Capítulo 45

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Querido, eu vou te encontrar
Querido, eu posso te ouvir me chamando
Querido, eu posso sentir seu coração

Querido, eu vou te encontrar
Só espere um pouco mais
Querido, eu posso te ouvir me chamando
Eu nunca vou te deixar cair- Never let you down, Woodkid

Parecia um sonho, mas ao mesmo tempo não. Eu via meus companheiros ao meu redor, sentados comigo no chão em uma campina florida. Sentado atrás de mim me amparando estava Caius, e ao olhar em seus olhos eu senti vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo, porque a saudade era grande demais. Escorei minha bochecha em seu peitoral e ouvi sua risada em meu ouvido e reverberando em meu peito.

"É uma chorona mesmo"

"Deixa ela, não é culpa dela que nasceu com as glândulas lacrimais frouxas"

Todos riram juntos e era o som mais maravilhoso do mundo. Sentia meu corpo quentinho de uma forma confortável e acolhedora. Vi Kareem sentado à minha frente fazendo carinho na barriga e olhando para mim com amor.

"Nosso bebê quer nascer amor, você ajuda ele a vir ao mundo luz da minha vida?"

Só pude acenar positivamente, a voz embargada demais para responder de outra forma. Senti Jabari a minha direita e Danso a esquerda, ambos beijando e cheirando meu pescoço de forma carinhosa, me incentivando a fazer o que precisava ser feito.

Acorda.

Acordei após ouvir minha loba me direcionando. Ao meu redor, ao invés de ter meus companheiros, vi Lumumba e Lutalo. E conseguia sentir Lumumba fazendo carinho em minha barriga discretamente. Ainda pude ouvir um trecho da conversa antes de notarem que eu havia acordado:

- Foi a coisa mais louca que eu já vivi de longe. Mas foi incrível de uma forma muito profunda.

- Você é um romântico Lutalo, ela tem clã.

- Eu sei que tem, e eu ficaria feliz se...

- O quê? Se ela te escolhesse para o clã dela? Você olhou bem pros companheiros dessa mulher? Ela tem um lobo da Tundra de dois metros para cuidar dela. Acha que você teria uma chance?

- Eu ia dizer que ficaria feliz se um dia tivesse uma companheira tão incrível quanto Ayla. Nunca pretendi que ela me chamasse para seu clã.

- Tem certeza? As vezes eu acho que você não se enxerga mesmo.

- Sabe o que eu acho Lumumba? Que você queria que ela te chamasse para o clã dela. – escuto um esgar debochado vindo de Lumumba, mas a mão continua a fazer carinho despretensiosamente em minha barriga. – Acho que você se sentiu inferior aos companheiros dela por uma insegurança sua. Vive rodeado de mulheres, mas você nunca teve um cais para ancorar seu barco. Para mim você é o romântico, quem está fazendo carinho na barriga com o bebê dos outros é você.

Lumumba tirou a mão imediatamente e retrucou:

- Olha só quem fala, não era você que vinha até aqui igual um cachorrinho sem dono pedir para fazer carinho na barriga dela?

- Sim era, e eu não me envergonho disso, mas não era, nem nunca foi da forma que você fez agora. Eu falava com o bebê, sentia o bebê mexendo, não fazia carinho nela por prazer. Eu sonho em ter um bebê e seria muito bom ter uma companheira também, mas caso não seja possível serei muito feliz de poder ser pai solo também.

Resolvi interromper porque estava começando a sentir coisas confusas.

- Moços obrigada pela ajuda, mas acho que agora preciso me vestir.

- Ayla melhor ficar assim. Liliana nos deu instruções específicas do que fazer agora.

- Está certo, posso vestir um roupão ao menos? Vocês já se vestiram.

- Sim nosso papel acabou, por isso nos vestimos. Seus companheiros pediram que nos conectássemos novamente pela insígnia assim que você acordasse.

- Isso depois de debocharem da nossa cara de mortos.

Olhei de um para o outro sem entender a referência, mas não me importei. Levantei-me nua mesmo, porque depois de me virarem do avesso não havia motivo para pudores, e fui até o banheiro vestir um roupão atoalhado. Voltei para o quarto e senti muita falta de ter roupas dos meus meninos para sentir seus aromas. Peguei as toalhas que já haviam secado, do chão e forrei a cama. Fui até Lumumba e Lutalo e perguntei se eles tinham outra muda de roupas e se aquelas que estavam vestindo podia ser jogada fora depois. Eles não questionaram, saíram do quarto vestidos com novas mudas de roupas e trouxeram suas roupas usadas para mim, até as cuecas. Era isso que minha loba queria. Juntei tudo com as toalhas que já estavam na cama e me aninhei a eles ali naquele espaço.

Minha mente estava em completa confusão, mas meu cerne tinha toda a certeza do mundo de que aquilo era o que eu precisava fazer. Não demorou muito consegui estabelecer a conexão pela insígnia com meus meninos.

"Nossa Deusa se aninhou rapazes, acho que está perto agora"

"Luz da minha vida queria tanto estar aí com você agora"

"Estamos com você em pensamento pequena, seja forte"

"Ayla nunca esteve tão bonita quanto agora, assim aninhada e pronta pra trazer nosso bebê ao mundo, você é a melhor amor"

Eu só podia sentir o carinho deles através das palavras, e sentir o aconchego de Lumumba e Lutalo ao meu redor me amparando naquilo que era possível a eles.

Minha loba ficou inquieta dentro de mim, a eminência de algo a despertando. Eu precisava deixar as coisas acontecerem manter a paz no meu espírito ou não daria certo.

"Lumumba, abaixe a luz por favor, deixe apenas luz indireta" - Pediu Jabari.

Isso realmente ajudou e logo comecei a me mover para encontrar uma posição mais confortável. Não sentia dor, apenas uma inquietação. Fiquei em quatro apoios, mas ainda não era aquilo que eu queria, então me acocorei no centro da cama, em cima das roupas e toalhas, Lumumba de um lado segurando meu braço e Lutalo do outro me apoiando também.

Logo a minha frente podia ver meus meninos em projeção e senti que estava onde precisava estar, olhei Lumumba e Lutalo, concentrados em me ajudar, e senti o puxão forte das costas para barriga e descendo em direção a vagina. Vários puxões fortes e ritmados, não doía era mais como uma pressão que me incentivava a vocalizar. Aos poucos os puxões foram ficando mais próximos até que viraram uma coisa só, intermitente e firme, e eu senti o corpinho escorregando quentinho de dentro de mim. Olhei para baixo e vi a bolsa intacta. Ouvi de Danso:

"Um bebê sereia"

Olhei assustada para ele na projeção que riu e explicou:

"Quando o bebê nasce sem romper a bolsa de líquido amniótico se fala que foi um nascimento de sereia. Você precisa abrir a película com os dedos Vida."

Olhei para o pequeno embrulho na cama, todo quietinho e pacífico, peguei em meu colo, desci com calma da cama e fui até o banheiro. Sentei-me no chão do box sob minhas pernas, apoiei meu presentinho no colo e rompi a película, segurando firme para o bebê não escorregar. O bebê se esticou e abriu calmamente os olhos. Vi com a visão periférica alguém me estendendo uma toalha que eu prontamente enrolei no bebê, mas não antes de confirmar uma coisa. Olhei para cima e vi seis pares de olhos em expectativa me observando, e disse:

- É uma menina!

Do lado de lá da insígnia todos se abraçavam emocionados e eufóricos, parabenizavam uns aos outros e principalmente a Kareem. Do lado de cá Lumumba e Lutalo me ajudavam a levantar do chão, ambos beijaram minha cabeça e me parabenizaram e me abraçaram. Ao estar entre os dois senti tudo ao mesmo tempo e chorei profusamente até desabafar tudo o que vinha em mim, como uma avalanche de sentimentos. A bebê em meu colo com os olhinhos escuros e curiosos me encarava e eu só queria ficar ali presa naquele olhar.

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