Falling for Ya

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  Trinta minutos para o natal.

  Já estava tarde. Durante o resto do ano, aquele era o horário em que as crianças já estavam na cama — note que eu não disse "dormindo". Então, é claro que elas ainda estavam bem elétricas, ansiosas para saber o que havia dentro daquelas caixas enormes debaixo da árvore de natal.

  Aziraphale estava relaxando no sofá, atento ao programa especial de músicas do Michael Bublé, enquanto Crowley ajudava Madalena a descer as escadas, afinal, era culpa dele que ela estivesse machucada.

  — Você é tão alto que poderia descer em uma pernada só — comentou a mulher, sabendo que ele não entenderia. — Essa armação tá servindo pra eu tirar uma casquinha, pelo menos.

  — Eu posso não entender você, mas eu tenho vivência o bastante pra saber quando alguém está sendo maldoso.

  — Você é um gostoso!

  Crowley apenas desistiu e levou a mulher até o sofá.

  — Como ela está? — quis saber Aziraphale.

  — Tagarelando como uma bêbada.

  — Ela fala assim sempre — intrometeu-se Lucimara, entregando uma taça de vinho para Madalena. — O segredo é realmente deixar ela bêbada. Quando o álcool faz efeito, ela fica quieta como uma pedra.

  — Lucimara, ele parece um galã de cinema quando tá de terno. Eu tô até sentindo um calor...

  — O que ela está dizendo? — perguntou Az.

  — Hã... Ela está elogiando a roupa de vocês.

  — Que mentira — desdenhou Crowley, se jogando no sofá, ao lado de Aziraphale. — Ela é uma velha pervertida. Consigo sentir isso. O cheiro dos pensamentos dela.

  — Se esse gay enrustido não quiser você, eu faço questão de ser sua segunda opção.

  Crowley conteve um forte impulso de fazer o sinal da cruz naquele momento. O sinal da cruz é ótimo para afastar demônios, porém ele não tinha certeza se iria afastar Madalena ou se auto expurgar.

  — Se tudo der certo, o peru vai sair do forno exatamente meia-noite! — celebrou dona Jandira, descendo as escadas. — Graças aos nossos querido hóspedes, tive um tempo extra para me arrumar.

  — Ela está agradecendo pela a ajuda na cozinha — traduziu Lucimara, sorrindo.

  — Oh! — Aziraphale se pôs de pé e caminhou até a dona da pensão. — Você está linda como uma flor. Um encanto.

  A mulher cobriu a boca com a mão para esconder um sorriso envergonhado.

  — Você é muito doce!

  — Eu não entendi nada, mas obrigado.

  — Gente velha é tão chata — resmungou Rafael, que, juntamente com Pedro Henrique, ainda entendia tudo o que estava sendo falado por Crowley e Aziraphale.

  As duas crianças estavam sentadas no chão, ao lado da árvore de natal, ansiando pelo momento em que poderiam ver seus respectivos presentes.

  — Falta muito pra meia-noite? — perguntou Pedro, afobado.

  O menino mais velho pegou seu celular para olhar a hora.

  — Vinte e cinco minutos.

  — Aaaaarg, que tédio!

  No mesmo instante, duas taças de sorvete apareceram na frente deles. O que parecia ser apenas um sorvete comum de baunilha.

  Os meninos olharam para a porta da cozinha, de onde Aziraphale  acenava discretamente. Crowley logo se aproximou do anjo para comentar algo que eles não conseguiram ouvir, mas devia ser alguma reclamação relacionada ao sorvete, pois logo as taças foram aprimoradas com sabores diferentes e bastante cobertura confeitada.

O casal inefável de fériasOnde histórias criam vida. Descubra agora