Shirayuki correu pela floresta, olhando atentamente por entre as vastas árvores que lhe rodeavam.
— Obi! — O chamava. Tinha certeza de que se ele a ouvisse, apareceria no mesmo momento. — Obi! — Apertou o passo ainda mais.
Precisava encontra-lo...
— Ojou-san. — Uma rajada de ar ricocheteou suas costas frágeis. A voz grave do rapaz fez-a virar com pressa.
Lá estava ele.
— Obi! — As grandes orbes esmeraldinas da herborista cintilaram ao observar-lo se levantar aos poucos, recuperando-se da aterrissagem que havia feito há pouco. — Ainda bem, soube que estava por aqui. — Shirayuki se aproximou com um sorriso aliviado nos lábios.
Não teve uma resposta, no entanto. Obi sustentava uma expressão abatida coberta por remorso. Seus lábios pressionados e a cabeça abaixada escondiam da ruiva o máximo de sentimentos possível.
Não gostava de vê-lo daquela forma.
— Sinto muito. — Ele começou, e não parecia ter intenção de deixar a herborista negar suas desculpas. — Meu dever era proteger você e olha o que deixei acontecer... — Resmungou, fechando os punhos como se estivesse prestes a esmurrar à si mesmo. Shirayuki se encolheu. — Sinto muito. — Repetiu.
O coração dela batia rápido. Só de lembrar o quanto Obi se arriscou por si naquela noite tentando lhe salvar dos sequestradores... Não era justo que ele se culpasse tanto.
Levantou a cabeça e encarou-o nos olhos, dando mais um passo na sua direção à medida que tentava tomar as rédeas da conversa. Queria acalmar-lo, dizer que estava tudo bem agora e que, principalmente... Se sentia muito feliz por ver-lo bem.
— E-Espera! N-Não é isso o que acho... — Foi totalmente em vão. Num piscar de olhos, o rapaz havia tampado sua boca com a palma, impedindo que continuasse.
O olhar afiado daquelas íris com pupilas finas deixou a ruiva atordoada e em completo silêncio. Sua atenção estava voltada totalmente para as feições frustradas de Obi, que trincava o maxilar sem nem perceber.
A mão dele era firme, mas suava frio.
— Mesmo se disser, eu não vou ouvir. Pois vim para protege-la. — Anunciou, com o timbre autoritário fazendo-o parecer egoísta.
Os dois se fitaram em completo silêncio. Shirayuki não mostrava medo ou surpresa nas feições delicadas, embora Obi esperasse alguma reação alarmada do tipo. Aqueles olhos esverdeados permaneceram serenos, e ele não ousou desviar a atenção para outro lugar.
O rapaz sentiu um certo frio na barriga nada agradável quando a herborista agarrou suavemente seu antebraço, ainda erguido para tampar-lhe a boca. O toque dela era gentil, ao mesmo tempo que firme. A ruiva se aproximou mais do que o usual, abaixando a mão de Obi e consequentemente segurando-a de leve. Foi o suficiente para que uma cor avermelhada pintasse as bochechas dele, contrastando com a feição aterrorizada e incrédula.
— O-Ojou-san...? — Chamou, como se tentasse alertar-la do quão próximos estavam. Mas ela não deu para trás, apesar de começar a ficar constrangida também. — E-Está muito perto...
— Q-Quer... — A voz de Shirayuki estava tão fraca que ele só ouviu por causa dos poucos centímetros que os separavam. Ela entrelaçou os dedos da mão que o segurava. — Quer que eu me afaste? — Finalmente perguntou, mordendo o lábio inferior para descontar o nervosismo.
Obi ficou pasmo. Não sabia se saía correndo ou se começava a cavar sua própria cova ali mesmo. No fim, não fez absolutamente nada. Sua respiração descompassada batia no rosto rubro da ruiva cada vez mais rápido, denunciando o quão perplexo estava. Diante daquele silêncio esclarecedor, os olhos de Shirayuki alcançaram os lábios entreabertos dele.
O rapaz não lutou contra quando sentiu-a vir ao seu encontro sorrateiramente, juntando as bocas em um beijo apaixonado e lento. As pálpebras arregaladas de Obi aos poucos foram relaxando com os movimentos sutis dos lábios dela, e sobre o farfalhar das folhas das árvores ao seu redor, ele retribuiu aquele gesto com todo o desejo que vinha guardando há tempos. Enlaçou a cintura fina com o braço livre, apertando os dedos que seguravam sua palma tão carinhosamente.
O ósculo se seguiu por bons segundos. Suas línguas se encontravam e desencontravam, explorando a cavidade um do outro com calma e afeição. Shirayuki acariciou a nuca dele e isso gerou arrepios, os quais fizeram-no encerrar o beijo com uma mordida fraca e um selinho casto.
Os olhos nublados de ambos se encontraram, e por um momento, nada falaram. Obi apertou a cintura da herborista, e quando finalmente tomou coragem de indagar sobre aquilo, a própria se adiantou.
— V-Você... Não queria me ouvir... — Resmungou, tão vermelha quanto seus cabelos.
Ele levou alguns segundos para processar aquilo que havia ouvido. A feição indignada logo tomou toda a sua face.
— Me beijou só por isso?! — Os olhos felinos de Obi estavam atônitos. Ele ia se afastar, mas Shirayuki o impediu no mesmo segundo. — Ojou-san! — Reclamou.
— Não! Claro que não! — Puxou-o de volta. Ambos ficaram em silêncio mais uma vez, corados e constrangidos pela situação embaraçosa. — Eu... Eu quero te agradecer por ter se arriscado por mim, ainda não tinha tido a oportunidade. — Começou, escondendo o rosto no peitoral dele. Obi trancou a respiração. — Fiquei desesperada quando te vi cair, chamei seu nome várias vezes mas você não respondia... Tive muito medo de terem te machucado. — Declarou. Aquelas palavras esquentaram o peito dele instantaneamente. — Não se culpe por não ter conseguido me salvar, por favor. — Pediu, apertando a cintura do maior em um abraço desajeitado.
Ele suspirou, contendo a vontade de apertar-la com o dobro de força. Acariciou os ombros frágeis, partindo para os fios vermelhos logo depois.
— Shirayuki... — O nome dela saiu como uma canção pelos seus lábios. A herborista levantou o rosto, encarando-o admirada. — Está bem. — Concordou, sorrindo de leve. — Não quer voltar para a festa? Os outros devem estar te procurando. — Mesmo que à contragosto, ele quis perguntar.
Ela sorriu outra vez, parecendo despreocupada quanto à esse detalhe.
— Está tudo bem... Podemos voltar depois. — E encostou a cabeça no peito de Obi de novo, como se ali fosse o local mais confortável do mundo. — Quero ficar assim um pouco mais... — Murmurou baixinho, esperando que ele não ouvisse.
Mas o rapaz tinha um ótimo senso auditivo. Obi tentou controlar, mas em um piscar de olhos suas bochechas já estavam pegando fogo, alastrando uma forte cor vermelha por todo o seu rosto. Agradeceu aos céus por Shirayuki não estar o olhando naquele momento, seria extremamente vergonhoso.
Encostou o queixo na cabeça da herborista, enlaçando-a em um abraço ainda mais apertado e afetuoso.
— Obrigado.
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Agradecimento - Obi x Shirayuki
FanfictionDepois do fatídico sequestro, Shirayuki finalmente pôde retornar para aqueles que amava. No entanto, a herborista sente falta de uma certa presença durante a festa e rapidamente decide ir procurar-lo. Afinal, ainda não havia o agradecido devidamente...