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Após uma noite conturbada e as poucas horas de sono, desperto em minha cama com uma ressaca surreal e uma dor de cabeça absurda. No instinto procuro pelas horas em meu relógio de pulso e confirmo que ele continua sem funcionar. Me levanto com um pouco de enjôo e bastante dificuldade sentindo o teto girar. É, eu realmente bebi mais do que deveria...

Vou direto para o banheiro e tomo uma ducha gelada na esperança de que ela me desperte e relaxe ao menos um pouco. A água escorre pelo meu corpo nu percorrendo minhas diversas cicatrizes e marcas que adquiri nessa vida inusitada, vindas de criaturas em que a maioria das pessoas sequer faz ideia que existem.

De fato me sinto um pouco melhor, então me visto com uma calça social, sapatos fechados e uma blusa rosa claro. Prendo meu cabelo parcialmente, afim de melhorar um pouco a minha aparência para enfrentar esse novo dia. Procuro a minha maleta e me certifico se tudo que preciso está de fato dentro dela. Feito isso, abro a porta do quarto e novamente observo aquele longo corredor com vários quadros pendurados. Reparo que no chão bem na frente da minha porta tem uma garrafa d'água e um biscoito salgado e dou graças a Deus por isso. Coloco tudo dentro da maleta e bato na porta de Thiago, um pouco tensa pela situação desconsertante de poucas horas atrás.

Ele abre a porta também já arrumado, com olheiras sob seus olhos e o cabelo levemente penteado. O cheiro de seu perfume invade o corredor e é muito agradável, como sempre. Apesar do vício em cigarro, Thiago quase nunca fede à nicotina de fato. É um homem bastante vaidoso, e acredito que a sua profissão exija isso.

- Bom dia, Liz. Ainda estamos sem horas. - ele diz claramente preocupado, me mostrando o seu relógio de bolso, a sua herança mais preciosa.

- O meu também ainda não está funcionando. Você acha que tem alguma relação com o caso? - eu digo evitando o encarar por muito tempo.

- Não sei. Pode ser que sim... Bom, eu deixei umas coisas pra você na sua porta, você viu? - ele me olha um pouco nervoso e preocupado, coçando levemente o coro cabeludo. - Aliás, você dormiu bem?

- Bem é uma palavra muito forte... Razoável. Mas eu vi sim, vou comer no carro. Vamos? - eu tento quebrar o gelo e o clima estranho o mais rápido possível.

Ele apenas concorda com a cabeça e tranca a porta atrás dele, caminhando logo atrás de mim até o saguão principal do hotel. Agora que a luz solar invade o cômodo, consigo observá-lo melhor: é um lugar amplo e antigo, de fato, e aparentemente bastante empoeirado. Parece que realmente essa cidade não recebe turistas com frequência, e nem teria o por que na minha concepção. Não vejo ninguém além de nós naquele enorme saguão. Observo a mesa em que o funcionário dormia no dia anterior e vejo um jornal em cima dela e paro por um instante pra ler a capa.

 Observo a mesa em que o funcionário dormia no dia anterior e vejo um jornal em cima dela e paro por um instante pra ler a capa

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Vejo outra cópia desse jornal em cima do balcão e tomo a liberdade de pegá-lo para mim. Thiago me aguarda lá fora enquanto acende, se o conheço bem, o que nem de longe seria o primeiro cigarro da sua manhã. Não nos
encontramos com ninguém nesse percurso até o carro, e logo estamos a caminho do apartamento de Carolina.

Fritz me olha de relance algumas vezes e repara no jornal que seguro em minhas mãos, e curioso resolve perguntar.

- O que foi, Liz? O que diz aí? - ele questiona, com as mãos no volante e os olhos na estrada.

- Esse horário... Eu acho que já vi em algum lugar. Não pode ser coincidência. - eu digo franzindo o cenho, um pouco confusa.

Começo a abrir a minha maleta para procurar a ficha de Desaparecimento de Carolina. Thiago fica em silêncio enquanto analiso o documento que agora seguro em minhas mãos. Não demoro para encontrar a estranha coincidência, que agora já não parecia mais ser um simples acaso.

Carolina Santiago foi vista pela última vez no dia 04/01/2023 exatamente às 19:56. Como ela e esse horário específico estariam interligados, e porquê?

- Thiagão... Pelo visto a Carolina desapareceu exatamente nesse horário. - eu engulo em seco e mostro a capa do jornal para ele, que agora tem uma expressão confusa no rosto e me olha por alguns segundos, um pouco desacreditado.

- Que merda! - Fritz bate no volante do carro ao perceber que a coisa pode ser mais séria do que imaginávamos, e pisa fundo no acelerador tentando chegar em nosso destino o mais rápido possível.

Tudo que poderíamos ser [LIZAGO]Onde histórias criam vida. Descubra agora