O mundo parece que está começando a entrar em foco agora, nesse momento, pois nunca me senti tão normal desde a morte de Adam. É sexta-feira à noite, Laura está no Adam Point, o Dylan está jogando com os amigos dele lá na sala dos computadores e eu estou rindo com um pote de sorvete bem na minha frente.
Laura atravessa a porta com duas sacolas de papel nas mãos, foi a terceira vez que saiu para comprar comida pra gente. Ela senta ao meu lado no chão, tira o hambúrguer de dentro e abre a embalagem. "Sinta o cheiro disso."
Eu cheiro e reviro os olhos. "Me dá logo o meu."
Ela me entrega a outra sacola de papel e tiro o meu hambúrguer de dentro, a essa altura, não dou mais a mínima para o pote de sorvete. Nada supera o hambúrguer da dona Lurdes.
"Juro, eu sobreviveria comendo isso aqui pro resto da minha vida."
Acho graça, porque eu também faria isso, por mais que me gerasse mil problemas de saúde depois. "Gostei dele, sabe. Do Dylan. Seu namorado."
Laura dá uma mordida no hambúrguer dela, assentindo com a cabeça. "É importante para mim saber disso, você sabe, né?"
"Eu sei", respondo, mastigando um pouco mais rápido para poder dizer: "Acho que ele gostou de mim também."
"É óbvio que gostou, você deixou aquele bunda-mole jogar aqui."
Nós duas rimos.
"Pois é, mas foi só porque a namorada dele me pediu. Caso contrário, eu estaria em casa agora, de preferência em cima da minha cama."
Laura me dá um empurrãozinho no ombro. "Trepando com a Adalyn?"
Sim, eu queria estar trepando com ela, mas desde o dia da palestra que a gente não tem se visto muito. Por causa da faculdade, Adalyn passa a maior parte do tempo ocupada, então só trocamos mensagens nas últimas semanas. Apesar disso, não sinto como se estivéssemos distantes uma da outra, pelo contrário, me sinto cada vez mais próxima dela. Trocamos mensagens o tempo todo e às vezes ela até me liga só para me desejar boa noite.
Sinto como se tivesse meus quinze anos de novo, mas dessa vez sem a minha mãe pegando no meu pé para saber com quem tanto converso.
"Sei que digo que você precisa transar e tal, mas, sabe, fico feliz de te ver empolgada assim com alguém. Desde a morte do Adam que eu não te vejo... bem, entende. De verdade. Não te via bem de verdade há muito tempo."
Olho diretamente para ela, pois sei o que ela está querendo dizer. Eu me trancava em casa, não abria o Adam Point todos os dias, muito menos saía para qualquer outro lugar que não fosse o estabelecimento ou a casa dela.
Laura sofreu pra caramba com a morte do meu marido, eles eram ótimos amigos e o Adam gostava de bancar o bom conselheiro amoroso com ela. Nunca parei para pensar em como a minha amiga sofreu com a partida dele, fui egoísta com ela, deixei que só a minha dor importasse, nunca me interessei em perguntar como ela estava.
"Sinto falta dele", diz ela, depois de um tempo. Noto que ela passa uma mão no rosto para secar as lágrimas. "O tempo todo. Imagino que não seja fácil para você dar brecha para outra pessoa entrar na sua vida, nem sei como você consegue, mas pra ser bem sincera, é uma puta coragem, Carrie."
"Graças a você", seguro a mão dela, acariciando o dorso com o meu polegar. "Foi você quem me incentivou a dar uma chance para uma garota de vinte e dois anos. Por Deus, quem mais incentiva uma coisa dessa?"
Ela ri. "Ah, fala sério. Um monte de gente."
Me viro para ela, engolindo o último pedaço do meu hambúrguer. Laura ainda está na metade do dela, o que não me surpreende, ela é o tipo de pessoa que passa de trinta minutos a uma hora para fazer uma refeição. "Acha que eu devo partir para o ataque?"
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Mandou bem, Carrie. É isso aí! (Romance sáfico)
RomanceDepois de perder o marido em um trágico acidente, Carolina vê a vida dela despencar e chega a conclusão de que pode viver sozinha para sempre. Sete anos depois, a sua melhor amiga a convence a baixar o Tinder. Lá, ela conhece uma jogadora de League...