Dois contra um.

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"Tá brincando, né? Você não vai vestir isso", Laura pega o vestido das minhas mãos e joga em cima da cama. "Parece que era da minha avó."

Ela vai até o meu guarda-roupa, confere todas as roupas que tenho lá dentro, tira algumas dos cabides, outras das gavetas e solta um gritinho quando encontra o vestido que usei da última vez que saí para jantar com o Adam. Óbvio que ela não sabe disso e nem eu digo a ela para não deixar a situação ainda mais constrangedora. Forço um sorriso quando ela me mostra a peça que eu devo usar para ir a palestra que Adalyn me convidou.

"Esse", diz com convicção. "Esse aqui vai ficar perfeito em você."

"Tem anos que não uso esse vestido", digo a ela, pegando-o das suas mãos. "Nem sei se ainda entro nele."

Sei que ainda cabe em mim, talvez com mais facilidade que antes, pois desde a morte de Adam, eu emagreci muito. Acontece que, quando você perde alguém que ama, você passa a perceber como a vida é insignificante, tudo meio que perde a graça o tempo todo. De repente, você já não fica tão empolgada em comer a sua comida preferida, não vê graça nenhuma em ir para aquele lugar que você adorava, já não sente a nostalgia em assistir pela milésima vez o filme ou a série que antes era o lugar de conforto. E a música que você adorava, aquela que te trazia as melhores lembranças e fazia o seu peito querer explodir de tanta felicidade, agora só lhe dá um desconforto no estômago, um coração apertado e uma tremenda vontade de chorar.

Não importa o quanto tente seguir em frente, não dá para esquecer o que antes você fazia com aquela pessoa e agora precisa fazer sozinha porque ela não está mais com você. Ela se foi e você tem que aceitar isso ou pelo menos fingir, porque o que ninguém sabe é que você só está esperando a morte chegar para te levar embora também.

"Experimenta", Laura incentiva, me empurrando para o banheiro. "Anda logo."

Coloco o vestido cor rosa-salmão com um decote em V bem profundo, meus seios ficam bem empinados e bonitos por causa do sutiã de bojo. Laura solta um assovio quando me vê e dou uma olhadinha no espelho para conferir se estou tudo isso mesmo. E caramba, fico chocada com o meu próprio reflexo, fazia tempo que eu não me sentia atraente. Laura esfumou meus olhos e fez a maquiagem, é bem levinha, mas já fez uma baita diferença.

"Sei lá, você não acha que eu estou produzida demais para uma palestra?", eu pergunto.

"Não, você está linda. Adalyn vai ficar de queixo caído quando te ver."

"Argh", respondo, encolhendo os ombros. "Vai parecer que eu quero que ela dê em cima de mim."

"Não é isso o que estamos tentando fazer?"

"Ela tem vinte e dois anos, Laura. Mal viveu a vida, está na faculdade e nas horas vagas frequenta o Adam Point para jogar com as amigas."

"O que isso tem a ver?"

"Ela é uma criança", retruco.

"Para com isso e vai viver a vida. A garota é maior de idade e está afim de você. Não vejo nenhum problema nisso, ninguém está infringindo a lei por aqui."

Sei que estou me preocupando demais com a diferença de idade entre eu e Adalyn, praticamente surtando com isso, mas é bem difícil não dar a mínima quando me dou conta de que tenho idade para ser a mãe dela.

"Acho que estou exagerando, né?", digo.

Laura ri. "Pois é, estou tentando te dizer isso tem um tempinho, mas você não me escuta. Vem, vou te dar uma carona até o colégio."

"Tá, deixa só eu passar batom."

Laura caminha até a porta do quarto, mas para com a mão na maçaneta. "Qual vai usar? O vermelho-boquete?"

Mandou bem, Carrie. É isso aí! (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora