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Toda a gente diz que a Erica é muito perspicaz. Deve ter sido por isso que ela soube que estava interessada no Michael antes de eu o ter admitido seja a quem fosse, incluindo a mim própria. É verdade que eu por vezes sou demasiado sarcástica, mas só quando estou interessada num rapaz. Caso contrário sou do mais simpático e agradável que há. A Erica diz que isso revela que sou insegura. Talvez tenha razão, não sei.
Alguns minutos depois de termos saído da casa da Sybil, passamos pelo o hospital Overlook. Disse ao Michael que trabalhava ali todas as quintas-feiras, depois da escola.
- Sou assistente voluntária. -expliquei - e também nasci lá.
- A sério? Eu também lá nasci. - disse ele.
- Em que mês? Talvez tenhamos dormido ao pé um do outro no berçário.
- Maio. - respondeu ele.
- Oh, eu nasci em Abril.
Olhei furtivamente para ele. Tinha um perfil bonito, mas dava para ver que já tinha partido o nariz mais que uma vez.
O Michael desceu a colina em direção á Reserva Watchung.
- Eu costumava vir para aqui saltar. - disse ele.
Já o estava a ver numa honda XL70.
- Tinha um favorito... o Crab Apple... até me ter mandado ao chão e fraturado um braço.
- Ah... um cavalo! - ri-me.
Ele olhou para mim de relance.
- Pensei que estivesses a falar de uma mota. - disse eu. - Eu nunca andei de cavalo.
- Já reparei... não faz o teu estilo.
Seria isto bom ou mau?
- Como sabes? - perguntei.
- Sei.
- E o que sabes mais?
- Mais tarde te direi. - Ele sorriu para mim e eu devolvo-lhe o sorriso. - Tens umas covinhas bonitas. - continuou.
- Obrigada... Toda a gente na minha família tem.
Estacionou o carro e saímos. Estava frio e vento, apesar de o sol brilhar. Andamos até ao lago. Estava parcialmente gelado. O Michael agarrou numa mão cheia de pedras e atirou-as por cima da água.
- Que fazes no próximo ano?
- Vou para a universidade.
- Onde?
- Ainda não sei. - respondi. - Inscrevi-me em Penn State, Michigan e Dever. Tenho de ver onde sou aceite. E tu?
- Na universidade de Vermont, espero, ou então na Middlesbury.
O Michael pegou-me na mão e tirou-me a luva, metendo-a no bolso. De mãos dadas, caminhamos á volta do lago.
- Gostava que nevasse. - disse ele, apertando-me os dedos.
- Eu também.
- Fazes esqui?
- Não.. apenas gosto da neve.
- Eu adoro esquiar.
- Sei fazer esqui aquático. - disse-lhe.
- É diferente.
- És bom? ... No esqui, obviamente.
- Pode dizer-se que sim, podia ensinar-te.
- A esquiar?
- Sim.
- Era bom.
Caminhamos até ao Museu Trailside e demos uma vista de olhos lá dentro, até que Michael olhou para o relógio e disse:
- É melhor voltarmos.
- Já?
- Já passa das duas.
Os meus dentes rangiam e de certeza que as minhas bochechas estavam vermelhíssimas do vento. Mas não me fazia diferença. O meu pai diz que me fica bem, que fico com um ar saudável.
De volta ao carro, esfreguei as mãos para as aquecer enquanto o Michael ligava o motor. Foi-se abaixo algumas vezes e quando finalmente pegou, ele acelerou.
- É melhor deixá-lo aquecer. - disse ele e virou-se de frente para mim.
- Posso beijar-te, Katherine?
- Perguntas sempre primeiro?
- Não... mas contigo não sei bem o que me espera.
- Experimenta. - disse eu.
Ele tirou os óculos e pôs-os em cima do tablier do carro. Molhei os lábios e o Michael continuou a olhar para mim.
- Estás a deixar-me nervosa. - disse-lhe - Pára de olhar para mim.
- Só te quero ver sem os óculos.
- E então?
- Estás toda desfocada.
Rimos.
Finalmente ele beijou-me. Foi um bom beijo, quente e nada desejado.
Antes de chegarmos a casa da Sybil, o Michael parou o carro e beijou-me outra vez.
- És deliciosa. - disse.
Nunca nenhum rapaz me tinha dito isto. Ao sair do carro a única coisa que me ocorreu dizer foi " Adeus...", mas não era nada o que eu queria ter dito.

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