026| as coisas mudam, né?!

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VEIGH

Mano, eu não acredito que realmente rolou.

Débora tava dormindo perto do meu rosto, e eu só conseguia pensar em toda essa doidera que aconteceu rápido pra caramba.

E parça, era impressionante que essa mina foi com quem eu cresci. A Débora e eu compartilhamos uma vida de história juntos. Pensar que tínhamos acabado de transar, era doidera.

E o foda de pensar é que eu ressignifiquei tudo em pouco tempo. E era absurda a atração, a conexão que a gente desenvolveu nesse bagulho.

Quando ela me deu esse último gelo, foi diferente. Não foi como se eu tivesse magoado uma amiga. E ver que ela tava conhecendo outra pessoa, me deu um certo desespero de pensar na possibilidade de não poder mais ter esses momentos com ela.

[...]

— Titi?

Escutei a voz rouca da Débora no meu ouvido.

— Chora?! — Falei sem conseguir abrir os olhos. Ela tinha acabado comigo, pode pá!

— Minha mãe foi pra igreja. Bora levantar?

Não respondi por preguiça.

— Thiago?

A voz dela por mais firme que foi, não me fez despertar realmente. E pareceu até que ela tinha desistido por ter ficado tudo silencioso.

Só que eu conhecia a Débora o bastante pra saber que não ficaria por isso.

Comecei sentir beijos no meu pescoço e me deixavam arrepiado, mas fingi que não aconteceu nada. Ela percebeu e riu me fazendo arrepiar de novo.

— Se eu acordar, eu vou foder com você! — Eu disse ainda de olhos abertos.

Débora subiu pra cima do meu colo e deu uma quicada um pouco sútil. Ali me desestabilizou.

Apertei com firmeza a cintura dela fazendo ela repetir o movimento.

— Vamo logo, vida?! — Ela disse me dando um beijo na bochecha.

— Me chama de vida de novo? — Pedi rindo fraco.

Era diferente ver ela me chamando de algo além de Thiago ou "parça". E eu gostei muito.

— Tá carente, parça?

Ela tinha voltado.

Abri os olhos e tive a visão da Débora só com um camisetão da Oakley.

— Cê quebra o clima hein, filha?!

Dei um tapa na bunda dela.

— Tá boiolando já?

— Só é da hora as vezes ser tratado com mais carinho. — Levantei com ela ainda no colo.

— Agora tá desses?

Não que eu queria algo além do que eu tava vivendo ali com ela, até porque pra mim é uma parada perfeita. Só que as vezes é chato sim lidar com a secura dela.

— As coisas mudam, né?! — Repeti algo que ela sempre fez questão de reforçar.

Débora me olhou por alguns segundos e saiu de cima de mim.

— Tá vendo, parça. Era melhor a gente não ter ficado mesmo. — Ela disse voltando pra baixo da coberta.

— Não tem a ver, Débora.

— Tem sim, mano. — Desviou o olhar do meu.

Encarei ela por muitos segundos.

— É difícil de te entender, Débora. — Confessei levantando pra começar me arrumar.

  Eu não tava bravo, nem nada, só que pra mim era muito complicado decifrar o que ela realmente queria. Era um morde e assopra do caramba.

— E não é pra me entender.

— Sabe qual a sensação que eu tenho? — Perguntei enquanto colocava a calça. — Que você me tem quando quer. Eu faço suas vontades, mas quando eu te peço uma mínima coisa, você se fecha.

— Não coloca em mim a responsabilidade das tuas ações. Quando um não quer, dois não fazem!

— Não tô falando que eu não queria, mano. Só que sempre tem que ser do seu jeito. — Coloquei minha camisa rápido. — E eu não tô desesperado pra ficar com ninguém, Débora.

— Quer dizer o que com isso?

— Que eu vou pensar em mim, tá ligada? E nem é por você não ter me chamado de "vida". Mas é por como você leva as coisas. Eu não sou um brinquedo, parça!

  Vi a boca dela abrir, mas sem som nenhum. Ela sabia que não tinha o que dizer, eu tava certo.

  Desde o começo a gente vive em pró do que ela quer fazer. Quando éramos amigos, e ela queria ficar comigo, quis romper nosso contato. Quando ficamos e ela viu que a minha consideração era outra, quis romper contato. Acho que esse desentendimento, que nem foi nada demais, foi o estopim pra mim.

  Sai dali com cuidado, porquê sabia que ninguém ali poderia me ver.

  Peguei minha moto e sai de lá rápido.

  Eu não queria parar de ficar com a Deb, ela é uma pessoa foda pra mim, mas eu já estive nessa posição antes, e uma vez que você deixa acontecer, não tem como voltar atrás.

  Meu último namoro eu precisei lidar com a Bruna o tempo inteiro decidindo sobre tudo, principalmente como eu devia agir. E começou assim, sútil, como se não fosse nada.

  Tô fora dessa parada de novo.

MANDRAKA - VeighOnde histórias criam vida. Descubra agora