O GRITO - Uma História de Amor e Preconceitos

Untitled Part 1

Capítulo 1

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F

austo, por favor, atenda ao chamado.

Fausto abriu o celular, viu a mensagem de chamada não atendida, ficou pensativo e indeciso quanto a retornar àquela ligação de imediato. Estava em uma reunião crucial para a empresa Beta. A discussão tratava de uma conta milionária, e a tentativa era de renovar o contrato com o cliente, mas Fausto não queria se expor saindo antes da conclusão da reunião, o presidente da empresa não gostava que os presentes fizessem ou recebesse ligações que causassem interrupções desnecessárias.

Sua situação dentro da empresa era sofrível e questionada por alguns diretores, e sua permanência era sustentada pelo esforço do também diretor e amigo Nestor.

O motivo da indecisão de Fausto se explicava, ainda, pelas perseguições que vinha sofrendo por parte de alguns diretores em razão de sua orientação sexual, perseguições que embora veladas lhes causava apreensões e sofrimentos. Sentia-se, por vezes, inseguro quanto à maneira mais apropriada de lidar com a situação. Em princípio achou que seria bom trabalhar e não aceitar provocações; ouvi-las e fingir não entendê-las. Assim agia, esperando que dessa maneira e tendo a seu favor o fato de ser um dos melhores profissionais da empresa, que isso por si viesse, gradativamente, modificar a situação. Esperava que a consagração de sua competência profissional pudesse diminuir as ocorrências dos gracejos e calar as provocações.

Com quatro anos de empresa Fausto sabia que mesmo com o seu talento, capacidade profissional e esforço, sempre acima da média, que o apoio de Nestor era fundamental para que desempenhasse suas funções com tranquilidade, mas não se iludia, sabia que na sociedade as diferenças não são respeitadas como um direito do próximo, uma vez que ela é elitista, egoísta e individualista e que, com raríssimas exceções, poucos são solidários.

Fausto sempre sonhara conquistar uma posição em uma empresa de propaganda e marketing e foi na Beta que isso aconteceu. Na época de sua contratação havia muitos concorrentes ao cargo de Assistente de Marketing e por uma dessas coincidências da vida Sotero, seu psicanalista e ex-professor de Artes, o apresentara a Nestor. Ele, então, tomando conhecimento das suas aptidões, assumiu para si a incumbência de avaliá-lo e, posteriormente de contratá-lo.

Fausto olhou de novo para o celular, Arturo foi quem havia ligado.

Arturo tinha conhecimento da situação de Fausto na Beta e a respeitava mantendo total discrição e comedimento, não sendo normal, portanto, que ele ligasse em horário de trabalho. Se assim agira era porque precisava de fato de assistência e de atenção. Há poucos dias antes Arturo fora à Beta e passara mal, desde então, não conseguira falar com ele.

Arturo era seu amigo querido e companheiro com quem dividia um apartamento e uma vida. Desde o momento em que se conheceram a vida dos dois tomou rumos novos, os talentos profissionais desabrocharam, a autoestima se elevou transformando-os a ponto de enfrentarem situações difíceis com mais energia e postura positiva. As atitudes passaram a ser mais firmes e equilibradas. Fausto, então, levantou-se, pediu licença e saiu para retornar à ligação.

Capítulo 2

A

nita correu e conseguiu entrar no último vagão do Metrô um segundo antes das portas se fecharem. Respirou profundamente algumas vezes devido ao esforço da corrida. Pegou um lenço na bolsa e enxugou os cabelos loiros encaracolados. Sorriu e falou para si própria:

– Preciso fazer alguma coisa para melhorar minha condição física, uma corridinha de trinta metros me deixou acabada. Amanhã mesmo vou procurar a academia da empresa e fechar um pacote de ginástica. Acomodou-se no vagão cheio e suspirou. Falou baixinho de novo: