Embora já fizesse aquilo por alguns anos, para Harry algo parecia diferente: ele sentia que alguma coisa estava para acontecer. Ele não sabia bem o que era, mas embora fosse aquariano, ele não aceitava bem as mudanças. Em seus 21 anos de idade ele era um garotinho.
Quando desceu na Malásia o ar abafado tomou conta de seus pulmões, e ele sentiu uma certa dificuldade de respirar. Pediu aos céus que não lhe dessem uma crise de asma naquele momento, pois até o próximo vôo ainda tinha chão, e ele já estava bem cansado. Não quis falar com ninguém por um tempo até que seus pulmões se acalmassem e ele retomasse a respiração.
Ouviu vozes mas não conseguiu distinguir bem o que diziam. Viu Lux correndo e pulando no colo de Liam e conseguiu abrir um sorriso. Gostava de ver essa interação. Ele não quis comer nada e já estava enjoado de suas músicas.
Quando subiu no avião, não se sentou de frente para Ava, mas ao lado dela. Zayn estava de frente para ele, e ele não sabia onde Charlie estava. Mas não estranhou. Viu o amigo colocar os fones de ouvido e se encostar no lugar vago ao seu lado. Sentiu bastante enjôo enquanto o avião decolava e resolveu se virar para perguntar se Ava tinha uma bala ou algo do tipo que pudesse o ajudar, mas ao se virar, percebeu o tanto que os olhos da menina brilhavam para a janela, mesmo que estivesse tão escuro. Desta vez estavam sem óculos. Eram verdes como os seus, e curiosamente ele sentiu um certo alívio ao ter certeza sobre a cor do olhar dela.
Ela não percebeu que ele estava olhando pra ela. Ela estava olhando para fora mas não conseguia enxergar nada. Ela tinha ligado para sua mãe, mas esta não a atendeu. Charlie estava sentada com Louis desta vez e ela se sentiu um pouco sozinha. Ela se virou para o lado quando sentiu um olhar pesar pra cima dela.
-Você está bem? - ela perguntou ao perceber o tom esbranquiçado da boca dele.
Ele negou com a cabeça.
- O que está sentindo?
- Um pouco de enjôo. Acho que vou ter uma crise de asma. O clima está bem abafado.
- Eu tenho um remédio para enjôo aqui - ela já se apressou em pegar na bolsa.
Ele não demorou a tomar. Agradeceu e fechou os olhos com a cabeça virada para cima.
-Tenta dormir um pouco - ela sugeriu - aproveita o escuro.
-Tenho medo de escuro - ele disse com os olhos ainda fechados, porém sorrindo.
- Ah pronto - ela riu.
- Se eu deitar o assento, fica pior- ele explicou - preciso manter os pulmões erguidos.
- Bom, se quiser deitar no meu ombro - ela ofereceu rindo.
Ele abriu os olhos e a observou. Um sorriso canalha surgiu em seu rosto e Ava começou a ter uma certa noção do que poderia estar prestes a acontecer naquela viagem. Ela sentiu um frio absurdo na barriga enquanto o olhar dele penetrava o dela e ela podia jurar que era assim que uma fã dele se sentia. E por um segundo ela compreendeu todas elas.
-Você é muito gentil - ele disse por fim, e se deitou no ombro direito dela.
Ela não achou que ele fosse de fato se deitar em seu ombro. Ficou um pouco tensa, e enquanto ele se aconchegava, um cheiro muito gostoso invadiu suas narinas. Vinha dos cabelos dele. Ela não conseguiu distinguir o cheiro mas sentiu uma vontade absurda de tocar seus poucos cachos que caíam sobre a nuca e ela não hesitou em fazer. Ele fechou os olhos enquanto ela o acariciava, e por um instante os dois tiveram o mesmo pensamento: "Que porra é essa que está acontecendo?" Mas ela inconscientemente mergulhou o nariz nos cabelos dele e se deixou levar por aquele cheiro maravilhoso. Ele, por outro lado, passou o braço pela cintura dela. Parecia que havia se esquecido que estava passando mal. Ou o remédio estava realmente fazendo algum efeito.
Demorou em média uns quarenta minutos para que Harry pegasse no sono, e embora aquela situação fosse nova, Ava conseguiu mudar o rumo dos seus pensamentos enquanto acariciava os cabelos de Harry.
Harry por outro lado, se concentrou em respirar bem e de forma clara. Enquanto inspirava o ar, sentia um aroma que ele também não sabia decifrar, mas que algum tempo depois descobriria que era de uma fragrância brasileira que carregava o nome "Grace midnight". Era um cheiro doce mas ao mesmo tempo suave que o lembrava de algumas memórias afetivas. De certa forma o lembrava de casa. Dos bailes da época da escola, em que as meninas mergulhavam no vidro de perfume. Ele teve vontade de sorrir uma ou duas vezes, e a vontade de ficar ali, no ombro de Ava, o intrigava muito. Mas ele dormiu.
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Him | H.S
Ficção AdolescenteAva tinha apenas 15 anos quando se apaixonou por alguém que ela achava que conhecia. Quando o mundo todo só tinha olhos para ele e a vida era um conto de fadas que não tinha dragões. E talvez isso explique o porquê de tantas coisas terem acontecido...