Há 8000 anos atrás, no Médio Oriente, nasceu uma bela frutinha chamada Uvinha. Uvinha nasceu numa família de 23 irmãos, todos agarrados uns aos outros. Num belo dia de sol, Uvinha e os irmãos foram recolhidos para cumprirem o seu propósito: transformarem-se em vinho.
Uvinha sempre foi uma fruta rebelde e como não queria ser transformada em vinho, conseguiu despegar-se dos irmãos e saltar do cesto onde estava. Uvinha viu-se sozinha e assustada, até que uma criança a viu no chão e decidiu apanhá-la. Em vez de a comer, a criança levou-a para casa, onde permaneceu, dentro de um tupperware, até ao dia seguinte. Quando Uvinha acordou, olhou para o seu lado direito e viu um borrão vermelho. Ainda estava ensonada, então, perguntou o nome do seu novo colega.
— Moranguito – respondeu o borrão vermelho – e tu?
— Uvinha – dizia, enquanto coçava os olhinhos.
Quando o sono lhe passou, Uvinha viu um lindo morango vermelho a sorrir para ela. Os dois apaixonaram-se naquele momento e começaram a falar mais, e mais, e mais. Uvinha partilhou a sua história, e de como escapara de ser transformada em vinho. Moranguito também partilhou a sua história, contando que o seu destino era ir com as irmãs para um supermercado, até que foi apanhado por um homem, e acordou num tupperware.
Após se conhecerem melhor, Uvinha engendrou um plano para saírem do tupperware. O plano estava bem pensado, mas havia um pequeno problema que nenhum deles soube resolver: todas as frutas apodrecem passado uns dias, e eles não eram excepção. Após pensarem muito no assunto, e não arranjarem nenhuma solução, Moranguito viu uma mulher a abrir a porta de uma arca, e a tirar uma carne congelada.
— Tive uma ideia! – exclamou, animado – e se nos congelarmos?
— Não sei. Tenho medo do frio!
—Não tenhas! É bom para nós. – sorriu – Se congelarmos, podemos prolongar a nossa vida por muito mais tempo!
—Por mais umas horas? – disse Uvinha, desanimada.
—Anos!! – exclamou Moranguito, abraçando Uvinha.
Após uma grande persistência por parte do Moranguito, Uvinha decidiu arriscar, e ambos foram para perto da arca. Quando chegaram lá, pediram ajuda para subirem, mas ninguém respondia, até que uma linguiça abriu uma das portas e esticou-se até conseguir apanhar as frutas.
Ao chegarem ao local, ficaram cheios de frio.
— Depois habituam-se – disse a linguiça, enquanto se ria das frutinhas – eu também tive muito frio quando cá cheguei.
Uvinha e Moranguito olharam-se nos olhos.
— Venham comigo! Quero apresentar-vos um sítio.
E lá foram os três. Afastavam-se cada vez mais da porta, e aproximavam-se cada vez mais do frio.
— Onde é que estamos? – murmurou Uvinha.
— Podem falar alto! – gritou a linguiça– Apresento-vos a parte fixe da nossa cidade.
"Cidade?" - pensou Moranguito.
Passaram uma porta feita de cubos de gelo, e entraram na cidade prometida.
— Wow... – as duas frutas olhavam em volta. – Que sítio é este? – perguntou Uvinha.
A cidade prometida parecia Nova Iorque, Las Vegas e todas as cidades luminosas e ricas durante a noite. Tinha luzes, edifícios de gelo, e imensos alimentos a viverem as suas vidas.
— Aqui vivem todas as comidas que foram esquecidas.
— Esquecidas? – pergunta Uvinha.
— As pessoas costumam comprar comida para guardar.
Uvinha e Moranguito olharam-se. Ficaram surpresos com o discurso da linguiça.
— Não faz sentido. Comprar comida? E depois guardam? – questiona o Moranguito.
— Pois! – exclamou a linguiça – eles compram comida para comer e para guardar. Não sei se faz muito sentido, mas eles acham que faz.
Uvinha e Moranguito olharam-se novamente. Eram frutas vindas das árvores. Não sabiam o que era estar à venda.
— Querem explorar? – perguntou a Linguiça.
— Tu foste comprado? – perguntou Uvinha.
— Fui. – sorriu – há muito tempo atrás. Tinha uma família, amigos... Tudo desapareceu.
— Ohhh! – Uvinha e Moranguito padeciam da mesma tristeza.
— Mas isso não importa! Fiz muitos amigos aqui! E vocês? São o quê?
— Eu sou um morango, e ela é uma uva!
— Ahahah! Não estava a falar disso. Eu sei o que são morangos, e o que são uvas! Temos imensas a viver aqui. – linguiça sorriu – quero saber o que são!
Uvinha e Moranguito estavam confusos.
Linguiça, espantado com a inocência das frutas, voltou a explicar.
— Namorados? Amigos? Melhores amigos?
— Aaahhhh!! – exclamaram as frutas.
— Somos...
— Melhores amigos! – exclamou Uvinha.
— Sim! – Moranguito sorriu.
— Muito bem! Toca a explorar, amigos!
Lá foram os 3. Uvinha estava espantada. Nunca tinha visto algo assim. Moranguito observava as luzes, e os edifícios.
Foram até ao café que estava a ali perto e sentaram-se.
— Há quanto tempo estás aqui? – perguntou Uvinha.
— Há muito! Compraram-me, meteram-me aqui, e esqueceram-se de mim.
— Mas estás aqui sozinho? – questionou Moranguito.
— Claro que não! – exclamou a linguiça – Vivo com amigos, que vieram comigo.
— Então, conheces mais gente? – perguntou Uvinha.
— É claro! Vivo com um grupo de batatas fritas e uma salsa!
— Nunca vi nenhuma salsa – disse o Moranguito.
— Suponho que nunca tenhas visto nada de nada. – afirma linguiça.
— O que podemos comer? – perguntou Uvinha.
— O que quiseres! É só pedires!
Os 3 comeram, e conversaram, para se conhecerem melhor. Estavam muito divertidos. Conheceram mais sobre as histórias de vida de cada um, e partilharam sonhos e vontades que iam tendo.
Como estava a ficar tarde, Linguiça convidou as frutinhas para dormirem na casa dela. Ao chegar a casa, Uvinha e Moranguito depararam-se com 300 batatas fritas sentadas num sofá enorme!
— 1, 2, 3, 4, 5... – contava Uvinha.
— São as batatas que nos falaste? – perguntou Moranguito.
— 12, 13, 14, 15...
— Sim! – linguiça sorriu – são os meus amigos!
— 24, 25, 26, 27, 28... – Uvinha continuava.
— Uau! – exclamou Moranguito – Tantos amigos! E onde vamos dormir?
— Acompanhem-me!
Linguiça apresentou o quarto onde as frutinhas iriam passar a noite.
— Muito bonito! – disse Uvinha.
— Onde está a salsa? – perguntou Moranguito.
— Trabalha à noite. Amanhã, de manhã, podem-se conhecer!
— Ok! – exclamou Moranguito, animado.
— Se precisarem de alguma coisa, é só chamar!– exclamou a linguiça.
— Obrigado! – responderam as frutinhas, em coro.
Linguiça deixou os pequenos à vontade.
Uvinha atirou-se para a cama, e Moranguito foi atrás, ajeitando-se.
— Gostaste do dia? – perguntou Moranguito.
— Adorei! Foi uma aventura! Nem quero imaginar no que poderia ter acontecido se tivéssemos ficado naquela caixa.
— Sim... – Moranguito olha para Uvinha – Gostei muito de estar contigo hoje!
— Eu também! És muito inteligente, e és um Moranguito muito bonito!
— Tu também és uma Uvinha muito linda!
Os dois enroscaram-se e conversaram até adormecer. A meio da noite, dormiram de conchinha. Estavam cansados e, o amanhã, era um novo dia, e eles iriam viver mais aventuras juntos.
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A história da Uvinha e do Moranguito
AdventureUma história para crianças sobre uma uva e um morango que estão prestes a morrer, quando são salvos por uma ideia brilhante! Após se salvarem, vivem aventuras e histórias de amor!