the loneliest time ✦ chuuves

parte XXXVII

Sooyoung

- Aquela desgraçada! - diz Jiwoo ao entrar em meu quarto e bater a porta com força.

Passo novamente o cartão na fechadura para permitir o meu acesso ao quarto, adentrando e jogando o cartão na pequena cesta sobre o aparador. Retiro os sapatos e os deixo na porta por estarem repletos de terra e grama. Puxo as mangas do sobretudo para retirá-lo e o penduro no gancho, levando as mãos para a cintura e esticando o corpo para trás.

O piquenique foi destruído por Chu Sojung e não quisemos ficar para o resto do dia, preferimos voltar para o hotel quando aquelas fofoqueiras começaram a me fazer diversas perguntas sobre ser verdade o meu antigo relacionamento com Sojung. Ela sempre foi famosa e por muitas vezes, surgimos nos tabloides sul-coreanos e internacionais também, eu preferia me esconder porque nunca gostei da fama, mas Sojung era exibida, então nunca negava que estávamos juntas, mas que éramos discretas.

Os anos se passaram e esse passado foi esquecido pela mídia, já que Sojung passou todo esse tempo muito focada em sua carreira e em fazer o seu time vencer. É comum do ser humano se sabotar de vez em quando e eu fazia isso nos momentos tensos, após algumas taças de vinho e choro extenso, sempre pesquisava a vida de Sojung e vez ou outra, ela era vista com uma mulher muito bonita ao seu lado, nunca assumindo um relacionamento desde então.

Eu não sei como a mídia nunca relacionou minhas filhas como fruto da nossa relação, era meio óbvio devido ao tempo, porém, passei a acreditar que a assessoria de Sojung fez de tudo para camuflar nosso passado como uma família em formação já que isso prejudicaria muito a sua imagem. Sojung era vista como ética no mundo dos esportes, eu apreciava suas falas de empoderamento quando a tentavam silenciar, ela era um ícone pop dos esportes e claro que não cairia bem o seu mau caráter vir à tona para lhe destruir.

A forma na qual ela está se arriscando para se reaproximar das minhas filhas diz muito sobre como ela mudou desde então. Com as ameaças de levar nosso caso à justiça, Kahei começou a investigar muito a sua vida, até de uma forma que me assustava, e ela descobriu o interesse de Sojung e seus empresários num time de basquete infantil, para apresentar esse projeto, seria necessário garotas-propaganda, já que Sojung sempre teve esse discurso do esporte voltado ao público feminino e nada melhor que influenciar desde a infância.

O único problema é que minhas filhas não gostavam de basquete, futebol, vôlei ou qualquer outro esporte e eu assumo completamente essa culpa. Por anos, elas nem sabiam da existência do basquete justamente porque foi uma forma que eu encontrei de bloquear Sojung de minhas memórias, por isso, Yerim e Yeojin gastavam todo o seu tempo exercitando o cérebro em atividades que as levasse ao conhecimento.

Sojung está no momento que não tem nada a perder visto tudo o que ela já perdeu. Não sinto pena dela, mas construímos juntas a ideia de uma família, com filhos, um lar, um bom lugar para envelhecer e segurança para viver. No momento em que escolheu ficar na América, tudo isso foi por água abaixo, e ela sabe disso.

Passei muitos anos da minha vida acreditando que eu nunca mais teria alguém do meu lado para compartilhar esse desejo e Jiwoo veio como uma pessoa inesperada. Ela já tem uma filha, já passou por um casamento e sabe como é a vida, busca segurança e estabilidade, algo que eu também estou à procura agora que tenho minhas filhas. Aos poucos, Jiwoo e eu começamos a combinar nossas vidas e arranjamos um espaço para encaixar nossas famílias para torná-las uma só, e é frustrante assistir a essa tentativa de boicote partida de Sojung.

Assistir à fúria de Jiwoo, mesmo que tensa, é algo que me alivia. Não queria ser a única a ter esse sentimento, isso despertado dentro de mim, e apesar de não querer que ela compre uma briga que é minha, saber que tenho o apoio de minha parceira é reconfortante, mesmo que seja desse jeitinho "levemente" agressivo e afoito dela.