𝙳𝙾𝙸𝚂

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   Os Aɢᴇɴᴛᴇs Dᴇ Sᴇɢᴜʀᴀɴᴄ̧ᴀ estão por toda parte; os uniformes preto e prata destacam-se na multidão. É a Primeira Sexta, e eles não veem a hora de assistir os eventos. Portam armas pequenas, apesar de não precisarem. Os agentes são prateados, e os prateados não têm nada a temer de nós, vermelhos. Todo mundo sabe disso. Não somos iguais, embora talvez não dê para perceber só de olhar. A única coisa que nos diferencia ao menos por fora é que os prateados andam eretos. Já nossas costas são curvadas pelo trabalho, pela esperança frustrada e pela inevitável desilusão com nosso fardo na vida.

   O calor dentro da arena descoberta é o mesmo do lado de fora, e Win-ho, sempre na ponta dos pés, me conduz para debaixo de uma sombra. Não há assentos para nós, apenas uns bancos grandes de concreto, mas os poucos nobres prateados desfrutam de camarotes frescos e confortáveis na parte superior. Lá, dispõem de bebidas, comida, gelo mesmo no auge do verão , cadeiras estofadas, luz elétrica e outras comodidades que jamais teremos. Os prateados nem ligam para isso e reclamam da sua "condição miserável". Tudo o que há para nós são bancos duros e alguns telões com tantos chuviscos e chiados que mal podemos enxergar.

— Aposto um dia de salário que hoje haverá mais um forçador Win-ho diz enquanto joga o resto da maça no chão da arena.

— Sem apostas disparo.

   Muitos vermelhos apostam nas lutas com a esperança de ganhar um pouquinho de dinheiro que os ajude a atravessar mais uma semana. Eu não aposto nem com Win-ho. É mais fácil surrupiar a bolsa do corretor de apostos do que ganhar algum dinheiro jogando.

— Você não devia desperdiçar seu dinheiro desse jeito.

— Não é desperdício quando você tem razão. Sempre tem um forçador espancando alguém.

   Os forçadores geralmente participam de metade das lutas. Seu talento e sua técnica os tornam mais aptos à arena do que a maioria dos prateados. Para eles, parece prazeroso usar sua força sobre-humana para arremessar outros campeões como bonecas de pano.

— E o outro? pergunto, pensando na gama de prateados que poderiam aparecer. Telecs, lépidos, ninfoides, verdes, pétreos; todos uma dureza de ver.

— Não sei direito. Tomara que seja legal. Um pouco de diversão não cairia mal.

   Min-ho e eu não vemos as Efemérides da Primeira Sexta com os mesmos olhos. Para mim, assistir a dois campeões se digladiando, não é nada agradável, mas Min-ho adora. "Deixe que se destruam" ,  diz. "Não são nossa gente."

   Ele não entende o que são esses shows. Não se trata de um simples entretenimento, um descanso para o nosso trabalho cansativo. É uma mensagem fria e calculista. Apenas prateados podem lutar na arena porque apenas eles podem sobreviver à arena. Lutam para nos mostrar sua força e seu poder. "Vocês não são páreo para nós. Somos melhores. Somos deuses": é isso que cada golpe dado pelos campeões quer dizer.

   E eles têm toda a razão. No mês passado, assisti a uma luta entre um lépido e um telec. Embora o lépido se movesse mais rápido do que conseguíamos ver, o telec o imobilizou completamente. Ele ergueu o adversário do chão apenas com o poder da mente. O lépido começou a sufocar; acho que o telec agarrou a garganta dele de algum jeito invisível. A luta terminou quando o lépido ficou azul. Min-ho comemorou. Ele tinha apostado no telec.

— Senhoras e senhoras, prateados e vermelhos, bem-vindos à Primeira Sexta, a Efeméride de agosto.

   A voz do locutor ecoa pela arena, amplificada pelas muralhas. Soa entediada, como de costume, mas não o culpo por isso. 

O REI VERMELHO - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora