único

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Durante as noites, Zoro tinha o hábito de fazer caminhadas pelo bairro que morava. Muito porque não aguentava o ambiente de casa com o seu pai e o saco cheio de latas de cerveja. Andar fazia suas ideias esclarecerem, e ele também sentia uma coceira, uma coceira que pedia para que ele movesse seus pés.

Calçava seu tênis da nike, usava um moletom e cobria a cabeça com o capuz, queria ser invisível e se esforçava muito pra isso. Era um rapaz silencioso, que estudava o segundo ano do ensino médio. Tinha somente dois amigos, Luffy e Usopp, e não se permitia ser mais que aquilo. Zoro queria ser uma pessoa comum.

Achava graça nisso.

Uma vez passou da ponte sobre o rio e caminhou pela floresta, um pensamento que estava indo longe demais permeou na sua mente, até porque não se lembrava de ter visto aquela ponte em algum momento, mas nunca admitiria que estava perdido. Era um cara focado.

Ele tinha certeza nisso.

Cheio de princípios e que nunca se submeteria ao que seu pai se transformou. Era o único desejo que Zoro pedia a Deus, apesar de não acreditar em um.

Pisava sobre o cascalho de folhas e galhos caídos das árvores e não se importava de sujar o tênis com a lama. Ele só queria seguir em diante e se tivesse um mar à sua frente, ele atravessaria o oceano a nado. Nada impediria um rapaz focado em seguir para lugar nenhum, na verdade, gostaria mesmo de poder morrer afogado, só pra aquela agonia passar. Quem ele queria enganar?

Zoro queria mudar! Não só de princípios vive um homem, e aquela vida miserável era tudo, menos algo comum. Ele queria ser feliz por mais que não admitisse.

De repente, viu uma luz e entendeu que era de uma lanterna. Não demorou muito e uma voz muito conhecida chamava por ele, parou o passo.

— Sobrancelha enrolada?

Sanji ouviu o carinhoso apelido que Zoro gostava de se referir a ele, e caminhou até onde veio a voz.

— Marimo? Onde você está?

— Na floresta.

— Eu sei, idiota! Mas onde?!

Estavam na margem do rio que Zoro atravessara pela ponte mais cedo, sentados e ouvindo grilos cantando. Sanji fumava um cigarro e ofereceu um para o amigo ao lado, que aceitou de bom grado. Sanji era um rapaz franzino e de pele pálida, Zoro o chamava de sobrancelha enrolada porque ele tinha mesmo uma espiral na sua extremidade. O olho esquerdo costumava ser coberto pela franja sedosa e em seu rosto já havia pêlos da puberdade. Sanji era a pessoa que Zoro mais odiava no mundo depois de seu pai — a propósito, ele também não tinha uma relação muito boa com o dele. — e o motivo era que ele queria mudá-lo.

Tirá-lo do mar e colocá-lo na terra para viver.

Zoro se perguntava por que aquele idiota pensava tanto nos outros e não em si mesmo, e o motivo de Sanji estar ali era exatamente por se importar com o marimo. Sanji acreditava que se morresse, o marimo finalmente estaria completamente sozinho naquele mundo. Luffy e Usopp eram muito idiotas e Zoro era mais velho do que eles.

— Então, eu tava demorando demais e você veio atrás de mim? — Perguntou Zoro, deitado sobre a relva e observando a lua cheia com o resto que faltava do cigarro preso entre o polegar e o indicador da sua mão esquerda, era canhoto.

Sanji ligou a lanterna na cara de Zoro, que se revirou para o outro lado incomodado com a luz forte.

— Tira essa luz da minha cara!! Onde arrumou isso?!

— Na garagem da minha casa.

— Seu pai vai te bater se souber que pegou algo dele.

— Isso é bem verdade, ele me bate por qualquer motivo. — Pensou. — Na verdade, por nenhum. — Riu, mas Zoro ficou sério.

O marimo levantou seu braço para tocar na face de Sanji, sentado ao seu lado, com as pontas de seus dedos. A cada dia que passava, aquele idiota tinha uma expressão mais triste em seu rosto e nem seus sorrisos gentis conseguiam disfarçá-la. Até porque o esmalte de seus dentes estava mais fraco com o tempo, aquele altruísta tonto não devia se alimentar muito bem.

Sanji pegou a mão de Zoro e a beijou, depois envolveu a palma em seu rosto e passou a sentir a temperatura do marimo.

— Venha. — Disse Zoro, enquanto batia no peito para Sanji deitar-se nele. — Me abrace logo de uma vez!

Repousou a cabeça no peito largo do marimo, que lhe envolveu com um braço. A testa de Zoro tombou no topo da cabeça de Sanji e ambos ouviam suas respirações, enquanto Zoro tateava o corpo do outro e percebia que estava mais magro.

— Um dia terá que me acompanhar numa dessas caminhadas.

— Não entendi.

— Estou dizendo que vamos atravessar o oceano e viver em outro continente.

— Pensei que você me odiasse... — Riu em ver o marimo encabulado.

— Isso é porque sempre me traz de volta...

Zoro começou a distribuir lentamente beijos na testa do sobrancelha enrolada, que ergueu a cabeça e o possibilitou de beijar os seus lábios. Se tocavam, o beijo ganhava força e suas esperanças eram renovadas. Sanji era o seu porto seguro. 

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