Os raios solares adentravam as trilhas da Floresta Amanaiara. Eram poucos os raios, já que as copas das árvores estavam tão vastas que tapavam a entrada da luz. No final da trilha, um jovem repousava em uma pedra olhando para sua mão. Uma brisa leve passa por ali levantando as folhas cor-de-rosa clara que estavam empilhadas perto do rapaz e uma das folhas cai em sua mão. Ele a pega e coloca sobre um raio de sol: todo o exoesqueleto da folha fica visível, parecendo veias humanas que brilhavam em fluorescente.
O corpo todo do jovem é coberto por runas ancestrais. Ele encara uma das runas que se estende do seu ombro até a palma da mão. Com a folha no centro da palma, as runas também brilham; mas nada acontece. Ele suspira e olha pro céu. As folhagens das copas se emaranhavam, enroscavam e pareciam formar um grande teto cobrindo toda a Floresta. É possível ouvir passos de fundo.
-Ubiratan! –Uma garota de pele marrom avermelhado se aproxima. Seu corpo também tem runas e ela utiliza roupas simples.-
-Ah, é você, Kaolin... –Ubiratan esmaga a folha que estava em sua mão e faíscas rosa fluorescente são espalhadas.-
Kaolin faz uma expressão de pena. Ela encara Ubiratan que estava de costas pra ela.
-Como sabia que era eu?
-Eu sinto... as pessoas. Também sei que está me encarando com dó.
Kaolin dá um sorriso meio torto e fica sem graça. Ela se aproxima do rapaz e também olha para cima.
-Me desculpa?
-Do que? Eu sei que é difícil não sentir dó do único filho do Cacique... –A voz dele embarga.- Do filho único do Cacique que não consegue utilizar magia.
-Ubiratan, você é poderoso. Sabemos disso!
Ubiratan deixa de olhar pro céu e desce o olhar para Kaolin. Os cabelos dela são lisos e pretos. O rosto dela está pintado.
-Veio me chamar para mais um ritual, não é?
-Papai quer muito que você vá dessa vez... Ele organiza tudo com tanto amor.
-Kaolin, não adianta fazer rituais, feitiços, ou seja lá oque ele inventou dessa vez. Amanhã eu faço 18 anos e até agora não despertei meu Abaratá. –Ele encara as runas de Kaolin. Elas parecem estarem vivas, respirando.-
-A esperança é a última que morre! Poxa, o que custa tentar?
-Custa a minha saúde mental. Já passou da hora de aceitar que sou uma anomalia genética. Um erro.
-Mas que cara teimoso! Ok, faça oque achar melhor. Mas se quiser, estaremos no pátio central da aldeia no entardecer, que aliás, é já já. Não dá pra ver por conta dessas árvores imensas que tapam o céu, mas o sol já está descendo.
-Eu gosto... dessas árvores. Elas são cheias de magia e por mais que eu não manifesto a minha, eu sinto magia em todo lugar. Nas plantas, no ar, nas árvores. Em você.
-Poxa, sou filha do Pajé, afinal. Uma xamã tem que emanar Abaratá, não? –Kaolin dá uma risada forçada e cutuca Ubiratan com seu cotovelo, querendo descontrair. Ele fica sério e baixa o clima.-
-Kaolin. Eu vou embora da tribo amanhã.
A garota desfaz o sorriso num instante e encara o rapaz. Ele não parecia estar brincando.
-No meu aniversário, eu vou sair daqui. Fiquei a tarde toda pensando e se não for pra ter alguma utilidade então que eu viva longe daqui.
-Você enlouqueceu? O que seria da tribo sem o único filho do Cacique?
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Pindorama: Caminhos d'Alma
FantasyO povo da tribo Karaní são conhecidos pelas runas ancestrais que marcam e percorrem todo o seu corpo. Essas runas canalizam e ajudam a manipular a magia que todo ser vivo de Pindorama possuí. Num mundo mágico e místico, Ubiratan convive com o fardo...