do balcão, apoia os cotovelos em cima e balança a cabeça. "Fui eu quem perguntou sobre ele."

"É, e eu não mudei de assunto pelas próximas oito horas seguidas. Com certeza você teria aproveitado o seu tempo fazendo qualquer outra coisa que não fosse ouvir uma viúva falar sobre o marido morto dela."

Mandou bem, Carrie. É isso aí! (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora