LARISSA SANTOS - Lumiar, Nova Friburgo - RJ
Larissa esvaziou a taça de vinho pela segunda vez naquela noite e depois a apoiou na mesa de madeira rústica com uma força um tanto exagerada.
– Relaxa – disse Aline, sentada à sua frente, mexendo a laranja no coquetel de vodca e refrigerante.
– O que você acha que estou tentando fazer? – perguntou Lari, servindo um pouco mais de Syrah em sua taça.
Ela sabia que se arrependeria, porque vinho tinto sempre lhe dava dor de cabeça, mas Sophia ia passar a noite na casa de Fred pela primeira vez depois de dois anos, aí ela dissera a Aline que queria sair, espairecer, ficar longe dele e daquele sorriso implacável que dizia "Sou um cara legal!" e daqueles olhos castanhos reluzentes. Então ali estava ela, meio bêbada, na Taverna da Stella, o único bar de Lumiar aberto, tentando não hiperventilar. O jukebox neon, no canto do salão, tocava uma música country horrível.
– Acho que o álcool não está ajudando – comentou Aline.
Virou a cabeça e analisou as pessoas. A maioria eram caras jogando sinuca e um bando de universitários que tinham vindo passar o verão em casa.
– É, não está mesmo.
– Quer ir pra outro lugar? – Aline apertou sua mão. – Podemos voltar pra sua casa e ver um filme.
Lari balançou a cabeça. Estava inquieta, como quando experimentara maconha com Fred no último ano da escola e passara duas horas com o coração a mil. Precisava gastar um pouco de energia, e ficar sentada em um sofá bebendo e comendo restos de pizza não ia ajudar em nada.
– Eu só preciso de alguma distração – disse.
Aline ergueu as sobrancelhas.
– Que tipo de distração?
Sua voz saiu em tom de provocação, e Larissa sabia exatamente aonde a amiga queria chegar. Aline estava sempre lendo romances e era famosa por tentar cultivar finais felizes para as amigas, ainda que só durassem uma noite.
– Tipo... – Aline fez um gesto com as mãos, instigando Lari a continuar. Ela revirou os olhos, mas sorriu.
– Tá, tá bom. Isso. Esse tipo de distração mesmo.
– É?
– É.
Aline juntou as mãos, batendo as palmas uma vez, e as esfregou como uma vilã malvada.
– Aí sim! Faz uma eternidade que você não transa com ninguém.
Larissa soltou um "Shhh!" e se inclinou para a frente.
– Dá pra ser mais discreta?
– Ser mais discreta não vai te ajudar a pegar ninguém.
– Ah, meu Deus, será que dá pra você...
– Aí, Rio de Janeiro! – disse Aline, em voz alta, colocando as mãos em volta da boca e se levantando. Cabeças se viraram em sua direção, as bocas já sorrindo como sempre acontecia quando Aline Wirley erguia a voz.– Quem aí quer uma chance com essa bela dama que está aqui comigo? Ela está precisando desesperadamente de uma boa trep...
– Ai, meu Deus, Aline!
Larissa puxou a blusinha leve sem mangas da melhor amiga, quase torcendo para ter rasgado a bainha. Aline se jogou de volta na cadeira enquanto o rosto da outra ardia como se fosse o núcleo do Sol.
Todos estavam olhando para elas, muitos erguendo a sobrancelha. Matheus Azevedo, que fazia comentários extremamente inadequados sobre a bunda de Larissa na escola, se virou no banco do bar e levantou a cerveja em um brinde na direção dela. Hannah Li, que era a professora do jardim de infância, pelo amor de Deus, abriu um sorriso tão lindo antes de piscar os cílios compridos que o estômago de Lari se revirou.
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Clouds - Brulari
FanfictionBruna Griphão jurou nunca mais voltar ao Rio de Janeiro, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Key. Em São Paulo ela tem uma carreira como fotógrafa em asc...