Sociedade da Lua

Parte I Casa conselheira/ Capítulo 1- 10 anos

A era do homem acabou
Uma escuridão chega no alvorecer
Essas lições que aprendemos aqui
Estão apenas começando

Nós éramos os reis e rainhas da promessa
Nós éramos as vítimas de nós mesmos
Talvez os filhos de um Deus menor
Entre o céu e o inferno

Kings and Queens- thirty seconds to mars

Estava chovendo, e esse fato por si só já era uma benção. Eu acordei quando o barulho das gotas fartas se tornou intenso de mais, em contato com minha janela. Eu amo dias de chuva, desde que me entendo por gente. Alguns mentores aqui da casa conselheira dizem que é porque nasci em um dia de chuva. Mas para mim, é o fato de que a chuva limpa e purifica tudo. Onde eu moro os dias são sempre quentes, e não raro, muito seco também. Mas quando chove, nós podemos nos dedicar a fazer as atividades de chuva, que consistem em brincar lá fora. Em dias de sol, geralmente estamos no complexo de treinamento a maior parte do tempo. Eu gosto do complexo também, mas como brincar na chuva poderia não ser melhor do que ler, estudar, memorizar e contar?

Resolvi levantar-me logo, antes que meu despertador tocasse, para não acordar todo o meu dormitório. Eu sou a única menina aqui no pavimento, na verdade acho que sou a única menina em quilômetros de propriedade. E na minha safra, sei que éramos apenas duas. Infelizmente perdi o contato com a outra quando fui para o segundo nível. Não sei por que fomos separadas. Tecnicamente deveríamos ter ficado juntas já que temos a mesma idade.

Fui até o banheiro e fiz minha higiene matinal. Miro meu reflexo no espelho após lavar meu rosto. Eu tenho uma pele marrom clarinha, parece que misturaram creme no chocolate. Meus olhos são de um marrom claro brilhante, lembram o mel em certas ocasiões quando ficam mais dourados. Hoje estão assim, acredito que seja a expectativa de brincar na chuva. Meu cabelo é curto como de todos aqui no complexo, não faço ideia de sua textura, já que nunca os vi maiores. Uma vez ao mês, no começo da lua minguante, nós do terceiro nível precisamos cortar os cabelos. É um evento, são todos levados a barbearia, e ficamos em fila sem a parte superior do uniforme, então vem o Dada, ele não é um mestre, mas ajuda nos cuidados com todos nós, ele vem com a tesoura e a máquina, raspa nossa cabeça na parte de baixo a partir da nuca, e deixa um pouco de cabelo no topo. O curioso é que ele mantém os loiros cabelos e barba longos, enquanto nós temos nossos cabelos bem rentes.

Por enquanto eu sou baixinha, mas já notei que assim que os indivíduos alcançam o quarto nível, todos ficam muito altos, então eu sei que também ficarei.

Visto meu uniforme, que é composto de uma camisa longa que vai até o meio das minhas coxas, ela tem botões na altura do meu externo. Escolhi uma de mangas curtas hoje, para poder sentir o máximo da chuva por minha pele exposta. Em seguida visto também minha calça, que vai até o meio das minhas canelas, são bem larguinhas, chamam de pantacourt. Nosso uniforme é todo em tons neutros e terrosos, variam entre o cru, bege, marrom claro e ocre. Eu gostaria de ter alguma roupa da cor das flores para variar um pouco. Além das camisas longas, temos batas, são iguais as camisas longas, mas chegam até o quadril, e além de calças pantacourt, temos calças pantalona, e calças saruel, a maioria cáqui, ou cru. Faz parte do uniforme usarmos dois tipos de avental, um que é um jaleco de linho cru com fechamento em botões de madeira na frente, e tem bolsos laterais. O outro é de couro bem levinho, com duas tiras que cruzam as costas, e duas outras uma em cada lateral que envolvemos em nossa cintura. Esse segundo nós usamos para atividades mais braçais, pois ele protege melhor nossas roupas. Hoje eu não usarei nenhum deles pois vou brincar na chuva.

Faço alguns exercícios de alongamento, que sempre me ajudaram a despertar, ensinados por Caius. Essa é minha rotina desde que cheguei no terceiro nível. Acordar, ir ao banheiro, alongamento, desjejum com Jabari e Caius, meus melhores amigos. Eles discordam desse termo, preferem ser chamados de tutores, mas eu não ligo.