Capítulo 1

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   Os raios solares adentravam as trilhas da Floresta Amanaiara. Eram poucos os raios, já que as copas das árvores estavam tão vastas que tapavam a entrada da luz. No final da trilha, um jovem repousava em uma pedra olhando para sua mão. Uma brisa leve passa por ali levantando as folhas cor-de-rosa clara que estavam empilhadas perto do rapaz e uma das folhas cai em sua mão. Ele a pega e coloca sobre um raio de sol: todo o exoesqueleto da folha fica visível, parecendo veias humanas que brilhavam em fluorescente.

   O corpo todo do jovem é coberto por runas ancestrais. Ele encara uma das runas que se estende do seu ombro até a palma da mão. Com a folha no centro da palma, as runas também brilham; mas nada acontece. Ele suspira e olha pro céu. As folhagens das copas se emaranhavam, enroscavam e pareciam formar um grande teto cobrindo toda a Floresta. É possível ouvir passos de fundo.

   -Ubiratan! –Uma garota de pele marrom avermelhado se aproxima. Seu corpo também tem runas e ela utiliza roupas simples.-

   -Ah, é você, Kaolin... –Ubiratan esmaga a folha que estava em sua mão e faíscas rosa fluorescente são espalhadas.-

   Kaolin faz uma expressão de pena. Ela encara Ubiratan que estava de costas pra ela.

   -Como sabia que era eu?

   -Eu sinto... as pessoas. Também sei que está me encarando com dó.

   Kaolin dá um sorriso meio torto e fica sem graça. Ela se aproxima do rapaz e também olha para cima.

   -Me desculpa?

   -Do que? Eu sei que é difícil não sentir dó do único filho do Cacique... –A voz dele embarga.- Do filho único do Cacique que não consegue utilizar magia.

   -Ubiratan, você é poderoso. Sabemos disso!

   Ubiratan deixa de olhar pro céu e desce o olhar para Kaolin. Os cabelos dela são lisos e pretos. O rosto dela está pintado.

   -Veio me chamar para mais um ritual, não é?

   -Papai quer muito que você vá dessa vez... Ele organiza tudo com tanto amor.

   -Kaolin, não adianta fazer rituais, feitiços, ou seja lá oque ele inventou dessa vez. Amanhã eu faço 18 anos e até agora não despertei meu Abaratá. –Ele encara as runas de Kaolin. Elas parecem estarem vivas, respirando.-

   -A esperança é a última que morre! Poxa, o que custa tentar?

   -Custa a minha saúde mental. Já passou da hora de aceitar que sou uma anomalia genética. Um erro.

   -Mas que cara teimoso! Ok, faça oque achar melhor. Mas se quiser, estaremos no pátio central da aldeia no entardecer, que aliás, é já já. Não dá pra ver por conta dessas árvores imensas que tapam o céu, mas o sol já está descendo.

   -Eu gosto... dessas árvores. Elas são cheias de magia e por mais que eu não manifesto a minha, eu sinto magia em todo lugar. Nas plantas, no ar, nas árvores. Em você.

   -Poxa, sou filha do Pajé, afinal. Uma xamã tem que emanar Abaratá, não? –Kaolin dá uma risada forçada e cutuca Ubiratan com seu cotovelo, querendo descontrair. Ele fica sério e baixa o clima.-

   -Kaolin. Eu vou embora da tribo amanhã.

   A garota desfaz o sorriso num instante e encara o rapaz. Ele não parecia estar brincando.

   -No meu aniversário, eu vou sair daqui. Fiquei a tarde toda pensando e se não for pra ter alguma utilidade então que eu viva longe daqui.

   -Você enlouqueceu? O que seria da tribo sem o único filho do Cacique?

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⏰ Última atualização: Jan 24, 2023 ⏰

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