Capítulo 2

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Você me diz que eram amigos

Mas nós apenas nos contentamos em fingir

A maneira como você está me levando

Você me deixou viciado em seu amor maior

Assim como uma batida no meu coração

Oh seu meu amor furacão

Sim, nós apenas fazemos o que queremos

E no final podemos romper

Oh, eu simplesmente não consigo ter o suficiente

Deste amor furacão- Hurricane love, La Women

Realmente, Danso estava certo, eu já conhecia Kareem de vista. No primeiro momento, assim que bati meus olhos nele cataloguei em minha mente todas as suas características físicas. Ele é pequeno e magrinho, como eu, mas sua pele é muitos tons mais clara e tem um tom amarelado. Seus olhos são tão puxadinhos que quase não se abrem, as sobrancelhas ficam o tempo todo cerradas como se ele estivesse tentando enxergar mais longe e isso lhe confere um ar sério demais para um garoto de dez anos. Tudo nele é mais delicado, o nariz pequeno, os lábios tão finos que parecem uma linha apenas, o queixo redondo. Ele era bem fechado na dele, discreto, mas era bom de conversar. Problema era só que ele não gostava muito de falar, e a conversa era basicamente unilateral.

No momento que Danso nos apresentou, eu não me incomodei com o fato, porque eu e Danso falamos a maior parte do tempo, mas no dia seguinte quando ao invés de ir tomar café da manhã com meus tutores como estava acostumada, procurei por Kareem no refeitório, percebi que não seria tão fácil fazer uma nova amizade. O encontrei sozinho na ponta de uma mesa. Nenhuma das outras pessoas que estavam dividindo a mesa com ele, sequer olhavam para seu lado. Ele comia em completo silêncio e isolamento.

- Bom dia Kareem! Que ótimo te encontrar logo cedo, posso me sentar? Ah obrigada. Eu bem ansiosa para nossas sessões de hoje, acredito que finalmente vamos começar a praticar o esporte novo. Depois de tudo o que aprendemos sobre as regras do jogo, sobre quais partes do nosso corpo são trabalhadas e fortalecidas, sobre ser um jogo de trabalho em equipe... E eu sei que basicamente todas as práticas esportivas que já aprendemos aqui desde o segundo ciclo, tem essa característica de serem em equipe. E não estou reclamando, sei muito bem que esses esportes têm essa característica em comum porque é a forma não tão subliminar que a casa conselheira nos ensina da importância de trabalharmos todos juntos para o bem da sociedade, e aprender sobre respeitar as dificuldades de cada um nunca fará mal a ninguém...- Eu já estava tagarelando há pelo menos vinte minutos e nada de Kareem falar algo. Eu fazia pequenas pausas e perguntava o que ele achava sobre o que eu estava falando apenas para ter certeza de que ele ainda me ouvia, e a única prova disso era seu leve menear ou breves acenos de cabeça que ele fazia. O café da manhã já estava acabando e ainda não tinha ouvido uma única palavra de sua boca.

Recolhemos nossas bandejas, levamos para o local adequado onde outros tutelados já fazia a limpeza e organização daquela área, e seguimos até nossa sala para a primeira sessão, e apenas quando chegamos lá e resolvi me sentar ao lado de Kareem foi que percebi que ainda não tinha visto Jabari em lugar nenhum. Uma voz dentro de mim dizia que eu era uma ingrata egoísta, que tinha dispensado Jabari na primeira oportunidade de fazer um novo amigo, mas minha parte racional embora não muito madura, me lembrou que ele mesmo tinha dito que eu deveria encontrar uma amizade da minha idade.

A voz insistia que eu estava sendo relapsa com uma pessoa que eu insistia que era meu amigo. Aquele pensamento me deixou perturbada. Obvio que eu não tive intenção alguma de excluir Jabari da minha vida, mas eu estava magoada ainda com a forma que ele falou comigo, e de como ele e Caius não cansavam de repetir eles não eram meus amigos, eram meus tutores, e agora eu já sabia que nem era por opção, e eles nem ganhavam nada com isso. Finalmente senti paz no meu coração e na minha mente ao chegar a essa conclusão, consegui calar a voz que me repreendia com essa constatação. E decidi: caso Jabari quisesse ser meu amigo, teria que vir até mim, eu já tinha tentado ser amiga dele por tempo demais sem ser correspondida, e muito tempo se considerarmos que além de não me corresponder ele ainda me desestimulava. Não, eu não estava sendo relapsa, egoísta nem nada disso. Eu estava respeitando o espaço que ele e Caius impuseram.

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