CAPÍTULO XLV ㅡ A Verdade Sobre O Pior Dia Da Minha Vida, Parte I

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Kim Namjoon



Já fazia pelo menos umas duas horas que eu estava sentado na cama com o livro de Terapia Familiar Sistêmica no colo tentando passar da terceira página. Mas eu lia no automático e não prestava atenção em uma palavra sequer.

Num rompante cansado e irritado, enfiei o marcador de página dentro da edição antiga do acervo da biblioteca da faculdade e o fechei, jogando-o para o lado com um descuido que ele não merecia. Soltei o ar e esfreguei meu rosto com força, como se arrastar minhas mãos pesadas por ele fosse arrancar toda aquela angústia de dentro de mim.

Me levantei brusco com o celular na mão e os fones vieram junto se arrastando pelo chão, fui até a cadeira da mesa de estudos pegar minha camiseta que ali estava pendurada, a vesti andando para fora do quarto, catei umas duas torradas do pote de cima da mesa de jantar, calcei meus tênis do lado de fora da porta e levei Sky para a calçada. Depois de trancar o portão, montei na minha companheira de anos e ajeitei os fones no ouvido, dei play na primeira playlist que vi e comecei a pedalar sem rumo.

Horas e horas sobre o asfalto frio daquele dia nublado de verão. Matt Maltese silabando melancólico no meu ouvido.

"Você é o único que me faz querer chorar"

"Você é o único que me faz sentir vivo."

O sol escondido atrás das nuvens suavemente acinzentadas não estava me entregando toda a vitamina D que eu precisava. Depositando toda minha pouca energia nas minhas pernas a cada pedalada, cheguei até a praia mais próxima. Quase duas horas depois.

Não tive coragem de descer na areia e ir molhar o pé no rio, porque chegando lá, sabia que olharia para trás e não o veria me observando com aquele sorriso meigo e distraído.

Meu rosto estava molhado em um misto de suor e lágrimas. Me ative em ficar na beira, observando o horizonte. Se alguém me perguntasse naquele exato momento o que estava sentindo eu não seria capaz de traduzir em palavras.

Da primeira vez que soube que a saudade podia doer eu tinha nove anos. Quando perdi meu pai. Da segunda vez, quando fui embora para a capital deixando minha família em casa, eu já sabia que doía. Mas senti como se nunca tivesse ficado sabendo. Da terceira vez, não estava sendo diferente.

Na verdade, estava. Porque o que eu senti quando Seokjin foi embora eu não havia nem chegado perto de sentir em qualquer outro momento da minha vida. Não se parecia com nada que eu já tivesse vivido ou sentido. E minha coleção de vivências e sentimentos era bastante extensa. Ele me fez perceber que eu nunca tinha me apaixonado de verdade por alguém. Não antes de conhecê-lo. Logo eu que sempre fui tão intenso e apaixonado.

Quando tentava mergulhar em meus afazeres cotidianos, algo dentro da minha cabeça tentava me fazer acreditar no quanto aquilo tudo era bobagem. Me deixar derrubar aquele tanto só por um amor?

Sim.

Eu era resistente, mas o amor é forte o bastante para conseguir me derrubar.

Minha mãe ligou aqueles dias para perguntar como eu estava. Percebi seu tom mais preocupado que o normal. Desconfiei que a pequena tivesse lhe contado algo e pedido para que me ligasse.

Com o tempo fui percebendo a preocupação de todos comigo, nos detalhes. Nos olhares de compaixão, nas mensagens repetidas com convites para sair, nos abraços demorados. Mas ninguém oficialmente tocava no assunto até que eu tocasse.

Num fim de semana qualquer, ignorando a existência do celular, me sentei no sofá da sala e liguei a TV para procurar um filme na tentativa de distrair a mente. Coloquei o primeiro de animação que passei o olho. O Castelo Animado. No final, como já era de se esperar, me acabei de chorar. Fiquei na mesma posição encolhido no estofado por um tempo depois que o longa metragem acabou, com o controle na mão, deixando as lágrimas saírem.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora