O Acidente

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                                   Roman(18 anos)

   Quando eu conheci o Finneas, eu tinha acabado de sair de uma balada clandestina, estava totalmente bêbada, no final de um beco escuro vomitando e bebendo mais, ao lado de uma caçamba de lixo. Aquilo fedia em um nível que eu não sabia se estava vomitando pelo álcool ou pelo cheiro de carniça.

   - Quer ajuda?- ele perguntou estendendo a mão para mim.

   - Não.- bati na mão nele. Estava envergonhada, fedida, bêbada e feia, se pudesse simplesmente morrer ali mesmo, eu faria.

   - Vamos.- ele me puxou por baixo das minhas axilas, fazendo com que eu me levantasse.

   Eu não disse nada. Deixei com que me guiasse para seu carro, achei que ele quissese me matar ou me estuprar, mas não.

   - Aonde você mora?- perguntou enquanto colocava o cinto de segurança em mim.

   Dei de ombros. Naquele momento eu não queria pensar, queria que as coisas só acontecessem.

   - Tem celular?- eu tinha, mas acho que me roubaram.- Quer que eu ligue para alguém? Algum familiar ou amigo.

   - Não. Não tenho família nem amigos nem celular nem casa. Nada, eu não tenho nada.

   Essa foi a minha última frase da madrugada, após isso eu não lembro de nada, depois o Finneas me contou que ele me trocou a me colocou na cama dele para eu dormir.

   No outro dia de manhã eu tinha que ir embora, afinal, eu não poderia ficar na casa de um estranho. Poderia? É. Eu fiquei, Finneas permitiu que eu ficasse na casa dele o tempo que precisasse, ele era tão gentil e doce, nem parecia ser um homem, nunca conheci ninguém como ele, só tive contato com pessoas mais babacas que eu. Nunca fui tratada tão bem, talvez estivesse me apaixonando por ele, não tive tempo de contar a ele. Tínhamos momentos, momentos em que ele me levava para o terraço de um prédio abandonado e ficávamos olhando o pôr e o nascer do sol, nos beijávamos, mas não era um beijo carnal, seus beijos eram cheios de perdão e promessas, os meus deviam soar como um pedido de socorro devia ser doloroso.

   Ele foi a primeira pessoa com quem eu consegui compartilhar um pouco da minha gentileza, acredito que nunca tinha conseguido mostrar isso para alguém, afinal, para todo mundo eu sempre fui o cachorro com sarna querendo carinho.

   Ele tinha uma família, diferentemente de mim ele tinha uma família que o amava, amava muito. Tinha uma mãe ruiva e de olhos azuis como o céu limpo, o pai já tinha cabelos brancos e olhos azuis acinzentados escuros assim como, sua irmã mais nova, ela era linda, jovem tinha os olhos do pai porém um pouco mais claros e só um pouquinho esverdeados, o olhar dela era hipnotizante, tinha o cabelo preto com raízes verdes, era muito parecida com a família toda. Finneas me disse que amava muito eles, sua irmã era tudo para ele. E eu consegui tirá-lo deles.

   Fazia 1 semana que eu estava na casa de Finneas, até aquela segunda-feira chuvosa. Aquela maldita segunda-feira.

   Eu e Finneas tínhamos concordado para eu me mudar, morar com ele. Com isso queria ajeitar minha vida, Finneas era tão incrível, era esperto, talentoso, responsável e lindo. Naquela época achei mesmo que eu poderia ser alguém normal, poder amar como alguém normal, ter filhos e me aposentar aos 55 anos. Então eu tinha saído no final da tarde para achar um trabalho. Entrei em diversas lojas e conveniências, não tinha conseguido, já eram 21h, estava tarde, no caminho de casa avistei um barzinho, era minha última opção. Cheguei no bar e dei de cara com as pessoas que eu mais abomino nessa terra. Meu padrasto e minha mãe. Quando os olhos da minha mãe encontraram os meus eu percebi os seus olhos inundarem, vi os olhos do meu padrasto se encherem de ódio, enquanto o meu corpo inteiro se queimava, sentia meu coração e meu pulmão pararem. Não queria falar com eles, não queria. Nunca mais, desde que fugi com 14 anos.

Maybe i love you-BILLIE EILISHOnde histórias criam vida. Descubra agora