𝟎𝟎𝟐 - 𝑾𝒂𝒏𝒅𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆 𝒐 𝑨𝒓𝒕𝒊𝒔𝒕𝒂

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Haviam-se passado os meses, as aulas suspensas logo retornariam e eu voltaria à Nevermore com mais perguntas do que respostas. Todas as pontas ficaram ainda mais soltas após o encontro com o Hyde, mas eu não imaginava o que estaria por vir.
O stalker aparentemente se esconde em Nevermore, ou reside em Jericho, não sei dizer, já que não recebi mais mensagens estranhas desde o incidente com o Hyde.
Naquele dia Tyler simplesmente fugiu e eu não consegui fazer nada a respeito, não tive mais notícias do mesmo e nem sequer pude falar com alguém sobre isso, afinal, o que pensariam se eu dissesse que simplesmente o deixei ir. Os integrantes da família Addams ainda tentavam entender como o mesmo fugiu de mim naquela fatídica manhã, mesmo imaginando que eu o faria sofrer. Felizmente, o Mãozinha ficou trancado no carro quando eu consegui sair do mesmo, então não pôde presenciar minha conversa e interação patéticas com o hyde.
"Momento conveniente para repensar quais são os caras que me interessam", pensei irada. Ainda sim, foram muitas perguntas feitas, tanto pela família, quanto pela polícia, e, por mim mesma, como pude ceder tão facilmente àquele que tramou contra mim? Porque meu coração parou ao vê-lo partir? "Eu te odeio Tyler" pensei.

O retorno às aulas estava me distraindo, consegui escrever algo, pois desde o incidente com o Hyde, não havia digitado em minha máquina de datilografia sequer uma palavra.
Noto que uma mensagem de Xavier Thorpe chega em meu estresse de bolso.

"Estou feliz por te ver novamente! 👀"

Xavier têm sido muito insistente em me mandar mensagens e expressões estranhas. Noto que seu interesse pela minha pessoa cresce a cada retorno de minha parte.

"Sim." Foi como o respondi, curta e fria.

Eu, na verdade não conseguia pensar em mais nada além daquele dia e ainda embora eu odeie o âmbito acadêmico que requer convivência social, naquele momento me parecia muito mais estimulante estar em sociedade do que ficar a sós com meus pensamentos.

SALTO DE TEMPO

O semestre inicia em Nevermore. Na próxima segunda-feira estaremos a todo vapor socializando e imergindo nas futilidades cotidianas, apenas ignorando que há alguns meses nós fomos caçados por um peregrino zumbi, uma padrão cafona e um serial killer adolescente.

Cheguei em Nevermore na sexta-feira a noite, o quarto que será compartilhado por mim e Enid neste semestre ainda se encontrava vazio, o que indica que terei que lidar com a solidão perturbadora por mais alguns dias. Eu esperava ser recepcionada por uma tentativa de abraço caloroso, música Kpop horrorosa e um berço dos ursinhos carinhosos, sinto náuseas e um leve conforto em imaginar. Mesmo que não fosse o caso, eu já me sentia acolhida pelo quarto antigo da casa Ofélia.
Começo a organizar os meus itens e a desfazer as malas, quando o meu estresse de bolso vibra sem emitir qualquer som perturbador. Era uma mensagem de Xavier:

"Você chega no domingo?" perguntou, demonstrando certo interesse em mim.

"Já estou no campus" respondo curta.

"Ah! Sério? Você está na casa Ofélia? Posso ir aí?" pede, ansioso.

Minha impulsividade e curiosidade me levam a uma atitude abrupta, sem mais nem menos, largo o celular em cima da cama e saio pela porta do quarto, trancando-o logo em seguida. Vou até o prédio masculino na qual reside Xavier e subo até o seu quarto discretamente.
Percebo que não há muitos alunos alojados ainda, e, rapidamente bato na porta enquanto observo o corredor.

— Mas quem poderia s... — Interrompo-o, tampando sua boca com uma de minhas mãos, logo após ele abrir a porta. Entro no quarto e fecho a porta com a outra mão.

— Com aulas ou não, ainda é proibido eu estar em um dormitório masculino. — comento, tirando minha mão de sua boca e me afastando.

— Uau, Wandinha. O que a traz aqui? — pergunta, aparentemente feliz e surpreso.

— Nem eu sei bem. — respondi-o, seca. — Quero me distrair de alguma forma e imaginei que cometer uma infração seria divertido.

— Vir ao meu quarto? Bom, a Bianca vinha com certa frequência aqui... — comentou. Um completo tolo.

— Por favor me poupe dos detalhes. — comentei, desta vez, visivelmente incomodada.

— Desculpa. Bem, podemos ver um filme de terror ou jogar algo. — diz, sorrindo e me olhando nos olhos.

— Vamos ver um filme. — digo me dirigindo a sua cama sem ser convidada. Noto-o inquieto e ansioso. Ele parecia estar pronto para dormir, será que ele chegou há muito tempo?

Vestia uma samba canção e uma camiseta básica. Quando reparo em suas vestes me sinto incomodada por ser invasiva, já que eu pensava que o propósito do estresse de bolso era justamente facilitar a comunicação e impedir os incômodos como esse, mas eu fui impulsiva e egoísta e vim sem ao menos avisar.
Ele se senta ao meu lado e liga a televisão no controle remoto, procura algum filme em seu celular e o conecta.

Xavier parecia tenso e quieto, já que ainda não fez nenhuma pergunta sobre qualquer coisa ou tentou me impressionar com suas habilidades. Apesar de notar o seu desconforto, eu me sentia confortável ao seu lado, nesse momento silencioso e acolhedor. Estar ao seu lado é como se eu estivesse sozinha, mas sem os pensamentos ininterruptos apenas com a minha própria companhia.

Observando-o notei que Xavier parecia cansado, com grandes bolsas abaixo dos olhos. Notei que o mesmo caía no sono, momentos após o início do filme. Ele encostou-se em mim, fazendo-me sentir um certo embrulho com seu toque e proximidade, mas apenas aceitei, pois senti estar prestes a cair no abraço do sono também.

SONHO/VISÃO ON

Estou tendo um sonho, algo que considero muito repentino, pois não sonho há meses.
Me vejo sozinha em uma floresta a correr, mas sem saber para onde. De repente, ouço um ranger ensurdecedor e uma voz que não reconheço fala:

"Sabe, Wandinha, uma vez Edgar Allan Poe disse que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano."

Não encontro mais ninguém, estou sozinha na floresta e ao caminhar me encontro nas ruínas da casa comunitária original.
Me vejo ser apanhada por algo, ou alguém. Não entendo pois, minha visão começa a embaçar e sinto algo encostando em meu braço.

SONHO/VISÃO OFF

Acordando de meu sonho, noto que Xavier está em cima de mim com um semblante assustado e que parece falar algo.
Minha visão ainda está turva, minha audição está muda e logo retorno para uma visão.

VISÃO ON

Estou de volta na floresta, segurando a mão de Tyler Galpin que corre junto a mim pelo percurso.

"Você precisa sair daqui! Ele virá por você!" Ele exclama, assustado.

VISÃO OFF

Retorno a realidade e dou de cara com um Xavier completamente apavorado a me sacudir com alguma força. "Hum, eu até que gostei disso" penso e rio mentalmente. Ele parecia estar desesperado então me ergui rapidamente fazendo com o que o mesmo saísse de cima de mim rapidamente.

— O que houve? — pergunto-o esfregando meus olhos.

— Eu não sei. Você esteve grunhindo coisas durante horas enquanto sonhava, aí eu decidi te acordar, mas logo você voltou para uma visão e ficou mais uma hora inteira imersa nela e completamente desacordada. Fiquei muito assustado, não entendo como ocorrem as suas visões. — contou, enquanto apertava suas mãos.

— Entendo. — falo, enquanto levanto de sua cama ainda fora de mim. — Que horas são?

— São 5:45h da manh... não tem mais nada que queira me dizer?! — pergunta, ainda ansioso.

— Preciso retornar a casa Ofélia. — falo, enquanto abro a porta de seu quarto rapidamente e me retiro do mesmo.

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Sugestão de música para entrar no clima da autora:

New Order - Blue Monday
Hotel Ugly - Shut up my moms calling 

𝙥𝙧𝙚𝙨𝙖𝙜𝙞𝙤 𝙙𝙞 𝙢𝙚𝙧𝙘𝙤𝙡𝙚𝙙𝙞́ - Tyler x Wandinha x XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora