Os freios quase não funcionaram quando Alexa percebeu que estava há poucos metros do seu lugar preferido. A brisa gelada da noite atingiu-a antes mesmo de abrir a porta. A grama penicando suas pernas desnudas e as finas gotas do sereno não eram motivos suficientes para fazê-la parar.
Com a manga da camiseta surrada, ela enxugou as lágrimas de suas bochechas e aproveitou para tirar o óculos de seu rosto. O objeto só estava dificultando sua visão. Seus pés pisaram despreocupadamente no meio do mato. Alexa não estava preocupada com cobras ou qualquer inseto venenoso. Ela não estava preocupada com nada.
Quando finalmente alcançou o ponto mais alto da montanha íngreme, ela parou. Seus olhos contemplaram a imensidão ao seu redor antes de se voltarem para baixo. Sempre teve vontade de ficar na beirada, mas nunca teve coragem. Boba. Perdeu a chance de aproveitar aquela linda vista inúmeras vezes.
O som das ondas da cachoeira quebrando não eram nada se comparados ao som das batidas que seu coração dava no momento. Seus olhos correram pela água que descia e desaguava no imenso oceano, calma e pacificamente. Era isso que ela queria. Paz.
Quando Alexa abriu os braços e encheu seus pulmões com o ar gelado da noite, foi como se tudo estivesse bem. Como se ela nunca tivesse tido um pai alcoólatra ou uma mãe psicótica. Como se seus amigos ainda acreditassem nela e que Mayse nunca tivesse trocado-a por Scott. Foi como se Peter ainda estivesse vivo.
Peter... ela iria se reencontrar com ele em breve.
O vento soprou mais forte dessa vez, bagunçando seus cabelos. Não muito longe dali, ela escutou o ranger do motor de algum carro. Sabia que não tinha tempo. Levou uma das mãos ao colar de prata preso ao seu pescoço e arrancou-o de uma vez, deixando-o jogado em cima da pedra a qual ela havia escupido as iniciais A+M, seis meses atrás.
Alexa não se importou com as vozes gritando por seu nome, nem com os passos pesados e apressados em meio à mata quando ela fechou os olhos e deixou que seu corpo caísse para frente, em direção ao abismo. Os poucos segundos que se passaram desde o momento em que seus pés deixaram de tocar o chão foi quando ela finalmente pôde se sentir livre. Se Alexa tivesse tido tempo, ela afirmaria que aqueles foram os melhores segundos da sua vida.
E, como curtos flashes, ela reviveu toda sua existência. Desde o momento em que respirou pela primeira vez, até o momento em que sua cabeça se chocou com as pedras e seu corpo girou desordenadamente pela parede de terra antes de afundar nas águas geladas da imensidão azul.
Depois de dezenove anos, ela finalmente encontrou a paz.
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.Eu não faço ideia se alguém vai chegar até aqui, mas eu senti que precisava publicar essa.
Enfim, espero que estejam bem e, se por algum motivo, vc pensa em cometer suicídio, procure ajuda. É estupido dizer isso mas é a melhor solução. Ou se você só precisar de alguém para conversar, eu estou disposta a ouvir (mas não vou dar conselhos, sou péssima nisso).
Fiquem bem.
Eu me importo com cada um de vcs.
Se cuidem e até a próxima 🌹🌹
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Peace
Short StoryQuando finalmente alcançou o ponto mais alto da montanha íngreme, ela parou. Seus olhos contemplaram a imensidão ao seu redor antes de se voltarem para baixo. Sempre teve vontade de ficar na beirada, mas nunca teve coragem. Boba. Perdeu a chance de...