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Algumas coisas simplesmente nunca mudam.

No jardim de infância,

No fundamental,

E até agora no ensino médio.

Ele sempre esteve lá, de costas pra você, apenas uma mesa de distância.
Quando ele chega na sala de aula você já está lá, ele acena com a cabeça e se senta. Quando vocês vão embora ele sai da sala primeiro. E assim você passou todos esses anos, se contentando com acenos de cabeça e com as costas dele viradas pra você.

Mas não é desconfortável, tem sido assim por mais tempo do que você se lembra. Você e Bakugou silenciosamente entraram num acordo que dizia que acenos de cabeça eram o suficiente. Vocês não eram próximos, mas não eram estranhos.

Bakugou tem o péssimo hábito de morder seu lápis quando está nervoso, mas você já sabe disso, então não é surpresa quando ele está se virando pra você e dá de cara com sua mão erguida segurando um lápis extra que você já sabia que iria emprestar pra ele. Pelo menos os seus lápis ele não morde.

E também não é surpresa quando o sinal do recreio bate e ele te entrega o bolinho de chocolate que a mãe dele sempre mandava junto com o lanche. Ele poderia simplesmente falar que não gosta do bolinho que ele não apareceria mais no seu lanche, mas ele sabe que você gosta, então não diz nada.

E assim foi e tem sido há muitos anos, vocês tem mantido essa relação confortável e silenciosa de uma quase amizade e nada nunca atrapalhou vocês.

Até que, em uma aula de história super entediante você começa a se perguntar " e se ele virasse pra trás? ".

E foi aí que tudo começou, ou melhor, terminou.
Logo você não se sentia confortável com o silêncio, não se contentava com acenos de cabeça e esperava ele perguntar "Você tem um lápis pra me emprestar?" ao invés de antecipar a pergunta.
E quanto mais você imagina uma realidade paralela em que Bakugou se vira, te olha nos olhos e tenta puxar assunto com você, das maneiras mais toscas possíveis, mais você se depara com a realidade.
A realidade de acenos de cabeça.

Talvez você devesse dar o primeiro passo, talvez você devesse tentar perguntar como foi o dia dele- não isso nem faz sentido, é de manhã, o dia acabou de começar. Talvez você devesse fingir que não entendeu o tema da aula de filosofia- também não, Bakugou sabe tanto sobre Sócrates quanto você. Ou então quem sabe você poderia fingir que deixou sua caneta cair e-

"Você tá bem?"

Quando você ergue a cabeça se depara com Bakugou na sua frente, te encarando com um bolinho de chocolate na mão.

"Huh?"

"O sinal pro recreio bateu já faz um tempo e você ainda tá aí encarando seu caderno, a matéria é tão difícil assim?"

"H-hein? A não eu só... tô um pouco perdida nos meus próprios pensamentos."

"No que você tá pensando?"

Em você.

"Só... coisas do cotidiano."

"Seu cotidiano deve ser bem interessante pra você perder tanto tempo pensando nele, anda pega isso aqui logo." Ele diz te entregando o bolinho.

"E-eu tava pensando" Você começa quando percebe que Bakugou ia se levantar "talvez a gente pudesse comer junto de vez em quando" agora as palavras saem da sua boca sem que você se de conta do que está falando "tipo, não precisa ser todo dia, tudo bem se você não quiser mas-"

"Então todo esse pensar era pra você criar coragem pra me chamar pra comer com você?"

"Eu..."

Então você percebe a postura de Bakugou mudar, e ele suspira parecendo que havia aliviado um peso das costas, mas também parecia derrotado.

"Bom, você ganhou."

"Ganhei o que?"

"Quer dizer, eu ia te chamar pra sair, talvez ir no cinema sei lá, mas acho que isso já conta como uma derrota."

"Me chamar pra sair? Do que você tá falando?"

"Eu tô pra te chamar pra sair já faz um tempo mas eu não consegui criar coragem, aí você veio e fez antes de mim."

"Você ia me chamar pra sair?!"

"Achei que já tivesse deixado essa parte clara."

"Você ainda... quer sair comigo...?"

Antes que você conseguisse entender totalmente o que estava acontecendo, Bakugou começa a rir na sua frente.

"P-por que você tá rindo? Olha esquece o que eu falei tá? Esquece." Você de levanta e começa a ir em direção a porta quando sente algo te segurar pela cintura e então você é colocada contra uma mesa, e na sua frente está Bakugou, de perto assim ele parece muito mais alto.

"Tarde demais pra me pedir pra esquecer, agora eu já criei expectativa." Você mal consegue respirar com a proximidade de seus corpos "Eu passo te buscar as 20h, pode ser?" Você acena que sim, "Ótimo, agora vamos, eu tô morrendo de fome e você já me fez esperar o suficiente".

E desse dia em diante, você não precisou mais se contentar com acenos de cabeça, porque agora Bakugou falava mais com você do que com os próprios pais.
Você não precisou mais ficar encarando as costas dele, por que agora vocês andavam lado a lado (e de mãos dadas).
E agora vocês não eram nem estranhos, nem conhecidos, nem amigos, vocês eram muito mais, e você não podia estar mais feliz.

BACK TO YOU - Katsuki X Reader Onde histórias criam vida. Descubra agora